No início da tarde de ontem (11), os familiares do adolescente infrator Guilherme Vera Motta, de apenas 16 anos, que moram em Parauapebas, reconheceram oficialmente o corpo dele no Instituto Médico Legal (IML) de Marabá. Ele havia fugido do Centro de Internação do Adolescente Masculino (CIAM) no último domingo (6) e seu cadáver foi encontrado boiando no Rio Tocantins no final da manhã de quarta-feira (10). Guilherme foi degolado antes de ter seu corpo lançado às águas.
A curta vida desse adolescente foi atravessada por tragédias para ele, para sua família e principalmente para suas vítimas. Ele era acusado de ter estuprado pelo menos cinco mulheres no Bairro Cidade Jardim, em Parauapebas, e chegou a admitir um dos crimes. Além disso, ele também é acusado de tentar estuprar outro adolescente infrator que estava custodiado com ele no CIAM, conforme relatou o delegado Ivan Pinto da Silva, do Departamento de Homicídios, que investiga o assassinato de Guilherme.
O corpo do jovem foi encontrado boiando nas águas do Rio Tocantins nas proximidades do Lar São Vicente de Paula, na Folha 6, lugar destinado a idosos geralmente sem família. Não se sabe se ele foi morto ali mesmo, se foi jogado da ponte do Rio Tocantins. Não se sabe… O que se sabe é que sua trágica história deveria provocar uma profunda reflexão na sociedade.
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Nas redes sociais, houve gente – e não foi pouca gente – que comemorasse o assassinato do adolescente infrator, sob o mantra que já virou quase um imperativo categórico de que “bandido bom é bandido morto”. Mas, para o delegado Ivan Silva, a situação não é bem assim, afinal de contas quem matou Guilherme ainda está solto e precisa ser preso, ainda que pareça difícil porque há poucas pistas por enquanto. “É um crime de difícil elucidação, sem muitos vestígios”, comentou o delegado.
Outro ponto de reflexão é quanto ao destino dos quatro adolescentes que fugiram do CIAM no domingo. Além de Guilherme, que não está mais entre nós, outros dois já foram apreendidos novamente e voltaram ao CIAM. Um deles conseguiu logo um revólver e roubou 15 celulares em apenas dois dias de liberdade.
Outro, que foi preso no final da tarde de quarta-feira, confessou já ter matado duas pessoas na cidade onde morava antes, mas disse ter sido apreendido acusado de ato infracional análogo ao tráfico de drogas.
Matar resolve?
É óbvio que grande parte dos chamados cidadãos de bem – principalmente os que foram vítimas desses adolescentes em conflito com a lei – se sente aliviada com a prisão e até mesmo com a morte, mas é bom lembrar que os dispositivos mobilizadores de toda essa violência que impregnada na sociedade brasileira não foram cortados junto com o pescoço de Guilherme Vera Motta.
A desagregação familiar, a miséria, o tráfico, o acesso fácil às armas e o consumismo estão mais vivos do que nunca, enquanto grande parte da sociedade clama pelo derramamento de sangue, porque sempre é o sangue do outro. (Chagas Filho)