Até 2024 toda produção de ferro da empresa Vale no Pará será feita sem uso de água. O processo reduz a quantidade de rejeitos e elimina a necessidade de construção de novas barragens ou de alteamentos.
Essa informação foi dada pela mineradora durante visita que ela promoveu ontem, terça-feira, 18, da Imprensa do Estado ao projeto S11D, em Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará. Os dados foram repassados pelo diretor do Corredor Norte da empresa, Antônio Daher Padovezi.
Ele informou que os projetos S11D, em Canaã dos Carajás, e Serra Leste, em Curionópolis, também no sudeste do Pará, já nasceram 100% com essas tecnologias, que abole a construção de barragens, por não utilizar água. Agora a mesma tecnologia está sendo implantada na Serra Norte, que são as minas de ferro de Carajás, em Parauapebas.
Leia mais:Segundo a Vale, 85% da produção de ferro de Carajás já é feita sem uso de água e, até 2024, estará 100% feita por essa tecnologia. De acordo com Padovezi, das 37 linhas de produção de Carajás, apenas seis ainda são a úmido.
Em Carajás também está sendo empregada outra tecnologia que reaproveita o rejeito. Essa tecnologia está sendo aplicada desde 2013 em Carajás. Segundo a Vale, a tecnologia reaproveita o rejeito, fazendo o reprocessamento e reduzindo a quantidade de material na barragem do Geladinho.
A empresa também aguarda o licenciamento do projeto Gelado anunciado ano passado. Por meio do projeto, será possível reaproveitar o rejeito depositado ao longo dos últimos 30 anos na barragem do APA do Gelado, reduzindo gradativamente a quantidade.
A previsão é que o projeto comece a operar em 2023 e leve 10 anos para recuperar todo esse rejeito, num total 10 milhões de toneladas por ano.
Sistema de processo a seco otimiza produção
Para a empresa, a ampliação da produção a seco deverá trazer também ganhos ambientais, econômicos e sociais. Além de não gerar rejeito, a tecnologia reduz o consumo geral de água em média em 93%. Também favorece o fornecimento de metálicos de baixa emissão de poluentes, permitindo redução significativa da emissão de CO2 na indústria siderúrgica global.
O projeto S11D é modelo no uso dessa tecnologia, que reduz impactos ambientais e permite a utilização de quase 100% do que é extraído. Fabrício Cardozo, gerente de Planejamento do S11D, detalhou como é feito todo o processo de extração do ferro da mina, seu beneficiamento e transporte até as composições, que levam esse minério até o porto de Itaqui, no Maranhão, de onde é exportado para China e Europa.
Por já nascer a seco, não existe barragem de rejeitos no S11D. Até chegar ao produto final, que é comercializado pela Vale, o processo de beneficiamento funciona da seguinte forma: o minério de ferro extraído vai para equipamentos que reduzem o seu tamanho, a chamada britagem.
Posteriormente, seguem por etapa, que classifica os minérios por tamanho. Nesse processo, o minério passa por peneiras, onde é feita a separação de acordo com uma especificação padrão do produto. Esta é uma das etapas mais importantes da produção: a classificação por peneiramento.
A diferença no beneficiamento a úmido é que há utilização de água na classificação. O processo gera, então, o chamado rejeito, resíduos ultrafinos de material de menor teor de ferro, que ficam misturados na água e são direcionados à barragem.
Essa rota de processamento é utilizada nos minérios que apresentam menor teor de ferro em uma amostra de rocha. Já o tratamento à umidade natural (a seco), não utiliza água.
Esse processo é adotado para os minérios que têm alto teor de ferro numa amostra de rocha, como o de Carajás. Nas usinas, são utilizadas peneiras de classificação de alta aceleração e após a britagem e o peneiramento, o minério já está pronto para ser comercializado. Desta forma, não há geração de rejeitos e assim também não há necessidade de barragem.
Ganhos ambientais com a tecnologia a seco
O sistema de produção à seco agrega ganhos substanciais ao meio ambiente, segundo explicou Leonardo Gradiski Neves, gerente de Meio Ambiente Corredor Norte da Vale. Os dados apresentados mostram que a economia de água no S11D é cerca de 93%.
O líquido é usado somente para molhar o solo, na higienização de maquinário e para consumo nas instalações do projeto. “Só o fato de não existir barragens, para o meio ambiente isso é um ganho muito grande”, aponta.
O sistema também gera menor consumo de energia, promovendo uma economia de 36%. Além disso, por não usar caminhões em nenhuma etapa de carregamento do minério, que é feito por esteiras, a economia de óleo diesel é de 77% e, por não queimar combustível fóssil, isso também reduz em 50% emissão de gases poluentes no meio ambiente.
“Toda nossa extração de minério é feita por esteira e britadores móveis, que usa eletricidade. Isso faz reduzir a emissão gases de efeito estufa na atmosfera”, salienta.
Leonardo observa que o projeto, usando a tecnologia que abole barragens, utiliza menos 2.600 hectares da Floresta Nacional de Carajás. Se fosse em um modelo convencional, seriam utilizados 4 mil hectares e seria necessário suprimir mais floresta.
