Começam a ser gravadas no próximo dia 10 as cenas do curta “A Guerreira Gavião”, filme de Robson Messias Lucas Santos, de Bom Jesus do Tocantins, um dos 15 selecionados da sexta edição do Projeto Revelando Brasis, realizado pelo Instituto Marlin Azul, com patrocínio da Petrobras e parceria da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.
Roteiros de todo o Brasil foram inscritos no ano passado e o paraense divide com um texto do Tocantins o palco nortista. Já neste ano, Robson Messias esteve no Rio de Janeiro participando de oficinas de Roteiro, Direção, Produção, Fotografia, Som, Edição, Direção de Arte, Direitos Autorais, Mobilização e Pesquisa.
“Estudamos tudo que faz parte do cinema para trabalhar e produzir o filme. A ideia do festival é que todo mundo que participa seja alguém que não tenha feito filmes ainda, que sejam iniciantes, desde o elenco”, comentou o roteirista, que tem a missão de adaptar a história escolhida em até 15 minutos.
Leia mais:A história a ser contada chama a atenção por ter sido inspirada em uma antiga história do Povo Gavião desta região. Segundo Robson Messias, foi na Aldeia Parkatejê, localizada na Terra Indígena Mãe Maria, que ele ouviu os indígenas contando acerca de uma grávida que teve o bebê roubado às margens da rodovia que corta a reserva, atualmente BR-222.
“Estou entre Bom Jesus, Abel Figueiredo e Marabá há bastante tempo, há muito tempo percorro essa região e observo que os indígenas – os guerreiros e guerreiras Gavião – são realmente guerreiros. São as pessoas que ainda mantém a nossa flora e fauna em pé. Ainda resistem. Eu ouvi essa história por muito tempo e agora decidi trabalhá-la, junto aos guerreiros Gavião e em homenagem também ao grande chefe”, afirma, se referindo ao cacique Kokrenum, conhecido como Capitão, cuja morte completou um ano neste mês.
O roteiro do filme parte desse fato, relatado ao longo dos anos, para mostrar um pouco da cultura Gavião. A atriz principal é Kuiapa Joprypramre, de 20 anos, da Aldeia Parkatejê, que na vida adulta dá rosto ao bebê roubado na beira da estrada. “A ocasião é uma indígena gestante, na rotina dela da aldeia. Enquanto a mulheres iam buscar lenha para fazer a comida ela acaba ficando para trás e sente dores de parto naquele momento. Passava um casal que viu ela sozinha. Os dois, em vez de irem socorrê-la e leva-la para a aldeia, pegam a bebê e vão embora”, explica.
Passados 17 anos, segue Robson Messias, o bebê torna-se uma jovem que começa a questionar os traços diferentes do restante da família. “Ela está na escola e sempre preocupada porque a mãe dela era branca e não tinha nada a ver com ela. Os colegas apontavam isso e ela chega em casa e começa a questionar. Até que ela e um amigo resolveram pesquisar e detectaram que ela era indígena por causa dos traços e por causa de uma manta que foi levada com ela quando ainda era bebê. Ela sempre tinha um sonho e sempre via a manta que depois descobriu no armário da mãe”.
Por meio das características desta manta ela consegue descobre que o tecido era proveniente dos Guerreiros Gavião que vivem no Norte, no sul e sudeste do Pará, e ela viaja para esta região, em busca das aldeias, alcançando a comunidade Parkatejê. “Ela chega em um momento de festa e a história se desenrola”.
PRIMEIRA VEZ
A atriz, Kuiapa Joprypramre, demonstra empolgação em atuar pela primeira vez e, principalmente, em tratar da história de seu povo. “É a primeira vez que vou participar de um filme e estou muito feliz por ser a primeira indígena Gavião, então vou estar mostrando um pouco da história do meu povo e conhecendo um pouco da experiência do branco, que mora em cidades grandes. Estou feliz e agradecida”, diz.
Ainda segundo ela, toda a aldeia está com as expectativas elevadas para as gravações. “O restante da comunidade também está empolgado e, para mim, é muito importante mostrar um pouco da nossa cultura tanto para nós mesmos quanto, porque muito está se perdendo, quanto para os brancos”.
