Dezenas de adictos que habitam o espaço conhecido como “Cracolândia de Marabá”, localizado ao lado da Rodoviária do Km 6, tem contado nos últimos meses com o apoio de voluntários para alcançar as mínimas condições de uma vida digna. O drama e a vida de dezenas de pessoas que vivem reféns do vício naquele lugar foi retratado pelo CORREIO em sua edição passada e teve grande repercussão entre leitores avulsos e assinantes do jornal.
Quem os ajuda não faz parte de grupo, não carrega bandeira de partido e muito menos tem apoio de órgãos de governo, apenas lançam mão da fé cristã para levar esperança aos dependentes químicos. Até mesmo para conseguir que se identificassem foi difícil. porque dizem levar a sério o que Jesus, fundador do cristianismo, determinou sobre ajudar o próximo: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”, como registrado no capítulo 6 verso 3 do Evangelho Segundo São Mateus.
A líder do pequeno grupo de voluntários é a cabelereira Elza de Souza Soares. Todas as terças-feiras, ela e outras duas irmãs na fé – que não quiseram se identificar, apesar da insistência da reportagem – levam alimentos e roupas para entregar aos moradores da ‘Cracolândia’, como já é conhecido o lugar. “Nós temos nos comovido muito com a situação daquele pessoal, daquelas mulheres e adolescentes. Na verdade, estamos na luta para realmente ajudar, porque a nossa intenção hoje não é só de levar a sopa todas as terças. Queremos acima de tudo dizer com nosso gesto que a esperança não morreu. Afinal de contas, esse é o legado de Jesus”, disse.
Leia mais:Elza revelou à reportagem que tem se dedicado à caridade, porque se sensibilizou com a realidade de muitas pessoas que vivem “escravas desse vício maldito”, como costuma se referir ao crack. O grupo de voluntárias já conseguiu retirar algumas pessoas das bocas de fumo e do vício, levando-as a centros de recuperação. “Uma dessas pessoas foi o seu Marcos. Ele não foi para o centro de reabilitação, mas nós alugamos um quartinho e o tiramos de lá. Com o próprio esforço, ele conseguiu um emprego e agora já consegue viver a vida de maneira independente. Antes ele estava em um estado crítico, nem caminhava mais”, acrescentou.
Para realizar este tipo de trabalho, Elza conta com a colaboração de inúmeras pessoas, que doam alimentos e mantimentos para ajudar no tratamento dos adictos. “Mas, ainda é pouco”, diz. “Queremos apelar para que as autoridades e a sociedade olhem com mais compaixão para essas pessoas. Se tivéssemos um abrigo em Marabá ou uma casa de passagem que fosse poderíamos fazer mais. E voluntários também, que unissem forças conosco”, declara.
Sonho
A história de dependentes e da situação em que vivem nas ruas da cidade foi contada na edição passada do Jornal CORREIO. A reportagem retratou também um pouco da história de Keith Arquisa da Costa de 30 anos. Ela morava na “Cracolândia de Marabá” e foi assassinada na última sexta (4). Segundo Elza, a história de Keith estava rumando para outro caminho, antes da moça se tornar mais uma vítima do mundo das drogas.
“Com a morte da Keith, eu fiquei muito arrasada, muito triste. Eu entrei em estado de choque. Estávamos nos preparando para coloca-la em uma clínica de reabilitação, ela falou que queria ir. Tanto é que já estávamos entrando em contato com a família”, revelou. Conforme informou durante entrevista, o desejo de Keith era receber tratamento, porque admitia que sozinha não conseguiria abandonar o crack.
O antes e o depois de Dione, que está em tratamento
Quando a reportagem conversou com Elza, nesta segunda-feira (7), ela estava retornando de Imperatriz, para onde tem levado, sempre que pode e o pouco recurso deixa, alguns dependentes químicos que consegue convencer a sair das drogas.
“A igreja onde eu congrego aqui em Marabá tem um centro de recuperação lá chamado Comunidade Terapêutica Renascer 1. Nesse última viagem que fizemos, levamos um rapaz para ser tratado. Ele está determinado a abandonar o vício, mas está tendo que lutar muito. Não é fácil para um dependente lagar de uma hora para outra. É preciso ter muita força de vontade. E isso ele demonstra ter”, revelou.
O jovem a quem Elza se refere é Dione Borges, que decidiu dar uma chance a si mesmo após anos de dependência. “Ficamos muito felizes quando chegamos para visitar o Dione e o encontramos bem disposto, cantarolando. Ele ficou muito feliz quando nos viu e correu para abraçar a gente. Sabe, é em momentos como esse que vemos o quanto vale a pena não desistir dessas pessoas”, relata.
Se tudo der certo e Dione completar o tratamento, que dura 9 meses em média, ele retorna para Marabá, mas continuará sendo acompanhado pelas irmãs. “É importante que eles tenham esse acompanhamento para evitar recaída. Estamos nos emprenhando também para arranjar um trabalho para o Dione para que ele tenha com que ocupar seu tempo e principalmente cuidar do próprio sustento e o da família”, conclui.
