Um grande aparato de Segurança Pública, comandado pela Polícia Militar, foi empregado na manhã de hoje, terça-feira (10), para cumprimento de um mandado de reintegração de posse em favor da empresa Nova Carajás Construções e Incorporações Ltda, em Parauapebas. A área, no Loteamento Nova Carajás, foi ocupada há aproximadamente três anos e as famílias vinham desenvolvendo atividade agrícola no local.
O major Major Lima Neto, da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), da Polícia Militar, se deslocou de Belém para coordenar a ação, que contou com apoio de forças policiais de Parauapebas e Marabá, além de Corpo de Bombeiros e da Celpa, para desligamento seguro da energia. De acordo com ele, cerca de 60 famílias estavam vivendo na área ocupada.
“A princípio houve resistência, mas com diálogo conseguimos reverter e eles se tornaram pacíficos. Estão sendo retirados os utensílios e estamos demolindo as construções e reintegrando a área”, disse, respondendo, ao ser questionado pela Reportagem, que as plantações – a maioria de hortaliças – também serão destruídas.
Leia mais:“As plantações estão sendo retiradas porque isso vai ser loteado, os órgãos estão aqui para dar cumprimento e está havendo questionamento normal porque há um laço com a terra, por estarem morando aqui há algum tempo”, concluiu, informando que em alguns casos a empresa pagará aluguel social.
Tristeza e falta de rumo
Há dois anos Jair Trindade da Fonseca saiu de Tailândia para morar na casa construída pelo sobrinho e trabalhar na área. “É um momento de tristeza porque a gente tinha outros planos, a gente ia criar uns peixes e ia fazer um negócio bonito aqui, mas praticamente foi por água abaixo”, afirmou, informando que pretende seguir para a VS-10, onde outras pessoas irão acolhê-lo.
Ainda segundo ele, os ocupantes foram notificados de que deveriam sair até esta data, mas imaginavam que o prazo não seria seguido à risca. “A gente não esperava que fosse agora, mas aconteceu hoje e a gente vai sair numa boa”.
Edmilson Rodrigues, presidente da associação do Vale do Axixá, conta que também vinha trabalhando na área, plantando hortaliças há três anos, e que as famílias tinham a expectativa de que a área ocupada fosse da União. “Mas aí hoje chega os policiais com ordem judicial para tirar o pessoal à força, deixando mais de 40 famílias desempregadas, passando fome e necessidade, aumentando o número de desempregados em Parauapebas e no país”, lamentou, chamando a atenção das autoridades.
“Que hajam para que a gente não fique também na condição onde milhões de brasileiros estão, que é passando fome. A gente tá vivendo com o que a gente planta aqui”, declarou. O mesmo reforça Fabilciana da Silva, no local também há três anos. “Não temos outra alternativa e viemos para cá para poder plantar e manter nossa família, não tenho outra profissão. Vim fazer isso que é o que eu sei fazer e gosto de fazer, tenho meus filhos para manter e tô aqui porque preciso”.
Ela afirma não saber para onde ir nesta terça-feira. “O que sei fazer é isso aqui, só falaram que fariam a retirada a partir de hoje e disse que era para as pessoas se prepararem para sair, mas sair pra onde?”, questiona. O Correio de Carajás enviou mensagem para o escritório local da empresa abrindo espaço para posicionamento, mas não houve retorno até o momento. (Luciana Marschall – com informações de Gabriela Penalber)