Maria das Graças, de 70 anos, conta que o marido contraiu um empréstimo, inicialmente, para ser utilizado em uma cirurgia de retirada da vesícula da esposa. Após isso, passou a ser assediado por uma instituição que o induziu a fazer mais empréstimos. Atualmente, do benefício que recebe do INSS, ele consegue sacar apenas R$ 400 mensais. “Não dá nem pra comprar os remédios dele”, observa ela.
Maria assume que a primeira quantia era necessária, mas que depois a situação virou uma bola de neve. “Ele se obrigou a fazer o empréstimo por causa de doença e nem bem acabou de fazer e receber o dinheiro todo a mulher ligou pra ele pra informar que ele tinha a chance de faze outro empréstimo, que ele tinha a oportunidade de ainda receber não sei quanto”, diz.
Raimundo Fabrício Filho há quatro anos paga parcelas de um empréstimo contraído que parece nunca acabar. “Foi R$ 1.000 (parcela) e todo o tempo é isso, às vezes até mais, R$ 1.015, e todo mês chega esse boleto pra mim. Se pudesse pagava de uma vez, mas a gente não pode, então tô pagando R$ 1.000 faz quatro anos. Eles ainda me ligaram dizendo que iam mandar um cartão de crédito e eu nem desbloqueei, mas ainda tão descontando esse R$ 1.000, toda a vida, nunca acaba”, relata.
Leia mais:As histórias foram compartilhadas na manhã desta quinta-feira (10), durante uma palestra realizada no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Bairro Jardim América, ministrada pela coordenadora Geral em Exercício do Procon em Parauapebas, Mariana Maia Mergulhão, com o objetivo de orientar os idosos sobre o perigo de se contrair empréstimos, como os consignados que muitas vezes acabam gerando superendividamento deles.
Mariana informou a eles quais circunstâncias devem ser avaliadas antes de se optar pela contratação desta modalidade de serviço. Os idosos devem sempre avaliar se realmente é necessário o empréstimo e se ele cabe no orçamento, além de calcular quanto a renda vai ser reduzida com a prestação a ser paga e pesquisar a menor taxa de jutos.
Ela explicou à plateia que os dados do INSS são desprotegidos, então é comum que eles sejam vazados e cheguem às mãos dos bancos. “Você tem seu benefício no INSS e ele é pago pelo banco fulano de tal. O banco sabe quanto você recebe, seu nome, endereço, telefone e começa a ligar para oferecer empréstimo, dizendo ter tantos reais para oferecer, oferecendo cartão consignado. É bombardeio e muitas vezes o beneficiário do INSS não consegue receber nem o primeiro benefício de forma integral porque antes do primeiro ele já contratou empréstimo”, explica.
Conforme Mariana, é compreensível que em eventualidades, como doenças ou reformas de casas, estas pessoas apelem para esta possibilidade, mas ela precisa ser sempre bem pensada. “A gente entende que por vezes, por algum motivo, precisa e não tem dinheiro, mas muitas vezes ele (o idoso) é levado a contratar sem nenhuma necessidade pontual para aquilo, então é necessário resistir a essas abordagens”.
Caso seja necessária a contratação, a gerente destaca que ao adquirir crédito os idosos precisam saber que não pode ser exigida a compra de um produto, como, por exemplo, seguro e título de capitalização, o que caracteriza venda casada e é ilegal.
Outra dica é nunca adquirir crédito com pessoas estranhas na rua, em casa ou por telefone, assim como não assinar contatos ou documentos sem a presença de familiares ou de pessoas de total confiança e não permitir que outras pessoas façam empréstimo em seu nome, além de jamais fornecer senhas de cartão de banco ou cartão para ninguém.
“Quantos idosos chegam e reclamam que não fizeram o empréstimo e quando a gente checa toda a documentação descobre que o filho fez, o neto fez, então tenham cuidado com os dados pessoais e não cedam à pressão de nenhum tipo, nem que seja ente querido, porque se vier o prejuízo e a pessoa não conseguir arcar com a prestação é o seu nome que vai ficar restrito, que vai ficar sujo, e é o seu benefício que vai ser descontado todo mês”, alerta.
Conforme Mariana, há um limite percentual que pode ser consignado no benefício da aposentadoria, justamente para tentar garantir que os beneficiários sejam privados de renda, mas as instituições financeiras arrumam outras formas de oferecer cada vez mais dinheiro a eles, visando lucrar com o retorno.
“O empréstimo pessoal também é perigoso porque os bancos fazem em nome dos idosos e quando o dinheiro do benefício cai, antes de vocês sacarem seus valores, eles já apreendem o valor que está na conta, chega a um ponto que a renda não consegue pagar mais as suas dívidas e é isso que chamamos de superendividamento”, explicou.
Por fim, ela lembrou que não há empresa ‘boazinha’ e que é sempre necessário redobrar a atenção quando o assunto é dinheiro. “As empresas olham na frente e a intenção delas é lucro, ganhar dinheiro, então todo dia tem um crédito mais facilitado que outro. Ela quer clientes e nós somos bombardeados com isso todo o tempo, hoje em dia é fácil obter crédito, mas é necessário cuidado porque o crédito é fácil, mas não é fácil pagar”.
Luzimar Rosa de Araújo já utilizou os serviços do Procon em outra ocasião. No caso dela, teve problemas com a companhia de energia. “Foi na casa do meu filho trocar o padrão, aí eles tiraram o relógio e deixaram a taxa mínima, depois voltaram e colocaram o relógio no mesmo padrão aí jogaram uma multa de R$ 4.500, mas graças a Deus e à minha coragem e sabedoria fui ao Procon e consegui deixar em R$ 1.900 e pouco, parcelei e ainda não terminei de pagar”, contou, acrescentando ter acompanhado a palestra para se inteirar mais sobre o assunto.
“Tudo de bom que ouvi aqui vou colocar em prática, é importante pra gente para que a cada dia a gente fique tendo mais sabedoria de como a gente pode lidar com as coisas da vida”, finalizou. Na próxima segunda-feira, dia 14, a palestra ocorre no CRAS do Bairro Rio Verde, no dia 21 no Bairro dos Minérios, no dia 25 no Bairro Betânia e no dia 29 no Jardim Tropical. (Luciana Marschall e Theiza Cristhine)