Marabá amanhece mais um dia sem que haja acordo entre o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do Sul e Sudeste do Pará (Sintrarsul) e as empresas Nasson Tur Turismo e TCA Transporte, responsáveis pelo transporte urbano da cidade. Nesta quarta-feira (3), oito dias após deflagrada a greve, apenas 60% da frota está rodando e graças a uma decisão judicial determinando este mínimo de veículos nas ruas. Ao todo, 25 veículos estão circulando.
Nesta manhã, Antônio Francisco Oliveira, primeiro secretário do Sintrarsul, sustenta que as empresas não apresentaram propostas concretas para solucionar os atrasos salariais dos funcionários. “A reivindicação são os pagamentos em dia, a empresa não sinalizou acordo e estamos aguardando”, declarou.
Conforme ele, há probabilidade de ocorrer nesta quinta-feira (4) uma reunião com o gestor municipal, Tião Miranda, com o interventor das empresas, a gerência delas, o sindicato e os trabalhadores para que a situação seja debatida em busca de uma solução. “Até o momento a empresa não sinalizou com proposta, não tivemos avanço. A gente pede desculpas à população pelo movimento, mas ele é necessário tanto para o trabalhador receber os salários quanto para a população ter transporte de qualidade”, finalizou.
Leia mais:As empresas defendem terem proposto aos trabalhadores que em 60 dias seria feito um aporte de capital para quitar os atrasos salariais, acrescentando que vêm fazendo pagamentos diariamente a partir do faturamento que, conforme o gerente das empresas, João Martins, tem sido baixo.
“A Justiça determinou operar com 60% da frota e a proposta continua a mesma, o que estamos fazendo é o pagamento dos trabalhadores com a pequena renda que está entrando. A frota está reduzida e o faturamento caiu drasticamente, estamos cumprindo o que foi acertado, de pagar 40% da folha todos os dias, para isso estamos deixando de pagar fornecedores “.
Pela queda do faturamento, ele acusa a concorrência no transporte em Marabá, alegando que os ônibus dividem espaço com mototaxistas, taxistas e motoristas de transporte por aplicativo, além da própria greve. “Estamos trabalhando com a pequena renda que entra diariamente e a intenção de pagar sempre houve. É uma pequena minoria que está fazendo greve, a maioria está trabalhando sem problemas”. Sobre novas conversas, ele diz que as empresas estão tentando agendar reunião com o prefeito e secretários municipais.
RESCISÃO DE CONTRATO
Na tarde da última segunda-feira (1º), um dia antes da greve completa uma semana, a Prefeitura Municipal de Marabá divulgou nota informando ter tomado providências junto à Procuradoria Geral do Município (Progem) determinando instauração de processo administrativo em desfavor das empresas com o objetivo de rescindir os contratos vigentes.
Hoje, quarta, procurada pela equipe do Portal Correio de Carajás, a assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal de Marabá, que a questão está em adiantado processo e que a Progem está juntando documentos para judicializar a causa.
Com isso, defende a Prefeitura Municipal, um estudo de nova concessão será feito para contratação de outra empresa que preste serviço de transporte público para a população de Marabá. A decisão foi tomada depois de muitos meses de embate entre funcionários e as empresas e, consequentemente, paralisações e greves que prejudicam a população local.
APOIO
Em nota oficial, o PSOL de Marabá se solidarizou com os trabalhadores do transporte coletivo da cidade. “Como podem estes trabalhadores e trabalhadoras saírem de casa todos os dias para trabalhar como se nada estivesse acontecendo?”, questiona o posicionamento, acrescentando que a greve dos rodoviários é justa.
“É a melhoria do transporte coletivo que está em jogo, pois a melhoria passa pela valorização dos profissionais do transporte público. A população de Marabá merece transporte de qualidade e os rodoviários precisam receber seus salários, todo apoio a greve”, diz trecho mais contundente da nota oficial do partido.
O PSOL critica, ainda, o serviço prestado pelas empresas de transporte coletivo, citando como exemplo o fato de a frota ser velha e vez por outra apresentar problemas, prejudicando trabalhadores e estudantes; além das horas e horas de espera nas paradas de ônibus. E tem mais: “A empresa coloca diariamente apenas 43 ônibus para toda população de Marabá, número insuficiente.”
Além disso, os moradores de muitos bairros ficam isolados e têm dificuldade de se deslocar pela cidade, pois precisam caminhar longas distâncias para chegar a uma parada de ônibus. A crítica também se estende à prefeitura de Marabá. “Não há um plano de mobilidade urbana em Marabá, uma cidade com quase 300 mil habitantes e uma grande extensão urbana. A greve dos rodoviários é apenas a ponta do Iceberg de problemas, que é a mobilidade urbana em Marabá”, denuncia o partido.
Ainda segundo a nota oficial do PSOL, esse problema não vem de hoje. Pelo contrário, há muito tempo os gestores municipais estão omissos. “Nunca combateram o monopólio do setor, a prestação de conta sempre foi uma caixa preta e sempre aumentaram a tarifa. O poder municipal é o responsável pela fiscalização e regulamentação, mas não cumpre sua função”, critica.
Diante do posicionamento do partido, por telefone, a Assessoria de Comunicação da Prefeitura explicou que a empresa de ônibus é particular e o vínculo com o poder público se dá através de concessão. Disse também que a prefeitura está tomando providências para resolução deste problema, que não começou nesta gestão, mas que certamente será resolvido nela. (Luciana Marschall e Chagas Filho– com informações de Josseli Carvalho)