Estudantes, povos indígenas, movimentos sociais e sociedade civil organizada uniram-se nesta quinta-feira, 17, no Ato Nacional em Defesa da Amazônia. Um encontro emocionante, de representatividade histórico-social e geopolítica, tanto pela escolha de Marabá como cidade sede do primeiro Ato na Amazônia, quanto pela presença de grandes lideranças dos movimentos sociais brasileiros. Durante o evento, ativistas, povos da floresta, sociedade civil e especialistas na área científica e ambiental foram ouvidos, trazendo a público os principais problemas enfrentados na Amazônia, e especialmente na região sudeste do Pará, área que é alvo constante de atentados contra a biodiversidade e comunidades tradicionais.
A programação contou com uma mesa de abertura formada por deputados e líderes políticos e de movimentos sociais. A plenária foi aberta pelo deputado federal Airton Faleiro, idealizador do Fórum Nacional em Defesa da Amazônia. Ele contou como foi o processo que culminou na criação do Fórum. “Inicialmente o fórum surgiu por necessidade, diante dos ataques ao meio ambiente, aos povos da Amazônia, diante do discurso obsceno do governo brasileiro que autoriza esse ataque. A partir disso, muitas iniciativas ocorreram em defesa dos povos da Amazônica. Nós construímos recentemente este fórum com seis partidos da oposição, ambientalistas, parlamentares, organizações populares, sindicatos, academia e ciência”, conta.
Ainda de acordo com Faleiro, é uma emoção ver este movimento ser abraçado e ganhar forças em Marabá, área que protagonizou eventos como a Guerrilha do Araguaia. “O primeiro movimento do Fórum foi o lançamento dele, quando recebemos o cacique Raoni na Câmara Federal, após os ataques do presidente Jair Bolsonaro. Um momento muito simbólico. E hoje estar aqui na Amazônia, que nos permitiu que o primeiro ato fosse aqui no meu estado, o Estado do Pará, na cidade de Marabá, é de uma importância inestimável”, revela.
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Representando o governador do Estado, Helder Barbalho, em discurso na abertura do evento, o secretário regional de Governo, João Chamon Neto, salientou o trabalho do governo do Estado na proteção da Amazônia e direito dos povos tradicionais e a importância desta data, que reuniu autoridades em diferentes pontos da América, para debater o futuro da Amazônia. “O governador está neste momento na Universidade de Princeton, em Nova Jersey, participando da Conferência “Amazônia Leapfrogging”, que vai discutir a importância da Amazônia Para o Brasil e o planeta. Ele é o único representante da Amazônia legal no evento, reiterando nosso compromisso com a defesa da Amazônia”, resume.
Momento de ouvir
Ainda durante a mesa de abertura, a líder da minoria da Câmara dos Deputados Jandira Feghali ressaltou a importância deste tipo de encontro para ouvir as demandas e propostas da sociedade e construir vias coletivas de defesa da Amazônia. “É muito fácil falar sem saber ouvir. Difícil é ouvir e construir coletivamente as ações. Nós falamos muito e isso significa posicionamento público, denúncia, dar opinião, compromisso, mas também significa pedir ajuda, cooperação, pedir que vocês falem para que nós possamos ouvir. Ouvir também é um ato político, significa aprender, trocar. Não somos donos da verdade. Estar hoje em marabá significa que temos muito que aprender com os povos da região. Nossa presença aqui é para vocês saberem que não vamos construir nada sem a presença dos povos da Amazônia”.
Com a palavra as lideranças indígenas
Ubirajara Sompré, representando a Articulação dos Povos indígenas do Brasil, levou a público a urgência de que os direitos indígenas, conquistados a peso de muita luta pelos povos tradicionais, sejam assegurados. “Desde o golpe de 2016, os povos indígenas vêm sofrendo com ameaças e retrocessos aos nossos direitos. Quero dizer que nada foi fácil para os povos indígenas, nunca foi, mas que tenho certeza que dias melhores virão. A constituição que temos hoje não foi o Brasil que nos deu, foi a base da luta dos nossos guerreiros. Até hoje o Brasil teima em não nos respeitar. Hoje, mais de 180 projetos de lei contra os indígenas, PL, processos de emenda constitucional estão tramitando. Nós não precisamos de projeto de mineração, de arrendamento de terra, de política de saúde que só quer hospitalizar. Nós não precisamos desse tipo de projeto, precisamos de respeito, às nossas terras, cultura, educação e saúde indígena”, resume.
A coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas Joenia Wapichana, reiterou a fala de Sompre: “Nós não vamos retroceder! Bolsonaro sai, Cacique Raoni fica. Temos nossos direitos, de cidadãos brasileiros, inclusive o direito a representatividade política. Se estou aqui hoje como deputada federal, a primeira deputada indígena é exercendo um direito, e graças a luta de todos os nossos povos”.
O grande momento do encontro foi a fala de Cacique Raoni. Antes dele se pronunciar, chamou para frente da mesa representantes de povos indígenas da região, que realizaram uma apresentação, puxada pelo próprio Cacique. Após o momento de grande emoção, o líder Kayapó falou: “Não gosto de bandido, não gosto de ladrão e isso é tudo que esse governo defende. Eu sou amigo de vocês, eu não quero prejudicar nenhum de vocês. Vamos nos unir para a gente ter mais força e lutar pela liberdade e pela Amazônia. Luto há muito tempo, até hoje luto, a minha idade já e muito avançada e eu quero que todos vivam e paz e é isso que eu procuro em todas as regiões do brasil, por onde eu vou”.
Além da plenária, a programação do Ato Nacional em Defesa da Amazônia contou com mesas de debates, seguidas por uma caminhada em Defesa da Amazônia, que percorreu as principais vias da cidade até retornar à praça da Folha 16, onde ocorreu o encerramento do evento com uma programação musical. (Bianca Levy)