A manhã desta segunda-feira (11) começou movimentada pela presença de moradores da região do Rio Preto que realizaram manifestação em frente ao Fórum de Marabá, no Núcleo Cidade Nova.
Várias faixas foram penduradas na fachada do prédio para pedir às autoridades que analisem o clamor da comunidade pelo asfaltamento da estrada, que liga várias vilas da zona rural ao centro do município.
O protesto foi motivado pela intimação de representantes das vilas Capistrano de Abreu, Santa Fé, Três Poderes e Brejo do Meio para comparecerem a uma audiência de conciliação com a empresa Mineração Buritirama S.A, que deu entrada em um mandado de reintegração de posse na 2ª Vara Cível e Empresarial da Comarca de Marabá.
Leia mais:A ação judicial movida pela empresa deixou os integrantes do movimento Estrada Rio Preto inconformados, pois, segundo Antônio Dário Gonçalves Costeira, morador da Vila Santa Fé, os manifestantes só querem ter os direitos respeitados. “Nós estamos dando apoio a eles devido ao movimento que surgiu há alguns meses em busca de melhoria da qualidade de vida do povo da região, estamos pedindo o asfaltamento da estrada e nosso movimento é pacífico e ordeiro, mesmo assim tivemos alguns colegas citados no processo”, afirmou.
Outra integrante do protesto, Poliana Santana Lopes, conta que precisa trafegar pela estrada frequentemente para visitar os pais que moram na região, e lembra que o movimento da comunidade nunca se posicionou contra a Buritirama, mas gostaria de ter o apoio da empresa para a manutenção da estrada.
“Inclusive, antes da empresa Buritirama começar a trafegar e escoar o minério a gente já tinha a nossa estrada. Essa estrada é do povo. Nós temos vários produtores, a nossa região é rica, ela só precisa de apoio da Buritirama e da Prefeitura de Marabá para poder realizar nosso tão sonhado objetivo, que é o asfalto”, desabafou, ressaltando que devido ao grande fluxo de caminhões a estrada ficou muito perigosa depois que a mineradora começou a atuar na região.
Uma das fundadoras do movimento, Ana Maria Moreno, confirma que a segurança de quem trafega na Estrada do Rio Preto fica comprometida. Ela perdeu o genro em um acidente ocorrido há 14 anos, provocado por uma caçamba que ultrapassou um caminhão bi trem, entrou na contramão e atingiu a caminhonete em que a família estava.
“É um trauma muito grande porque eu tenho que trafegar direto nessa estrada e cada vez mais é muito mais perigoso, vem acontecendo vários acidentes depois desse, que foi em 2005. Desde essa época nós estamos lutando, já fizemos abaixo assinado para que tenha manutenção e agora até tem, mas o que precisa mesmo é de asfalto”, pediu.
O pedido foi reforçado pelo morador Antônio Dário Gonçalves Costeira. “Estamos aqui lutando para que a nossa voz seja ouvida. Nós precisamos que as autoridades olhem para o problema da região, temos acidentes todos os dias, vidas de jovens que vão para a escola e quando voltam acabam se envolvendo em acidentes. Nós tivemos recentemente um atropelamento perto da Vila Três Poderes, então a gente tá representando essa região todinha e lutando pelo direito a vida e o direito de ir e vir” disse.
ENTENDA O CASO
No dia 22 de outubro deste ano dezenas de motoristas de caminhão fecharam a estrada do Rio Preto, próximo à Vila Zé do Ônibus, localizada a 100 km de Marabá. Os caminhoneiros prestam serviço para a empresa Buritirama por meio de uma terceirizada, retirando cargas de manganês até o pátio de Marabá ou diretamente ao porto de Vila do Conde, em Barcarena. Eles se recusaram a continuar o transporte porque, segundo eles, a mineradora baixou o valor do frete de R$ 160,00 para R$ 120,00 por tonelada (da mina até o porto de Vila do Conde). Para fechar o acesso, os manifestantes colocaram fogo em pneus e informaram que o protesto não teria prazo para acabar.
A empresa, por sua vez, pediu medida protetiva judicial contra novos bloqueios da estrada e deu entrada na 2ª Vara Cível e Empresarial da Comarca de Marabá em um mandado de reintegração de posse em caráter de urgência, que foi parcialmente concedido e publicado no Diário Oficial do Tribunal de Justiça do Pará no dia 25 de outubro.
A ação inibitória determina que os manifestantes “se abstenham de praticar novos bloqueios na área ameaçada e em qualquer área da empresa autora, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) até o limite de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)”.
Ainda segundo o relatório da ação judicial, o mandado anterior não foi cumprido no dia 22 de outubro, data do protesto, “em razão de alegado excesso de mandados distribuídos em plantão judicial, ausência de tempo hábil para cumprimento e falta de veículo para realização da diligência”, e que houve ainda busca pelos manifestantes, porém nenhum foi localizado e que a audiência de conciliação não foi realizada porque nenhum dos representantes dos caminhoneiros compareceu.
A juíza Alessandra Rocha da Silva Souza da 2ª Vara Cível e Empresarial expediu um novo mandado de reintegração de posse e remarcou a audiência de conciliação para esta manhã. (Fabiane Barbosa)