O Pará tem os três municípios mais violentos para os adolescentes do Norte do país, segundo o levantamento Homicídios na Adolescência no Brasil – 2014, divulgado hoje, quarta-feira (11), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), um dia antes de ser comemorado do Dia das Crianças. Em toda a região, os índices mais elevados neste sentido correspondem Belém, Altamira e Parauapebas. Ariquemes, em Rondônia, foi o único município do Norte a registrar um valor superior a 6.
As informações referentes a estas mortes foram obtidas por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/DATASUS) e as informações sobre população procedem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram analisados os 300 municípios brasileiros com população acima de 100 mil habitantes.
Dentre os 15 municípios paraenses que aparecem no levantamento, Marabá tem o quinto índice mais elevado: 4,26 em 2013 e 3,22 em 2014. No primeiro ano, com população estimada em 35.925 de adolescentes com idade entre 12 e 18 anos, o número esperado de mortes foi de 21. Em 2014, com 35.988 jovens de mesma idade, o número total esperado de mortes foi de 15.
Leia mais:Santarém, com população adolescente maior – 43.438 em 2013 e 43.031 em 2014 – atingiu índices de 0,50 e 0,98, com número total de mortes esperado de três e seis em cada ano, respectivamente. Parauapebas, com população de 23.133 (2013) e 23.459 (2014) registrou sete e 13, revelando aumento no índice de 2,29 para 4,19.
O maior índice do estado é registrado em Marituba. A cidade – com 14.786 habitantes com idade entre 12 e 18 anos – registrou 23 mortes em 2013, atingindo índice de 11,25. No ano seguinte o índice caiu para 6,74, com 13 mortes dentre 14.800 adolescentes. Belém – a nona capital brasileira com maior índice de homicídio de adolescentes em 2014 – registrou índices de 5,62 e 5,32, com 131 mortes para 167.541 habitantes na faixa etária em 2013 e 123 homicídios para 164.711 habitantes em 2014.
Em relação à evolução do índice de homicídios na adolescência por município, entre 2005 e 2014, Marabá apresentou queda. Em 2005, o IHA era de 5,58 e em 2014 de 3,22. Neste meio tempo, no entanto, houve alguns picos, chegando a 8,26 em 2008. Parauapebas não apresenta resultados neste quesito. Marabá trilha o caminho de toda a Região Norte – que apresenta a terceira maior incidência no país em 2014 -, experimentando uma tendência crescente entre 2005 e 2010 e continuando, a partir daí, num mesmo patamar e com pequenas reduções.
O cálculo do IHA incorpora homicídios declarados, mortes por intervenção legal, aquelas decorrentes de confrontos com a polícia, e estimativa de mortes por intencionalidade desconhecida, cuja causa pode ter sido homicídio. O valor nacional do IHA para os 300 municípios com população acima de 100 mil habitantes em 2014 é 3,65, o que significa que a cada mil adolescentes que completam 12 anos, 3,65 são assassinados antes de chegar aos 19.
Para os responsáveis pelo estudo, este valor é elevado, considerando que uma sociedade não violenta deveria apresentar valores não muito distantes do 0 inferiores a 1. Por outro lado, o levantamento destaca que é preocupante observar que em 2014, nacionalmente, houve aumento em relação a 2013 e, ainda mais grave, que o valor de 2014 é o maior da série desde que começou os índices começaram a ser monitorados, em 2005.
“Essa alta incidência de violência letal significa que, se as circunstâncias que prevaleciam em 2014 não mudarem, aproximadamente 43.000 adolescentes serão vítimas de homicídio no Brasil entre 2015 e 2021, apenas nos municípios com mais de 100.000 habitantes”, assinala o estudo. Há que se analisar, ainda, que este fenômeno não se distribui de forma homogênea no território nacional, como o exemplo da Região Nordeste, que tem apresentado panorama assustador de crescimento. A Região Sudeste, por outro lado, experimentou redução do índice entre os anos de 2005 e de 2011, quando se verificou novo aumento.
QUEM MORRE
O estudo analisou também o impacto de diferentes dimensões como sexo, raça/cor, idade e meio utilizado sobre o risco de morte por homicídio para os adolescentes. Para o ano de 2014, o risco relativo por sexo é igual a 13,52, ou seja, considerando o conjunto dos municípios com mais de cem mil habitantes, os adolescentes do sexo masculino têm um risco 13 vezes superior de morrer por homicídio comparados às adolescentes de sexo feminino.
Na mesma relação, o risco relativo por cor/raça foi de 2,88. Em suma, o risco de um adolescente negro morrer por homicídio é quase três vezes superior ao dos adolescentes brancos. A relação entre violência letal e classe social, por um lado, e entre essa última e cor, por outro, sugere fortemente a possibilidade de que o risco de homicídio seja três vezes maior para os negros.
Para o mesmo conjunto da população, as faixas de idade de 19 a 24 anos e de 25 a 29 anos são as duas únicas faixas com risco superior aos adolescentes, com um risco, respectivamente, 79% e 20% mais elevado. Para o conjunto da população dos municípios com mais de 100 mil habitantes, o risco relativo por arma de fogo foi de 6,11. Significa que o risco de um adolescente ser morto por uma arma de fogo foi pelo menos seis vezes superior ao de morrer vítima de homicídio por outros meios.
