Correio de Carajás

Polícia do Pará deixa escapar principal suspeito por maior área desmatada da Amazônia

POLÍCIA DO PARÁ DEIXA ESCAPAR PRINCIPAL SUSPEITO POR MAIOR ÁREA DESMATADA DA AMAZÔNIA

Localizada na divisa entre os municípios de São Félix do Xingu e Altamira, no Pará, a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu deveria ser rebatizada — de proteção ambiental não tem nada. De todas as regiões da Amazônia que arderam ou ainda estão queimando neste ano, nenhuma se compara em tamanho à área visitada por ÉPOCA na última semana de agosto. Um único trecho de 3.730 hectares de floresta, equivalentes a 23 parques Ibirapuera, em São Paulo, ou 31 aterros do Flamengo, no Rio de Janeiro, simplesmente desapareceu.

O desmatamento ali ocorria havia pelos menos cinco meses, mas foi somente na véspera do encontro dos líderes do G7, quando o aumento no número de queimadas neste ano ganhava as manchetes da imprensa internacional, homens do Ibama e da Polícia Militar do Pará deram início a uma fiscalização na região, na Fazenda Ouro Verde. Foram encontradas motosserras (14 delas), espingardas (7), motos (19) e cerca de 50 homens, trabalhadores braçais que se dividiam em 11 acampamentos no meio da mata. Alguns haviam levado a mulher. Até duas crianças na faixa dos 3 anos de idade viviam ali, em condições precárias.

Mas o Ibama e a polícia paraense não conseguiram chegar ao principal suspeito pelo desmatamento. A figura conhecida na região pelo curioso e até irônico apelido de Geraldinho Palmeira, que comprou a área no começo do ano, fugiu sem ser perseguida. “A gente estava no meio da mata, e ele passou correndo dentro de uma caminhonete. Nem tivemos tempo de pará-lo”, contou um policial que participou da ação.

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Ao fugir, deixou para trás quatro tratores, que foram apreendidos pelos fiscais. Mas o prejuízo não durou muito tempo. O motorista de uma carreta da prefeitura de São Félix do Xingu que se dirigia à fazenda — surpreendentemente sem uma escolta armada — foi abordado na estrada por homens e disse ter escapado da morte porque um deles era seu conhecido.

Como os agentes não tinham como transportar todos os tratores, os veículos foram deixados na fazenda para serem retirados no dia seguinte. Quando voltaram, os equipamentos não estavam mais lá. Nem mesmo o grupo de 50 trabalhadores braçais foi levado a uma delegacia. A justificativa foi a ausência de um ônibus para percorrer os 250 quilômetros até a sede do município. As motosserras, motos e espingardas garantiam provas e fotos do trabalho de fiscalização realizado.

Na última quinta-feira 29,  a polícia identificou três suspeitos de provocar queimadas na região e cumpriu mandados de busca e apreensão na casa deles. Até o fechamento desta reportagem, contudo, o principal suspeito, Geraldinho, estava livre para continuar a rotina de desmatamento.

(Fonte:G1)