Hoje, dia 21 de setembro, é comemorado o Dia da Árvore. A imagem de uma castanheira está presente no Brasão do município de Marabá. Não por acaso. Os frutos dessa árvore foram, por mais de sessenta anos, a principal fonte de renda e economia da cidade. Da década de 1920 até 1970 milhares de pessoas chegaram a este município para retirar o sustento de suas famílias na coleta e venda do fruto, considerado ouro marrom da floresta.
Como município da Amazônia, Marabá tem pouco a comemorar. A cidade é quente e o número de árvores na área urbana é muito pequeno. As que existem vão sendo derrubadas para dar lugar a empreendimentos “modernos”.
Com exceção da Marabá Pioneira, todos os núcleos da cidade abrigam castanheiras, a maioria remanescente dos castanhais que foram sendo dizimados ao longo das décadas. Uma pesquisa realizada por um grupo de jornalistas de Marabá aponta que na área urbana haja mais de 100 castanheiras ainda, mas algumas delas estão morrendo, apesar de existir lei que proíba a derrubada de castanheira.
Leia mais:A relação entre elas e a comunidade é bastante conflitante, porque os novos bairros provocaram uma invasão sobre as florestas e a derrubada de muitas delas foi inevitável. A maioria das que escaparam está agonizando e pedindo socorro para que sejam preservadas.
Uma revista da Associação Marabaense de Letras, que contou com algumas edições, começou a ser editada na década de 1920, e teve como diretor o ilustre Dr. Inácio de Souza Moitta. Na capa, um trocadilho com o nome científico da árvore popular: “Marabá – excelsa homenagem à Bertholletia Excelsa”.
E não era apenas nas primeiras publicações. Jornais, revistas e livros que se surgiram nos anos e décadas seguintes tinham, que obrigatoriamente, retratar a grandiosidade da produção de castanha do município de Marabá, considerado o maior exportador da amêndoa no Brasil.
Na cidade, tudo respirava castanha e os adjetivos derivados dela. As costureiras trabalhavam para os donos de castanhais, os comerciantes vendiam para eles e seus trabalhadores e os cabarés aguardavam a chegada dos castanheiros ávidos por gastar o saldo de uma safra bem-sucedida com alegria e farras.
Muitas famílias ficaram ricas em Marabá com o simples transporte ou mesmo comercialização com o principal centro econômico do Estado que recebia a produção de castanha-do-pará: Belém.
Dilema no SESI
O Sesi vive uma dicotomia. Embora seja a entidade com maior número de árvores dentro e fora de sua sede, no Novo Horizonte, há duas castanheiras entre o estacionamento e a Avenida Tocantins, as quais começam a oferecer perigo. Elas são relativamente novas. Foram plantadas como parte de uma ação educativa com alunos, mas não deveriam porque quando começam a dar fruto o ouriço é capaz de causar graves acidentes. E uma delas está dando este ano seu primeiro fruto. Motoristas estacionam seus veículos embaixo dela e muitos pedestres – boa parte alunos do próprio SESI – passam embaixo todos os dias. Quando ela crescer mais nos próximos anos, e uma maior quantidade de frutos estiver no pé, o risco de acidente será maior ainda.
Procurada pela Reportagem do CORREIO na última terça-feira, a gerente do SESI em Marabá, Soraia Remor, levou um susto ao ser informada que duas castanheiras com cerca de seis metros de altura embelezavam a entrada da instituição.
Ela disse que nos próximos dias vai enviar ofício à Secretaria Municipal de Meio Ambiente para que esta dê um parecer oficial com alternativas para não derrubar as árvores e, ao mesmo tempo, proteger os transeuntes.
Também procurado pela Reportagem, o presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Jorge Bichara, disse que está “diretamente envolvido com estas duas castanheiras na porta do Sesi. “Já as percebi plantadas desde a época em que eu tomava café numa panificadora que havia em frente ao Sesi. Eu as protejo desde aquele tempo. Já briguei com muita gente por causa delas. Pode olhar que aquela à esquerda de quem entra no Sesi tem uma grande cicatriz no tronco embaixo. Foi uma escavadeira que fez. Quase fui às vias de fato com o tratorista da prefeitura à época. Eu as olho todas as vezes que passo por lá. Estão lindas e lá devem ficar. Não vi os ouriços ainda mas estou muito feliz”, disse Bichara.
No Bairro da Paz, querem arrancar o “mal” pela raiz
Sete menos cinco é igual a dois. A matemática é bem simples e pode ajudar a entender como alguns moradores do Bairro da Paz tratam a flora urbana. Das sete castanheiras que haviam ali quando chegaram por intermédio de ocupação, três foram envenenadas e duas sofreram com anelamento (cortes profundos à altura de 1,5 metro.
A castanheira em questão está localizada em frente à chácara de Lúcia de Barros, filha do antigo proprietário da área, Manoel de Barros, bem no centro do Bairro da Paz. Ali, em verdade, há duas castanheiras. Uma delas teve a sorte de ficar do lado de dentro dos muros de uma residência e o dono não tem cometido nenhum tipo de dano à árvore até o momento.
A outra, infelizmente, ficou no meio da rua, com sua copa levando “perigo” para duas casas, onde há crianças. Há ali perto, também um campinho de futebol onde crianças e adolescentes disputam “peladas” no final da tarde e aos finais de semana em dois turnos.
