Logo nas primeiras horas da manhã de quinta-feira (14), debaixo de uma chuva fina e do frio, homens, mulheres e crianças que compõem as mais de 300 famílias de camponeses do acampamento Hugo Chávez, em Marabá, no sudeste do Pará, tiveram de desmontar seus barracos por ordem do poder judiciário local. A área foi reintegrada à Fazenda Santa Tereza.
Sob a escolta de mais de 60 policiais do Comando de Missões Especiais (CME), dois oficiais de Justiça leram os termos de reintegração de posse, assinada pelo juiz Amarildo Mazzuti, da Vara Agraria de Marabá, que legitimou a remoção das famílias daquela área ocupada desde 2014, onde crianças já estudavam.
Os ocupantes inicialmente bloquearam a entrada do acampamento e incendiaram pneus e troncos de árvores, mas após a leitura da ordem judicial os líderes da ocupação decidiram sair pacificamente. Não houve necessidade do emprego da força para que a tropa da Polícia Militar entrasse no terreno. O remanejamento das famílias aconteceu de forma pacífica.
Leia mais:Indignados, mas apreensivos e temerosos pelas suas vidas, os moradores do acampamento tiveram de deixar a área, embora tenham feito uma frágil barricada na estrada de acesso ao acampamento, que mais simbolizava a indignação do que a disposição para enfrentar a força bélica do Estado.
Para quem não soube, duas noites antes do despejo oficial, as famílias foram alvo de um ataque de pistoleiros que atiraram na direção dos barracos, pondo em risco a vida de mulheres e crianças, como descreveu uma das camponesas que morava ali.
Os áudios das famílias desesperadas circularam pelas redes sociais, como forma de denunciar a violência. Foi o que explicou Ulisses Manaças, dirigente nacional do MST: “A gente pede, por favor, que as pessoas tomem alguma providência. Os diversos grupos de direitos humanos; quem tem os contatos, as articulações, por favor, repassem esses áudios para as autoridades, cobrem das autoridades”.
O que preocupa Ulisses Manaças também são as próximas reintegrações de posse, que vão atingir pelo menos 20 acampamentos de camponeses. O próximo será na fazenda Maria Bonita, em Eldorado do Carajás, onde está o acampamento Dalcídio Jurandir e onde as famílias vivem há quase uma década. Nesse caso, o MST ainda sonha em evitar o despejo porque parte da área seria terra pública, como denuncia Ulisses Manaças.
“Estamos acampados há nove anos já nessa área, mas provavelmente está marcado para o dia 16 de janeiro a reintegração de posse e há uma possibilidade real de a gente suspender a reintegração de posse porque foi caracterizado também terra pública na área”, reafirma.
Já as famílias expulsas da terra no acampamento Hugo Chávez tiveram de organizar um acampamento provisório, em uma área próxima, que está localizada no assentamento do MST, onde viverão mais dias de incerteza e onde passarão mais um Natal debaixo da lona preta.
Em nota à Imprensa, o MST agradeceu pelos gestos de solidariedade do Brasil e do exterior e reiterou seu compromisso com as famílias sem-terra na luta pela reforma agrária e pela justiça social, e deixou claro que não vai desistir da área.
Membros da Comissão Pastoral Terra, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) e Conselho Tutelar de Marabá acompanham a ordem de reintegração.
“Na chegada houve uma certa hostilidade por parte dos ocupantes, que foi finalizada com a leitura do mandado. A missão da PM é manter a ordem e garantir a segurança de todos os envolvidos na ação, exercendo e cumprindo exatamente o que determina o mandado de reintegração de posse”, relatou o coronel Sandro Queiroz, comandante de Missões Especiais.
Saiba Mais
Pessoas e entidades que militam em prol dos direitos humanos estão fazendo uma campanha de solidariedade para as famílias que foram retiradas do Acampamento Hugo Chávez. O objetivo da campanha é arrecadar alimentos, roupas e brinquedos para as famílias. Os pontos de entrega e arrecadação são Sindunifesspa (no Campus I, Nova Marabá), Sindicato dos Bancários (Folha 27, Nova Marabá), Sindicato dos Urbanitários (na Avenida Pedro Marinho, Cidade Nova) e Servimmar (Orla da Marabá Pioneira).