PRODUÇÃO
Robson Messias explica que o prazo para conclusão do curta é dezembro, obedecendo ao que consta no regulamento do projeto. “Depois disso vamos participar de três festivais com o filme já produzido, em Tiradentes, Niterói e São Paulo. Se recebermos boas pontuações podemos ir até além, para fora do país”, destaca. Toda a equipe, entre elenco e parte técnica, soma 40 integrantes que irão trabalhar arduamente por quatro dias nas filmagens.
Messias acrescenta que a seleção da produção – assim como de outras do interior do Brasil – acende um debate em torno da descentralização da produção cinematográfica no país. “O eixo Rio-São Paulo é o que detém financiamento para cinema. Em um debate em que estávamos entre vários cineastas colocamos na mesa que isso tinha que alcançar as demais regiões e já conseguimos um avanço grande porque a Ancine (Agência Nacional do Cinema), no próximo ano, pretende investir R$ 100 milhões na região Norte. Já começamos a pensar nestas pessoas que estão trabalhando aqui”.
O roteirista convidou para participar, ainda, o ator, compositor e artesão João Mourão da Silva que já participou de filmes locais, sendo o mais recente “O Sentido da Vida”, de Cristiano Rabelo. “É uma forma de englobar toda a região e a ideia é não parar. É o primeiro filme, um curta, com o qual a gente participa desse festival, mas a gente já possui outros dois projetos para o próximo ano serem trabalhados aqui na região”.
PROJETO
O projeto Revelando os Brasis busca a formação e inclusão audiovisuais de produtores de pequenas cidades. Pode participar qualquer pessoa maior de 18 anos e que viva em municípios com até 20 mil habitantes. Após passarem pelas oficinas e realizarem os filmes.
Ao término da edição, as obras são reunidas em um circuito de exibição aberto e gratuito pelos municípios participantes e pelas capitais dos estados integrantes da edição. Ou seja, o filme poderá ser visto – assim como os demais participantes – aqui na região em que foi produzido. Os curtas também serão veiculados em um programa especial no Canal Futura. Por fim, os selecionados recebem box de DVDs com as histórias, para que sejam distribuídos em escolas e outras organizações sociais. (Luciana Marschall)
Começam a ser gravadas no próximo dia 10 as cenas do curta “A Guerreira Gavião”, filme de Robson Messias Lucas Santos, de Bom Jesus do Tocantins, um dos 15 selecionados da sexta edição do Projeto Revelando Brasis, realizado pelo Instituto Marlin Azul, com patrocínio da Petrobras e parceria da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.
Roteiros de todo o Brasil foram inscritos no ano passado e o paraense divide com um texto do Tocantins o palco nortista. Já neste ano, Robson Messias esteve no Rio de Janeiro participando de oficinas de Roteiro, Direção, Produção, Fotografia, Som, Edição, Direção de Arte, Direitos Autorais, Mobilização e Pesquisa.
“Estudamos tudo que faz parte do cinema para trabalhar e produzir o filme. A ideia do festival é que todo mundo que participa seja alguém que não tenha feito filmes ainda, que sejam iniciantes, desde o elenco”, comentou o roteirista, que tem a missão de adaptar a história escolhida em até 15 minutos.
A história a ser contada chama a atenção por ter sido inspirada em uma antiga história do Povo Gavião desta região. Segundo Robson Messias, foi na Aldeia Parkatejê, localizada na Terra Indígena Mãe Maria, que ele ouviu os indígenas contando acerca de uma grávida que teve o bebê roubado às margens da rodovia que corta a reserva, atualmente BR-222.
“Estou entre Bom Jesus, Abel Figueiredo e Marabá há bastante tempo, há muito tempo percorro essa região e observo que os indígenas – os guerreiros e guerreiras Gavião – são realmente guerreiros. São as pessoas que ainda mantém a nossa flora e fauna em pé. Ainda resistem. Eu ouvi essa história por muito tempo e agora decidi trabalhá-la, junto aos guerreiros Gavião e em homenagem também ao grande chefe”, afirma, se referindo ao cacique Kokrenum, conhecido como Capitão, cuja morte completou um ano neste mês.