Ele observa que as operações da Vale, como o S11D e a Mina de Carajás, ocupam hoje 2% da Floresta Nacional de Carajás. No total, a Flona de Carajás tem 412 mil hectares de área preservada.
A empresa apoia o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na proteção e conservação da Floresta de Carajás. Leonardo detalha que o material estéril da extração do S11D está sendo empilhado em uma área, que já era área de fazenda, adquirida pela mineradora, próximo a mina e esse material vai sendo compactado e será reintegrado naturalmente ao meio ambiente.
Ainda falando da proteção ambiental, ele dá como exemplo o Parque Nacional dos Campos Ferroginosos. O parque, que é gerido pelo ICMBio, tem a parceria da mineradora.
Criado há dois anos, o parque, com 89 mil hectares, ainda enfrenta problemas de regularização de algumas áreas, ocupadas hoje por mais de 100 pessoas. Essas propriedades estão sendo avaliadas, porque existe suspeitas que algumas foram griladas da União, para fazer a indenização dos proprietários para que sejam desocupadas e integradas ao parque.
De acordo com Leonardo Neves, o parque preserva cavidades naturais e a vegetação única que ocorre áreas de reserva mineral. A área abrange a serra da Bocaina, do Tarzan e do Rabo. Ele salienta que mais 60 mil hectares eram da floresta Nacional de Carajás e estavam passíveis de exploração mineral e florestal.
“Com a criação do Parque, passou a ser uma área de proteção integral. Nela ninguém vai poder explorar”, frisa.
No caso do S11D, a usina, os pátios de estocagem e regularização de minério, as pilhas de estéril e canga (minério de ferro com maior teor de contaminantes) e a área de manobra e carregamento de trens está localizada em um terreno de pastagem, fora da Floresta Nacional de Carajás. O plano Diretor do Projeto previa a ocupação de 2,6 mil hectares na Flona, mas com a solução, foi possível reduzir em mais de 40% a supressão de vegetação nativa.
Outro dado importante, segundo a Vale, é que mais de 80% da área ocupada pelo empreendimento já foi recuperada com apenas um ano de operação, o Complexo S11D já investiu esforços de recuperação de áreas que já alcançaram uma área equivalente a 80% do plano diretor do empreendimento.
Até o momento, um total de 2,2 mil hectares de áreas ocupadas pelo projeto já encontra-se em recuperação. A área equivale a 2.200 campos de futebol de campo. O trabalho vem sendo realizado em parceria com o Instituto Tecnológico Vale (ITV), com acompanhamento do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e do Ibama.
De acordo com Leonardo, recentemente a mineradora assinou o sétimo termo aditivo de convênio com ICMBio, para judar na proteção e preservação da Flona de Carajás e do Tapirapé-Aquiri. O convênio também apoia projetos de pesquisa e uso públicos dessas áreas.
Leonardo também assegurou que não há qualquer risco de acontecer no Pará acidentes com barragens da empresa, como os que ocorreram em Brumadinho e Mariana, em Mingas Gerais.
Ele lembra que recentemente as barragens do Sossego, em Canaã dos Carajás, e do Gelado, em Parauapebas, foram vistoriadas por uma equipe de trabalho da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema), e todos os laudos mostraram que o risco de um acidente é zero. “Os técnicos reconheceram o nível de monitoramento que é feito e que respaldam a segurança nas barragens”, frisa.
O engenheiro acrescenta que a barragem do Sossego, que é o projeto de extração de cobre, é uma das maiores do Pará. “Não há rico algum de acidente. A população pode ficar tranquila”, assegura.
Valores arrecadados com Sossego e S11D
Os dados apresentados pela Vale, mostram que desde que entrou em operação, a produção do S11D ampliou os valores de arrecadação dos governos federal, estadual e municipal. Os números mostram que nos últimos dois anos (2017 e 2018), as operações da Vale em Canaã dos Carajás, por meio da mina de cobre do Sossego e do S11D já geraram por volta de R$ 753 milhões em arrecadação a União, Estado e município, considerando cinco principais tributos e a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM).
O total pago a título de CFEM aos cofres públicos, fruto das operações da empresa em Canaã, em 2016, foi de R$ 28,7 milhões (referentes a extração do cobre), já em 2018, foram recolhidos R$ 320,7 milhões (referentes a extração do cobre e minério de Ferro), total 11 vezes superior.
Já considerando outro tributo, a taxa de fiscalização da atividade mineral (TFRM) repassado ao Estado, que totalizou R$ 1,3 milhão em 2016, essa arrecadação passou para R$ 120 milhões em 2018.
Investimento Social – Em termos de investimentos sociais no município de Canaã, foram cerca de R$ 150 milhões aplicados em parceria com a prefeitura na realização 40 obras como reforma e construção de oito escolas, reforma do hospital, construção do Conselho Tutelar, do Centro do Idoso, a reinauguração da Casa da Cultura com escolas de formação em modalidades artísticas.
Empregos – No Estado, a Vale emprega mais de 27 mil trabalhadores entre empregados próprios e terceiros. Deste total, 4 mil estão nas operações em Canaã. Em 20018, também R$ 800 milhões foram adquiridos de fornecedores locais.
(Tina Santos)