Três moradias foram removidas pelo Departamento Municipal de Postura na manhã de hoje, quarta-feira (28), no Bairro Francisco Coelho, conhecido popularmente como Cabelo Seco, na Marabá Pioneira. As residências estão localizadas na Rua 27 de Março, que termina no encontro dos rios Tocantins e Itaicaunas, onde a cidade começou a ser povoada.
Conforme o coordenador de Postura, Túlio Rosemiro, às famílias que estão sendo removidas será pago, por enquanto aluguel social, e a retirada é necessária para que seja dado início às obras de infraestrutura portuária e de proteção das margens de ambos os rios, continuando do final da Orla Sebastião Miranda.
“A remoção aqui é para a continuação da orla, onde vai ser feio o “V”, com o mirante. A obra estava prevista para iniciar em julho, mas como o rio não estava baixando precisou ser adiada e agora será feita”, informou, acrescentando não saber, ainda, se as pessoas serão mantidas com aluguel social, se serão construídas novas casas em outros locais ou compradas residências para elas. O certo é que não serão mais moradores do mesmo local. “Não poderão voltar, lamentavelmente porque é às margens do rio, mas estamos agora limpando para dar continuidade nas obras”, comentou.
Leia mais:Maria de Fátima Salazar Santos, de 42 anos, uma das moradoras que deixou a casa, afirmou que já aguardava a remoção porque havia sido informada meses antes pelo Departamento de Postura. “Fomos avisados, não fomos surpreendidos. Vieram antes, avisaram que ocorreria e não teve confusão, estão dizendo que vão passar a orla aqui”, declarou, acrescentando viver com dois filhos. “Estamos procurando local por aqui mesmo pra não ter que sair do bairro”.
Raimundo Coelho de Sousa, de 74 anos, entretanto, sentia-se desolado em ter que deixar a casa em que morou por vários anos e argumentou que não esperava pela remoção. “Tão derrubando já, dizendo que vão fazer uma praça nesse lugar. Não avisaram antes, vieram ontem (terça), mandaram tirar os bagulhos e foram derrubando, tiramos o que deu e já derrubaram a maior parte da casa”, afirmou.
Ele arranjou um lugar próximo que foi alugado pela Prefeitura Municipal de Marabá, mas se diz preocupado em relação ao futuro. “São três casas nossas que eu sou o responsável, derrubaram as três e não disseram nada, só perguntaram pra onde eu ia e na última hora arranjei um lugar. Perguntei, quando terminar a orla, vão me botar pra onde? Ele disse que não tem ideia, provavelmente não volto mais pra cá e não tenho pra onde ir”, reclamou.
A sobrinha dele, Raimunda Alves Rodrigues de Souza, de 51 anos, relembra outros moradores que foram removidos da mesma rua por conta da erosão dos rios e até hoje não tiveram definição sobre a situação. “Estão há sete anos vivendo de aluguel (social) e nunca deu a definição de nada, vão viver a vida toda de aluguel? Com prefeito pagando aluguel? Eu acharia justo se a prefeitura fizesse ou comprasse casa e desse pra eles, mas estão há sete anos do mesmo jeito. Agora vão tirar meu tio que viveu a vida toda naquela casa”, comentou.
Ela vive em uma das moradias do tio, que foram removidas. “Não invadi terreno, foi comprado e pago, se me indenizassem tudo bem. Não acho justo o que estão fazendo, tá bacana, precisa fazer a obra, precisa, mas não estou achando justo. Se ele marcasse reunião com esse povo e indenizasse ou dissesse que ia comprar uma casinha, tudo bem”, finalizou.
Construção deve iniciar agora em setembro
Em contato com o secretário municipal de Viação e Obras Públicas (Sevop), Fábio Cardoso Moreira, nesta manhã, ele informou faltar baixar alguns centímetros dos rios para que possa ser iniciada a construção do muro de arrimo, prevista para este mês de setembro. A ordem de serviço foi assinada em março do ano passado.
A licitação para a elaboração de projeto e execução das obras foi vencida pela Cejen Engenharia Ltda., que ofertou o valor global de R$ 42.170.000,00. No início de agosto o secretário explicou ao Correio de Carajás que houve demora para que o projeto estivesse apto à execução porque a responsável pela formulação era a empresa licitada, porém a Prefeitura Municipal de Marabá é quem deve aprová-lo, tendo sido pedidas algumas alterações até a aprovação final.
Conforme o secretário, a PMM contratou a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), ligada à Universidade Federal do Pará (UFPA), para consultoria em Engenharia Civil e verificação dos projetos estruturais e geotécnicos, além de acompanhamento das obras de infraestrutura. A versão final foi aprovada ao término de 2018.
Por questões orçamentárias, a construção será dividida em três etapas e iniciada na Marabá Pioneira, sendo que o Ministério da Integração depositou 30% do valor total na conta da PMM. O projeto engloba, ainda, os bairros Folha 33 e Amapá. “Serão três frentes de serviço porque se houver recurso paralisado, inclusive por mudança no governo federal, a gente não fica com serviço pela metade. Conforme for avançando a gente pede nova parcela de 30% e conforme o governo federal for depositando vamos continuando as obras”, explicou Moreira no início do mês de agosto.
O projeto engloba apenas 1.320 metros de muro para contenção da erosão e não será executada urbanização e nem mureta, ao menos neste momento. Isso quer dizer que não deve ser aguardada para breve uma orla como a já conhecida na Marabá Pioneira. (Luciana Marschall e Karine Sued)