O roteiro do filme parte desse fato, relatado ao longo dos anos, para mostrar um pouco da cultura Gavião. A atriz principal é Kuiapa Joprypramre, de 20 anos, da Aldeia Parkatejê, que na vida adulta dá rosto ao bebê roubado na beira da estrada. “A ocasião é uma indígena gestante, na rotina dela da aldeia. Enquanto a mulheres iam buscar lenha para fazer a comida ela acaba ficando para trás e sente dores de parto naquele momento. Passava um casal que viu ela sozinha. Os dois, em vez de irem socorrê-la e leva-la para a aldeia, pegam a bebê e vão embora”, explica.
Passados 17 anos, segue Robson Messias, o bebê torna-se uma jovem que começa a questionar os traços diferentes do restante da família. “Ela está na escola e sempre preocupada porque a mãe dela era branca e não tinha nada a ver com ela. Os colegas apontavam isso e ela chega em casa e começa a questionar. Até que ela e um amigo resolveram pesquisar e detectaram que ela era indígena por causa dos traços e por causa de uma manta que foi levada com ela quando ainda era bebê. Ela sempre tinha um sonho e sempre via a manta que depois descobriu no armário da mãe”.
Por meio das características desta manta ela consegue descobre que o tecido era proveniente dos Guerreiros Gavião que vivem no Norte, no sul e sudeste do Pará, e ela viaja para esta região, em busca das aldeias, alcançando a comunidade Parkatejê. “Ela chega em um momento de festa e a história se desenrola”.
PRIMEIRA VEZ
A atriz, Kuiapa Joprypramre, demonstra empolgação em atuar pela primeira vez e, principalmente, em tratar da história de seu povo. “É a primeira vez que vou participar de um filme e estou muito feliz por ser a primeira indígena Gavião, então vou estar mostrando um pouco da história do meu povo e conhecendo um pouco da experiência do branco, que mora em cidades grandes. Estou feliz e agradecida”, diz.
Ainda segundo ela, toda a aldeia está com as expectativas elevadas para as gravações. “O restante da comunidade também está empolgado e, para mim, é muito importante mostrar um pouco da nossa cultura tanto para nós mesmos quanto, porque muito está se perdendo, quanto para os brancos”.
PRODUÇÃO
Robson Messias explica que o prazo para conclusão do curta é dezembro, obedecendo ao que consta no regulamento do projeto. “Depois disso vamos participar de três festivais com o filme já produzido, em Tiradentes, Niterói e São Paulo. Se recebermos boas pontuações podemos ir até além, para fora do país”, destaca. Toda a equipe, entre elenco e parte técnica, soma 40 integrantes que irão trabalhar arduamente por quatro dias nas filmagens.
Messias acrescenta que a seleção da produção – assim como de outras do interior do Brasil – acende um debate em torno da descentralização da produção cinematográfica no país. “O eixo Rio-São Paulo é o que detém financiamento para cinema. Em um debate em que estávamos entre vários cineastas colocamos na mesa que isso tinha que alcançar as demais regiões e já conseguimos um avanço grande porque a Ancine (Agência Nacional do Cinema), no próximo ano, pretende investir R$ 100 milhões na região Norte. Já começamos a pensar nestas pessoas que estão trabalhando aqui”.
O roteirista convidou para participar, ainda, o ator, compositor e artesão João Mourão da Silva que já participou de filmes locais, sendo o mais recente “O Sentido da Vida”, de Cristiano Rabelo. “É uma forma de englobar toda a região e a ideia é não parar. É o primeiro filme, um curta, com o qual a gente participa desse festival, mas a gente já possui outros dois projetos para o próximo ano serem trabalhados aqui na região”.
PROJETO
O projeto Revelando os Brasis busca a formação e inclusão audiovisuais de produtores de pequenas cidades. Pode participar qualquer pessoa maior de 18 anos e que viva em municípios com até 20 mil habitantes. Após passarem pelas oficinas e realizarem os filmes.
Ao término da edição, as obras são reunidas em um circuito de exibição aberto e gratuito pelos municípios participantes e pelas capitais dos estados integrantes da edição. Ou seja, o filme poderá ser visto – assim como os demais participantes – aqui na região em que foi produzido. Os curtas também serão veiculados em um programa especial no Canal Futura. Por fim, os selecionados recebem box de DVDs com as histórias, para que sejam distribuídos em escolas e outras organizações sociais. (Luciana Marschall)