Prestou depoimento na manhã de hoje, quarta-feira, 21, na 20ª Seccional Urbana de Parauapebas, Antonilson Moreira Silva, de 36 anos, pai do menino Alisson Andrade Silva, de um ano e seis meses, que foi assassinado a facadas no dia 4 deste mês, após uma confusão originada por uma dívida de R$ 50,00 que ele tinha com Emivaldo Costa, conhecido como “Seu Nego”, acusado de matar a criança.
Antonilson, que também levou uma facada no peito durante a tentativa de tirar o filho das mãos de “Seu Nego”, recebeu alta há uma semana do Hospital Geral de Parauapebas, onde ficou internado. Ele conta que a facada perfurou o pulmão dele.
“Os médicos disseram que se eu tivesse demorado mais um pouco a chegar no hospital, também tinha morrido”, diz o homem, que ainda fala com dificuldades porque sente dores.
Leia mais:O assassinato da criança aconteceu no PA Raylândia, próximo à Vila Albani, zona rural de Marabá, mas geograficamente mais próximo de Parauapebas. O crime chocou a comunidade local e teve grande repercussão pela crueldade e por se tratar de uma criança ainda de colo.
Antonilson conta que pegou R$ 50,00 emprestado de Emivaldo e ainda não tinha conseguido dinheiro para pagá-lo. No dia do crime, ele relata que encontrou com o acusado e se justificou, dizendo que tão logo conseguisse o valor, o pagaria.
“Eu ainda falei que se ele quisesse receber com serviço eu faria uma diária na roça dele. Ele concordou comigo, dizendo que ia precisar fazer aceiros na propriedade. Eu fiquei tranquilo. Ele ainda me convidou para beber na casa de um amigo, porque ele tinha comprado um litro de pinga”, afirma Antonilson.
Segundo ele, por volta de 21 horas, seguiu para a casa desse amigo de “Seu Nego”, mas chegando lá a casa estava fechada. “Eu bati na porta e veio uma mulher e informou que o rapaz estava dormindo e ela não ia chamar porque não queria mais barulho na casa dela. Eu dei meia volta e quando estava voltando escutei “Seu Nego” batendo na porta e querendo entrar na casa. Eu voltei e conversei com ele para não fazer isso e deixar a mulher em paz. Depois disso, voltei para casa. Cheguei em casa e minha mulher perguntou o que estava acontecendo porque escutou um barulho. Eu disse que nada. Pouco depois chegou ‘Seu Nego’ e já começou a me xingar, dizendo que eu não era homem e queria naquela hora o dinheiro dele”, detalha.
Ainda de acordo com Antonilson, ele foi conversar com Emivaldo, mas o homem estava transtornado. “Eu não sei se ele tinha usado droga, mas estava muito estranho. Nessa hora, ele tentou pegar no braço da minha mulher, que gritou, dizendo que ele ia matá-la. Eu corri para pegar meu facão e foi nesse momento que ele correu e conseguiu entrar na casa e pegou meu filho, que estava dormindo em um colchão na sala”.
Ele lembra que “Seu Nego” colocou a faca no pescoço da criança e disse que agora tinha um refém. Um vizinho dele, ao ver a cena, pegou uma espingarda e disse para ele largar a criança que o pagaria.
“Meu vizinho falou que o pagaria no dia seguinte, mas ele disse que não tinha acordo e queria o dinheiro naquela hora. Depois ele disse que se eu quisesse meu filho, que fosse pegar. Eu me aproximei dele e ele me atingiu com uma facada. Eu falei: ‘você me matou’. Ele, de forma fria, afirmou que já que tinha me matado, ia matar meu filho também e deu a facada. O vizinho então atirou nele, mas ele ainda deu outra facada no meu filho e o jogou no chão. Eu, já meio fraco, ainda corri em cima dele e cortei ele também, mas parei ao ver meu filho arquejando no chão”, diz Antonilson.
Ele recorda que pegou o filho e ficou com a criança no colo. “Seu Nego”, mesmo ferido, conseguiu fugir do local. “Pouco depois chegou outro vizinho e nos socorreu, nos trazendo para Parauapebas. Eu estava muito fraco e já não tinha mais consciência de nada. Eu não lembro quando meu filho morreu. Só fui informado da morte dele após cinco dias no hospital”, enfatiza.
Antonilson garante que agora só quer justiça pela morte do filho. Ele assegura que não irá fazer justiça com as próprias mãos, mas espera que seu “Seu Nego”, que está preso, pague pelo crime.
“Meu filho era só uma criança e morreu daquela forma covarde e bárbara. Agora, só quero justiça”, afirma, observando que as pessoas na comunidade estão temerosas que o acusado consiga liberdade e volte para fazer mal a outras pessoas, já que saiu de lá, no dia do crime, ameaçando matar todo mundo. (Tina Santos – com informações de Ronaldo Modesto)