(Chagas Filho)
Logo nas primeiras horas da manhã de quinta-feira (14), debaixo de uma chuva fina e do frio, homens, mulheres e crianças que compõem as mais de 300 famílias de camponeses do acampamento Hugo Chávez, em Marabá, no sudeste do Pará, tiveram de desmontar seus barracos por ordem do poder judiciário local. A área foi reintegrada à Fazenda Santa Tereza.
Sob a escolta de mais de 60 policiais do Comando de Missões Especiais (CME), dois oficiais de Justiça leram os termos de reintegração de posse, assinada pelo juiz Amarildo Mazzuti, da Vara Agraria de Marabá, que legitimou a remoção das famílias daquela área ocupada desde 2014, onde crianças já estudavam.
Os ocupantes inicialmente bloquearam a entrada do acampamento e incendiaram pneus e troncos de árvores, mas após a leitura da ordem judicial os líderes da ocupação decidiram sair pacificamente. Não houve necessidade do emprego da força para que a tropa da Polícia Militar entrasse no terreno. O remanejamento das famílias aconteceu de forma pacífica.
Indignados, mas apreensivos e temerosos pelas suas vidas, os moradores do acampamento tiveram de deixar a área, embora tenham feito uma frágil barricada na estrada de acesso ao acampamento, que mais simbolizava a indignação do que a disposição para enfrentar a força bélica do Estado.
Para quem não soube, duas noites antes do despejo oficial, as famílias foram alvo de um ataque de pistoleiros que atiraram na direção dos barracos, pondo em risco a vida de mulheres e crianças, como descreveu uma das camponesas que morava ali.
Os áudios das famílias desesperadas circularam pelas redes sociais, como forma de denunciar a violência. Foi o que explicou Ulisses Manaças, dirigente nacional do MST: “A gente pede, por favor, que as pessoas tomem alguma providência. Os diversos grupos de direitos humanos; quem tem os contatos, as articulações, por favor, repassem esses áudios para as autoridades, cobrem das autoridades”.
O que preocupa Ulisses Manaças também são as próximas reintegrações de posse, que vão atingir pelo menos 20 acampamentos de camponeses. O próximo será na fazenda Maria Bonita, em Eldorado do Carajás, onde está o acampamento Dalcídio Jurandir e onde as famílias vivem há quase uma década. Nesse caso, o MST ainda sonha em evitar o despejo porque parte da área seria terra pública, como denuncia Ulisses Manaças.
“Estamos acampados há nove anos já nessa área, mas provavelmente está marcado para o dia 16 de janeiro a reintegração de posse e há uma possibilidade real de a gente suspender a reintegração de posse porque foi caracterizado também terra pública na área”, reafirma.
Já as famílias expulsas da terra no acampamento Hugo Chávez tiveram de organizar um acampamento provisório, em uma área próxima, que está localizada no assentamento do MST, onde viverão mais dias de incerteza e onde passarão mais um Natal debaixo da lona preta.
Em nota à Imprensa, o MST agradeceu pelos gestos de solidariedade do Brasil e do exterior e reiterou seu compromisso com as famílias sem-terra na luta pela reforma agrária e pela justiça social, e deixou claro que não vai desistir da área.
Membros da Comissão Pastoral Terra, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) e Conselho Tutelar de Marabá acompanham a ordem de reintegração.
“Na chegada houve uma certa hostilidade por parte dos ocupantes, que foi finalizada com a leitura do mandado. A missão da PM é manter a ordem e garantir a segurança de todos os envolvidos na ação, exercendo e cumprindo exatamente o que determina o mandado de reintegração de posse”, relatou o coronel Sandro Queiroz, comandante de Missões Especiais.
Saiba Mais
Pessoas e entidades que militam em prol dos direitos humanos estão fazendo uma campanha de solidariedade para as famílias que foram retiradas do Acampamento Hugo Chávez. O objetivo da campanha é arrecadar alimentos, roupas e brinquedos para as famílias. Os pontos de entrega e arrecadação são Sindunifesspa (no Campus I, Nova Marabá), Sindicato dos Bancários (Folha 27, Nova Marabá), Sindicato dos Urbanitários (na Avenida Pedro Marinho, Cidade Nova) e Servimmar (Orla da Marabá Pioneira).
(Chagas Filho)