(Nathália Viegas e Adilson Poltronieri)
fotos:Divulgação
Dezenas de adictos que habitam o espaço conhecido como “Cracolândia de Marabá”, localizado ao lado da Rodoviária do Km 6, tem contado nos últimos meses com o apoio de voluntários para alcançar as mínimas condições de uma vida digna. O drama e a vida de dezenas de pessoas que vivem reféns do vício naquele lugar foi retratado pelo CORREIO em sua edição passada e teve grande repercussão entre leitores avulsos e assinantes do jornal.
Quem os ajuda não faz parte de grupo, não carrega bandeira de partido e muito menos tem apoio de órgãos de governo, apenas lançam mão da fé cristã para levar esperança aos dependentes químicos. Até mesmo para conseguir que se identificassem foi difícil. porque dizem levar a sério o que Jesus, fundador do cristianismo, determinou sobre ajudar o próximo: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”, como registrado no capítulo 6 verso 3 do Evangelho Segundo São Mateus.
A líder do pequeno grupo de voluntários é a cabelereira Elza de Souza Soares. Todas as terças-feiras, ela e outras duas irmãs na fé – que não quiseram se identificar, apesar da insistência da reportagem – levam alimentos e roupas para entregar aos moradores da ‘Cracolândia’, como já é conhecido o lugar. “Nós temos nos comovido muito com a situação daquele pessoal, daquelas mulheres e adolescentes. Na verdade, estamos na luta para realmente ajudar, porque a nossa intenção hoje não é só de levar a sopa todas as terças. Queremos acima de tudo dizer com nosso gesto que a esperança não morreu. Afinal de contas, esse é o legado de Jesus”, disse.
Elza revelou à reportagem que tem se dedicado à caridade, porque se sensibilizou com a realidade de muitas pessoas que vivem “escravas desse vício maldito”, como costuma se referir ao crack. O grupo de voluntárias já conseguiu retirar algumas pessoas das bocas de fumo e do vício, levando-as a centros de recuperação. “Uma dessas pessoas foi o seu Marcos. Ele não foi para o centro de reabilitação, mas nós alugamos um quartinho e o tiramos de lá. Com o próprio esforço, ele conseguiu um emprego e agora já consegue viver a vida de maneira independente. Antes ele estava em um estado crítico, nem caminhava mais”, acrescentou.
Para realizar este tipo de trabalho, Elza conta com a colaboração de inúmeras pessoas, que doam alimentos e mantimentos para ajudar no tratamento dos adictos. “Mas, ainda é pouco”, diz. “Queremos apelar para que as autoridades e a sociedade olhem com mais compaixão para essas pessoas. Se tivéssemos um abrigo em Marabá ou uma casa de passagem que fosse poderíamos fazer mais. E voluntários também, que unissem forças conosco”, declara.
Sonho
A história de dependentes e da situação em que vivem nas ruas da cidade foi contada na edição passada do Jornal CORREIO. A reportagem retratou também um pouco da história de Keith Arquisa da Costa de 30 anos. Ela morava na “Cracolândia de Marabá” e foi assassinada na última sexta (4). Segundo Elza, a história de Keith estava rumando para outro caminho, antes da moça se tornar mais uma vítima do mundo das drogas.
“Com a morte da Keith, eu fiquei muito arrasada, muito triste. Eu entrei em estado de choque. Estávamos nos preparando para coloca-la em uma clínica de reabilitação, ela falou que queria ir. Tanto é que já estávamos entrando em contato com a família”, revelou. Conforme informou durante entrevista, o desejo de Keith era receber tratamento, porque admitia que sozinha não conseguiria abandonar o crack.
O antes e o depois de Dione, que está em tratamento
Quando a reportagem conversou com Elza, nesta segunda-feira (7), ela estava retornando de Imperatriz, para onde tem levado, sempre que pode e o pouco recurso deixa, alguns dependentes químicos que consegue convencer a sair das drogas.
“A igreja onde eu congrego aqui em Marabá tem um centro de recuperação lá chamado Comunidade Terapêutica Renascer 1. Nesse última viagem que fizemos, levamos um rapaz para ser tratado. Ele está determinado a abandonar o vício, mas está tendo que lutar muito. Não é fácil para um dependente lagar de uma hora para outra. É preciso ter muita força de vontade. E isso ele demonstra ter”, revelou.
O jovem a quem Elza se refere é Dione Borges, que decidiu dar uma chance a si mesmo após anos de dependência. “Ficamos muito felizes quando chegamos para visitar o Dione e o encontramos bem disposto, cantarolando. Ele ficou muito feliz quando nos viu e correu para abraçar a gente. Sabe, é em momentos como esse que vemos o quanto vale a pena não desistir dessas pessoas”, relata.
Se tudo der certo e Dione completar o tratamento, que dura 9 meses em média, ele retorna para Marabá, mas continuará sendo acompanhado pelas irmãs. “É importante que eles tenham esse acompanhamento para evitar recaída. Estamos nos emprenhando também para arranjar um trabalho para o Dione para que ele tenha com que ocupar seu tempo e principalmente cuidar do próprio sustento e o da família”, conclui.
(Nathália Viegas e Adilson Poltronieri)
fotos:Divulgação