Como sempre, os que moram por perto clamam para que a árvore seja retirada. O biólogo Fábio Reis fez, da Unifesspa, avaliação da castanheira e notou que ela foi danificada com veneno há cerca de dois anos. Depois, para garantir que morreria mesmo, colocaram fogo ao redor do tronco, consumindo boa parte de sua parte rígida. (Ulisses Pompeu)
Hoje, dia 21 de setembro, é comemorado o Dia da Árvore. A imagem de uma castanheira está presente no Brasão do município de Marabá. Não por acaso. Os frutos dessa árvore foram, por mais de sessenta anos, a principal fonte de renda e economia da cidade. Da década de 1920 até 1970 milhares de pessoas chegaram a este município para retirar o sustento de suas famílias na coleta e venda do fruto, considerado ouro marrom da floresta.
Como município da Amazônia, Marabá tem pouco a comemorar. A cidade é quente e o número de árvores na área urbana é muito pequeno. As que existem vão sendo derrubadas para dar lugar a empreendimentos “modernos”.
Com exceção da Marabá Pioneira, todos os núcleos da cidade abrigam castanheiras, a maioria remanescente dos castanhais que foram sendo dizimados ao longo das décadas. Uma pesquisa realizada por um grupo de jornalistas de Marabá aponta que na área urbana haja mais de 100 castanheiras ainda, mas algumas delas estão morrendo, apesar de existir lei que proíba a derrubada de castanheira.
A relação entre elas e a comunidade é bastante conflitante, porque os novos bairros provocaram uma invasão sobre as florestas e a derrubada de muitas delas foi inevitável. A maioria das que escaparam está agonizando e pedindo socorro para que sejam preservadas.
Uma revista da Associação Marabaense de Letras, que contou com algumas edições, começou a ser editada na década de 1920, e teve como diretor o ilustre Dr. Inácio de Souza Moitta. Na capa, um trocadilho com o nome científico da árvore popular: “Marabá – excelsa homenagem à Bertholletia Excelsa”.
E não era apenas nas primeiras publicações. Jornais, revistas e livros que se surgiram nos anos e décadas seguintes tinham, que obrigatoriamente, retratar a grandiosidade da produção de castanha do município de Marabá, considerado o maior exportador da amêndoa no Brasil.
Na cidade, tudo respirava castanha e os adjetivos derivados dela. As costureiras trabalhavam para os donos de castanhais, os comerciantes vendiam para eles e seus trabalhadores e os cabarés aguardavam a chegada dos castanheiros ávidos por gastar o saldo de uma safra bem-sucedida com alegria e farras.
Muitas famílias ficaram ricas em Marabá com o simples transporte ou mesmo comercialização com o principal centro econômico do Estado que recebia a produção de castanha-do-pará: Belém.
Dilema no SESI
O Sesi vive uma dicotomia. Embora seja a entidade com maior número de árvores dentro e fora de sua sede, no Novo Horizonte, há duas castanheiras entre o estacionamento e a Avenida Tocantins, as quais começam a oferecer perigo. Elas são relativamente novas. Foram plantadas como parte de uma ação educativa com alunos, mas não deveriam porque quando começam a dar fruto o ouriço é capaz de causar graves acidentes. E uma delas está dando este ano seu primeiro fruto. Motoristas estacionam seus veículos embaixo dela e muitos pedestres – boa parte alunos do próprio SESI – passam embaixo todos os dias. Quando ela crescer mais nos próximos anos, e uma maior quantidade de frutos estiver no pé, o risco de acidente será maior ainda.
Procurada pela Reportagem do CORREIO na última terça-feira, a gerente do SESI em Marabá, Soraia Remor, levou um susto ao ser informada que duas castanheiras com cerca de seis metros de altura embelezavam a entrada da instituição.
Ela disse que nos próximos dias vai enviar ofício à Secretaria Municipal de Meio Ambiente para que esta dê um parecer oficial com alternativas para não derrubar as árvores e, ao mesmo tempo, proteger os transeuntes.
Também procurado pela Reportagem, o presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Jorge Bichara, disse que está “diretamente envolvido com estas duas castanheiras na porta do Sesi. “Já as percebi plantadas desde a época em que eu tomava café numa panificadora que havia em frente ao Sesi. Eu as protejo desde aquele tempo. Já briguei com muita gente por causa delas. Pode olhar que aquela à esquerda de quem entra no Sesi tem uma grande cicatriz no tronco embaixo. Foi uma escavadeira que fez. Quase fui às vias de fato com o tratorista da prefeitura à época. Eu as olho todas as vezes que passo por lá. Estão lindas e lá devem ficar. Não vi os ouriços ainda mas estou muito feliz”, disse Bichara.
No Bairro da Paz, querem arrancar o “mal” pela raiz
Sete menos cinco é igual a dois. A matemática é bem simples e pode ajudar a entender como alguns moradores do Bairro da Paz tratam a flora urbana. Das sete castanheiras que haviam ali quando chegaram por intermédio de ocupação, três foram envenenadas e duas sofreram com anelamento (cortes profundos à altura de 1,5 metro.
A castanheira em questão está localizada em frente à chácara de Lúcia de Barros, filha do antigo proprietário da área, Manoel de Barros, bem no centro do Bairro da Paz. Ali, em verdade, há duas castanheiras. Uma delas teve a sorte de ficar do lado de dentro dos muros de uma residência e o dono não tem cometido nenhum tipo de dano à árvore até o momento.
A outra, infelizmente, ficou no meio da rua, com sua copa levando “perigo” para duas casas, onde há crianças. Há ali perto, também um campinho de futebol onde crianças e adolescentes disputam “peladas” no final da tarde e aos finais de semana em dois turnos.
Como sempre, os que moram por perto clamam para que a árvore seja retirada. O biólogo Fábio Reis fez, da Unifesspa, avaliação da castanheira e notou que ela foi danificada com veneno há cerca de dois anos. Depois, para garantir que morreria mesmo, colocaram fogo ao redor do tronco, consumindo boa parte de sua parte rígida. (Ulisses Pompeu)