Mesmo sem uma declaração pública, o presidente Jair Bolsonaro emitiu todos os sinais possíveis para avalizar o ministro da Justiça, Sérgio Moro, um dos interlocutores das mensagens hackeadas envolvendo a Operação Lava-Jato. O chefe do Executivo federal recebeu o ex-juiz para uma conversa, na manhã desta terça-feira (11/6), no Palácio da Alvorada. Entre os pontos, ficou acertada a ida de Moro à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
A confiança de Bolsonaro em Moro se mantém inalterada. A interlocutores e pessoas próximas, o presidente diz que as mensagens vazadas não maculam a imagem do ministro e garante não haver qualquer intenção em demovê-lo do cargo. Afinal, os dois se retroalimentam em um jogo de ganho mútuo. O ministro da Justiça é o pilar do governo no combate à corrupção, um dos lastros da campanha vencedora nas eleições. Por sua vez, a permanência no posto é, para o ex-juiz, a porta de entrada para o Supremo Tribunal Federal (STF). O problema é que, com a crise, ficou mais difícil manter a postura de “paladino da Justiça” perante o Congresso, poder responsável pela sabatina que poderá aprovar ou não a provável indicação de Bolsonaro.
A divulgação das conversas entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato, em Curitiba, feita pelo site The Intercept, gerou um clima de desconfiança no parlamento. A sugestiva imagem de interferência de Moro nas investigações, segundo interpretam parlamentares, coloca em xeque a credibilidade e a conduta do ministro no atual cargo e na Suprema Corte. A avaliação é feita não apenas por partidos da oposição, mas também por integrantes de legendas da centro-direita, como PL, PP, PRB, DEM, PSDB e MDB. Os mais incomodados sugerem, em conversas reservadas, a ideia de colocar Moro sob “fritura”, e o recado prático disso virá por meio de articulações para frear o pacote “anticrime” apresentado pelo ministro.
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Com o movimento, Moro se antecipa aos pedidos de convocação feitos pelos deputados de oposição ao governo e, assim, tenta baixar a temperatura. A reunião com Bolsonaro, segundo a assessoria de Moro, se desenrolou num clima tranquilo. “O (presidente) entendeu as questões que envolvem o caso.” Na nota, a pasta mencionou o episódio como “invasão criminosa de celulares de juízes, procuradores e jornalistas”, e informou que Moro “rechaçou a divulgação de possíveis conversas privadas obtidas por meio ilegal e explicou que a Polícia Federal está investigando a invasão criminosa”.
Logo depois do encontro, Bolsonaro e Moro deixaram o Alvorada, em lancha da Marinha em direção ao Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, para um evento. Ali, Bolsonaro entregou uma medalha comemorativa ao ministro e quebrou o protocolo. Em vez do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, deixou Moro ao seu lado direito.
Mesmo se recusando a falar sobre o caso envolvendo o ex-juiz, Bolsonaro foi aconselhado pelos militares a se aproximar de Moro, que foi defendido publicamente pelos ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (GSI), principal articulador dos apoios da caserna em relação ao ex-magistrado. O vice-presidente Hamilton Mourão também se pronunciou. O movimento mais enfático, nesta terça-feira (11/6), foi feito pelo ex-comandante do Exército e atual assessor do GSI, general Villas Bôas. “Momento preocupante, porque dá margem a que a insensatez e o oportunismo tentem esvaziar a Operação Lava-Jato. Expresso o respeito e a confiança no ministro Moro.”
Estratégia
A proteção a Moro é feita apesar de alguns integrantes do Planalto classificarem o hackeamento das mensagens mais como um desgaste ao ministro. Não acreditam que o governo tenha sido atingido, pelo menos até o momento. Ainda assim, a articulação política se movimentou. Onyx defendeu o titular da Justiça nas redes sociais e iniciou a construção de uma articulação junto a parlamentares do baixo e médio cleros para auxiliar na defesa. A parlamentares, orientou a articulação política no Congresso a negociar a liberação de R$ 2 bilhões em emendas individuais em troca da aprovação do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) 4/2019, que dispõe sobre a liberação de um crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões ao governo.
As emendas representam um gesto importante para as bases eleitorais dos parlamentares, uma vez que os recursos são, obrigatoriamente, investidos em obras e serviços de saúde e educação. (Correio Brasiliense)