POSICIONAMENTO
O Correio de Carajás procurou no início desta tarde a assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará (Segup), a qual informou que ainda está analisando os dados apresentados para então se posicionar. (Luciana Marschall)
O Pará tem os três municípios mais violentos para os adolescentes do Norte do país, segundo o levantamento Homicídios na Adolescência no Brasil – 2014, divulgado hoje, quarta-feira (11), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), um dia antes de ser comemorado do Dia das Crianças. Em toda a região, os índices mais elevados neste sentido correspondem Belém, Altamira e Parauapebas. Ariquemes, em Rondônia, foi o único município do Norte a registrar um valor superior a 6.
As informações referentes a estas mortes foram obtidas por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/DATASUS) e as informações sobre população procedem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram analisados os 300 municípios brasileiros com população acima de 100 mil habitantes.
Dentre os 15 municípios paraenses que aparecem no levantamento, Marabá tem o quinto índice mais elevado: 4,26 em 2013 e 3,22 em 2014. No primeiro ano, com população estimada em 35.925 de adolescentes com idade entre 12 e 18 anos, o número esperado de mortes foi de 21. Em 2014, com 35.988 jovens de mesma idade, o número total esperado de mortes foi de 15.
Santarém, com população adolescente maior – 43.438 em 2013 e 43.031 em 2014 – atingiu índices de 0,50 e 0,98, com número total de mortes esperado de três e seis em cada ano, respectivamente. Parauapebas, com população de 23.133 (2013) e 23.459 (2014) registrou sete e 13, revelando aumento no índice de 2,29 para 4,19.
O maior índice do estado é registrado em Marituba. A cidade – com 14.786 habitantes com idade entre 12 e 18 anos – registrou 23 mortes em 2013, atingindo índice de 11,25. No ano seguinte o índice caiu para 6,74, com 13 mortes dentre 14.800 adolescentes. Belém – a nona capital brasileira com maior índice de homicídio de adolescentes em 2014 – registrou índices de 5,62 e 5,32, com 131 mortes para 167.541 habitantes na faixa etária em 2013 e 123 homicídios para 164.711 habitantes em 2014.
Em relação à evolução do índice de homicídios na adolescência por município, entre 2005 e 2014, Marabá apresentou queda. Em 2005, o IHA era de 5,58 e em 2014 de 3,22. Neste meio tempo, no entanto, houve alguns picos, chegando a 8,26 em 2008. Parauapebas não apresenta resultados neste quesito. Marabá trilha o caminho de toda a Região Norte – que apresenta a terceira maior incidência no país em 2014 -, experimentando uma tendência crescente entre 2005 e 2010 e continuando, a partir daí, num mesmo patamar e com pequenas reduções.
O cálculo do IHA incorpora homicídios declarados, mortes por intervenção legal, aquelas decorrentes de confrontos com a polícia, e estimativa de mortes por intencionalidade desconhecida, cuja causa pode ter sido homicídio. O valor nacional do IHA para os 300 municípios com população acima de 100 mil habitantes em 2014 é 3,65, o que significa que a cada mil adolescentes que completam 12 anos, 3,65 são assassinados antes de chegar aos 19.
Para os responsáveis pelo estudo, este valor é elevado, considerando que uma sociedade não violenta deveria apresentar valores não muito distantes do 0 inferiores a 1. Por outro lado, o levantamento destaca que é preocupante observar que em 2014, nacionalmente, houve aumento em relação a 2013 e, ainda mais grave, que o valor de 2014 é o maior da série desde que começou os índices começaram a ser monitorados, em 2005.
“Essa alta incidência de violência letal significa que, se as circunstâncias que prevaleciam em 2014 não mudarem, aproximadamente 43.000 adolescentes serão vítimas de homicídio no Brasil entre 2015 e 2021, apenas nos municípios com mais de 100.000 habitantes”, assinala o estudo. Há que se analisar, ainda, que este fenômeno não se distribui de forma homogênea no território nacional, como o exemplo da Região Nordeste, que tem apresentado panorama assustador de crescimento. A Região Sudeste, por outro lado, experimentou redução do índice entre os anos de 2005 e de 2011, quando se verificou novo aumento.
QUEM MORRE
O estudo analisou também o impacto de diferentes dimensões como sexo, raça/cor, idade e meio utilizado sobre o risco de morte por homicídio para os adolescentes. Para o ano de 2014, o risco relativo por sexo é igual a 13,52, ou seja, considerando o conjunto dos municípios com mais de cem mil habitantes, os adolescentes do sexo masculino têm um risco 13 vezes superior de morrer por homicídio comparados às adolescentes de sexo feminino.
Na mesma relação, o risco relativo por cor/raça foi de 2,88. Em suma, o risco de um adolescente negro morrer por homicídio é quase três vezes superior ao dos adolescentes brancos. A relação entre violência letal e classe social, por um lado, e entre essa última e cor, por outro, sugere fortemente a possibilidade de que o risco de homicídio seja três vezes maior para os negros.
Para o mesmo conjunto da população, as faixas de idade de 19 a 24 anos e de 25 a 29 anos são as duas únicas faixas com risco superior aos adolescentes, com um risco, respectivamente, 79% e 20% mais elevado. Para o conjunto da população dos municípios com mais de 100 mil habitantes, o risco relativo por arma de fogo foi de 6,11. Significa que o risco de um adolescente ser morto por uma arma de fogo foi pelo menos seis vezes superior ao de morrer vítima de homicídio por outros meios.
POSICIONAMENTO
O Correio de Carajás procurou no início desta tarde a assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará (Segup), a qual informou que ainda está analisando os dados apresentados para então se posicionar. (Luciana Marschall)