Se você quer tirar o agrotóxico dos alimentos que compra, saiba que não existe um método 100% eficaz, segundo todos os especialistas ouvidos pelo G1.
Isso porque existem resíduos que podem estar na casca de frutas e legumes, que são mais fáceis de serem retirados, e também existem resquícios de medicamentos e agrotóxicos que podem estar dentro do organismo de frutas, hortaliças e animais abatidos, que não são possíveis de serem eliminados.
“É possível eliminar de 80 a 90% do que está na superfície do alimento. O que entrou, está lá na polpa, não tem como retirar”, explica o clínico geral e nutrólogo Roberto Navarro.
Leia mais:O professor de toxicologia da Universidade de São Paulo (USP) Ernani Pinto explica que isso não significa correr riscos de intoxicação. O motivo é que existem legislações que impõem limites que seriam toleráveis para consumo dos resíduos desses produtos químicos (leia mais abaixo).
Mas, se nenhuma técnica é 100% eficiente para eliminar esses resquícios, pelo menos é possível diminuir a chance de ingeri-los. Veja técnicas básicas do dia a dia que podem ajudar.
Frutas, verduras e hortaliças
Uma técnica muito comum e que já é feita nas residências pode ajudar a diminuir a ingestão de resíduos: deixar o produto de molho em água misturada com vinagre, ou bicarbonato de sódio ou água sanitária.
Segundo o professor Ernani Pinto, essas três misturas garantem uma preservação maior do alimento, destroem bactérias e podem retirar restos de produtos químicos também.
Para fazer a mistura:
- 1 litro de água filtrada;
- 1 colher de sopa de bicarbonato de sódio ou 1 colher de café de hipoclorito (água sanitária) ou 2 colheres de vinagre;
Depois:
- Deixar frutas, hortaliças e legumes de molho entre 30 minutos e uma hora;
- Lavar em água corrente e armazenar.
Já o Ministério da Saúde orienta que o período de molho seja de 15 minutos, enquanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sugere que o consumidor deixe frutas e hortaliças de molho por 20 minutos.
Para frutas e legumes com casca recomenda-se lavar o alimento com uma esponja nova com detergente.
De olho na origem
A Anvisa recomenda que você opte por alimentos que tenham a identificação do produtor no rótulo.
Por meio de um QR Code (código que pode ser lido pela câmera do celular, por exemplo), essas embalagens permitem saber a origem do alimento e, inclusive, questionar quais pesticidas foram usados.
A identificação faz parte de uma legislação de rastreabilidade do Ministério da Agricultura, implementada em 2018 e que todos os produtores de frutas e hortaliças deverão seguir até agosto de 2021.
Prefira alimentos da época
Outra orientação é, sempre que possível, adquirir alimentos de agricultores orgânicos (que não usam produtos químicos), assim como os chamados alimentos “da época” (safra), que costumam receber, em média, carga menor de pesticidas.
Na última avaliação de resíduos de agrotóxicos da Anvisa, de 2016 (veja abaixo), a laranja foi o produto com mais resquícios, que podem estar tanto dentro da fruta como na casca.
O professor de agronomia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Jacinto Batista explica que produtores de frutas e hortaliças utilizam tanto agrotóxicos de contato (que ficam na casca) quanto os que entram na fruta (defensivos sistêmicos), na produção convencional.
Na análise da Anvisa, nos casos da laranja, do abacaxi e da maçã, a maior parte dos resíduos estava na superfície.
Dá para saber pela aparência?
O toxicologista da USP Ernani Pinto diz que, visualmente, não dá para detectar a presença de agrotóxicos em frutas e hortaliças. Segundo ele, nenhuma característica da casca pode garantir se aquele produto está com resíduos de pesticidas ou não.
Portanto, não é possível determinar um fruto que tenha resíduos apenas na casca ou apenas na polpa.
Também não dá para detectar resíduos de agrotóxicos pelo paladar ou pelo cheiro dos alimentos.
E os medicamentos nas carnes?
No caso das carnes bovina, suína, de porco e de peixe, e do leite, o único método para garantir uma ingestão menor de resíduos de medicamentos veterinários, se eles estiverem presentes, é por meio do cozimento.
Ernani Pinto, da USP, explica que medicamentos mais sensíveis, como o grupo de antibióticos das amoxicilinas, são sensíveis ao calor, podendo ser eliminados em altas temperaturas. Além de retirar resíduos, o fogo mata bactérias e evita a salmonela.
Caso você queira comer um desses produtos cru, como peixes e carne bovina, a recomendação é checar muito bem a procedência.
Na última avaliação de resíduos de medicamentos veterinários nas carnes, feita pelo Ministério da Agricultura em 2018, das 12.495 amostras analisadas, 55 não estavam dentro do padrão da legislação, o que equivale a 0,44%.
Dessas carnes, a de peixe chamou atenção, já que 16 de 59 amostras apresentaram limites acima dos permitidos.
Como funciona o limite de resíduos?
O Brasil possui legislação específica, fiscalizada pelo Ministério da Agricultura e pela Anvisa, sobre o limite máximo de resíduos de agrotóxicos e medicamentos veterinários que cada produto deve ter.
Segundo Ernani Pinto, os índices são baseados em estudos científicos que não encontraram efeitos à saúde consumir as carnes, frutas e hortaliças tratadas com pesticidas e medicamentos, se os alimentos respeitarem os parâmetros estabelecidos pela lei.
Por isso que os limites de resíduos se tornaram fundamentais para garantir a segurança alimentar da população.
Ambientalistas afirmam, porém, que o Brasil é mais permissivo em comparação a outros países, pois os estudos se baseariam na falta de evidências de problemas à saúde e não à comprovação de que não faz mal.
Já a indústria de agroquímicos e as agências reguladoras em todo o mundo garantem que, desde que consumidos em limites baixos e aplicados nas plantações conforme manda a lei, os agrotóxicos são seguros para a saúde humana.
Outro ponto importante é que os produtores rurais precisam seguir um período de carência após a aplicação do produto químico antes de colher o alimento ou levar o animal para o abate. Essa informação consta na bula do produto que o agropecuarista usou.
As indústrias compradoras e o ministério devem analisar se esse período foi respeitado antes de vender ao consumidor. (Fonte:G1)