Ana Maria Barrere, de 18 anos, estava nervosa no domingo passado, dia 3 de novembro, quando começou a fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019. Depois da prova, conferiu o resultado em gabaritos extraoficiais e constatou que seu desempenho foi abaixo do que esperava. “Sou bem melhor em Ciências Humanas. Fico só imaginando como irei em Exatas. Tento continuar estudando, mas fiquei totalmente desanimada”, conta.
É comum que o candidato se frustre e perca o ânimo para se dedicar à segunda etapa do Enem. “A gente tem uma meta, cria expectativas, investe tempo e energia durante um ano inteiro, abdica de tantos momentos de lazer, mas aí avalia que não teve o êxito esperado. Isso dá uma desanimada – é uma sensação natural”, explica Thais Monteiro, psicóloga clínica, psicopedagoga e neuropsicóloga.
Segundo a especialista, na adolescência, é ainda mais difícil lidar com a frustração. “Os jovens ainda não têm instrumentos para lidar com a decepção. Muitos choram, se desesperam, ficam fechados, querem desistir de tudo”, diz. “A família precisa ter muita paciência e legitimar esses sentimentos. Não são frescura nem bobeira.”
Leia mais:Para se acalmar, o primeiro passo é pensar que, antes de janeiro, quando os boletins de desempenho serão divulgados, não há como saber qual a pontuação da prova. O Enem é corrigido pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), então o número de acertos não representa a nota final – o sistema prioriza a coerência no desempenho. Se alguém acerta as questões mais difíceis, mas erra aquelas consideradas fáceis, provavelmente “chutou” as respostas. Por isso, terá uma nota inferior à de um estudante que acertou as fáceis, mas errou as mais complexas.
“O aluno pode julgar que não tenha ido bem, mas acabar tirando uma boa nota. Por isso, é preciso focar na prova que ainda não foi feita, em vez de ficar sofrendo pela que já foi” – João Pitoscio Filho, coordenador de química no curso Etapa
Marcelo Pavani, diretor do curso pré-vestibular Oficina do Estudante, lembra também que é normal ter mais facilidade em determina disciplina. “Não pode olhar o resultado do primeiro domingo e se abater. O próximo vai avaliar outras habilidades. É hora de manter a calma e lembrar que há uma nova chance ali. Ainda dá para recuperar a nota”, afirma.
Além disso, não há um número de acertos considerado, por padrão, suficiente para aprovar o candidato em universidades. Uma prova que tenha um nível de dificuldade mais elevado provavelmente alterará as notas de todos os concorrentes e influenciará na média exigida no Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Na família e na escola, a pressão
Outro fator que agrava o sentimento de frustração dos alunos é a pressão social. “Nossa sociedade ainda coloca o momento do Enem e dos vestibulares como um divisor de águas. Para muitos, existem questões de ascensão social e de expectativas de mudança de vida associadas ao ingresso na universidade”, explica Monteiro.
“Não dá para esquecer que é só uma prova. Apesar de difícil, é importante tentar filtrar essas pressões. Se não der para melhorar a nota no segundo domingo, vai ser pelo menos uma experiência útil para a próxima tentativa”, afirma.
E nada de ficar comparando o número de acertos com o dos colegas. “É um esquema competitivo, então não é fácil se blindar. Mas precisa se esforçar para não se abater. É só você com a sua prova, mais ninguém”, complementa a psicóloga.
Práticas saudáveis
Até o momento da prova, é necessário manter a rotina de bons hábitos: alimentação leve e equilibrada, sono regrado. Não adianta se desesperar e tentar estudar até de madrugada na véspera do exame.
“Precisa descansar, fazer uma atividade física, nem que seja uma caminhada. É uma prova que exige concentração e interpretação. Não basta dominar todo o conteúdo, mas não conseguir ter foco para entender o que está sendo perguntado”, afirma Filho, do Etapa.
No domingo, fazer um planejamento pode também colaborar para diminuir a ansiedade pré-prova. “É bom já decidir a que horas vai acordar, que meio de transporte vai usar. Os pais ficam muito nervosos? Melhor então não pegar carona com eles até o local do exame”, aconselha Rafaela Mugnaro, psicóloga do Oficina do Estudante. “Chegar antes, procurar a sala com calma e respirar fundo são boas dicas.”
E o trabalho de combate à ansiedade deve continuar durante a prova. O professor Renato Pellizzari, do Colégio QI (RJ), recomenda que os candidatos façam pequenas pausas a cada 30 questões. “Não precisa ir ao banheiro em todos os intervalos. Pode só alongar os braços, tomar um gole d’água, inspirar e expirar com calma”, diz. “Não é perda de tempo, é um investimento.”
(Fonte:G1)