Quem esperava um “parabéns pra você” do governador Helder Barbalho para a mineradora Vale pela assinatura de um protocolo de intenções para implantação de uma usina de laminação em Marabá, se surpreendeu com o tom duro do discurso do gestor estadual, invocado com o tratamento que a mineradora vem dando, há mais de uma década, à promessa de implantação de uma mega siderúrgica em Marabá para ampliar a verticalização do minério.
“Podem ter certeza de que o Governo não permitirá ou aceitará que este protocolo não saia do papel. Vamos cobrar e fazer nosso dever de casa, garantindo ambiente institucional de segurança jurídica e atração econômica. Trabalharemos para agilizar o processo ambiental, e não mediremos esforços para que toda e qualquer burocracia possa ser eliminada. Estamos falando de um projeto estratégico, estruturante e determinante”, alfinetou.
O evento aconteceu no Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, em Belém, na noite desta quinta-feira, 23, com a participação de cerca de 500 pessoas. Barbalho garantiu que o governo do Estado vai fazer dar celeridade a todas as licenças que forem de sua competência para que as obras iniciem no tempo previsto, a partir de 2021.
Leia mais:Helder reconheceu que a Vale foi a grande articuladora da engenharia financeira do projeto com a CCCC e sua controlada no Brasil, a Concremat, e deverá oferecer as garantias para o financiamento. “A Vale articulou todo o projeto e trouxe esse parceiro depois que o governo solicitou uma solução para esse pleito que se arrasta há anos”, disse Barbalho, mantendo seu discurso firme.
O diretor-presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, na verdade, foi o primeiro das três personalidades a usarem a palavra no evento, que teve duração de cerca de 40 minutos. Ele reconheceu a importância do Pará no tamanho que a empresa ostenta hoje e preferiu focar parte de seu discurso ao trabalho que a mineradora desenvolve de preservação do meio ambiente. “Acreditamos que podemos ir além. O Pará fez da Vale uma empresa forte, e nosso compromisso é contribuir para que o Pará prospere”, disse, em discurso que não demorou 7 minutos.
Mauro Viegas Neto, presidente executivo da Concremat, braço da chinesa CCCC no Brasil, revelou que a tratativa para a assinatura do protocolo de intenções começou há um ano e meio, mas em nenhum momento falou sobre a cadeia produtiva que poderá se criada a partir das placas que a usina (ainda sem nome) a serem produzidas em Marabá. “Temos indicações positivas de atrativo do empreendimento, além da força e seriedade da parceria. Que esse projeto seja uma alavanca econômica de empregos para a região”, alinhavou, mas também sem revelar quantos empregos serão gerados.
O evento contou com a participação de várias autoridades de Marabá, entre as quais o prefeito Tião Miranda; o presidente da Câmara, Pedro Corrêa; o deputado estadual Wenderson Chamon, Chamonzinho; o presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá, Raimundo Nonato Júnior, além de empresários como Ian Corrêa, vice-presidente da Sinobras; Raimundo Nonato Júnior, presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá.
Na visão do prefeito Tião Miranda, com o esforço do presidente da Vale, do governador Helder, da Concremat e de toda a força política do Pará, o empreendimento tende a deslanchar. “Até porque essa laminação está mais dentro da realidade do mercado doméstico, uma coisa mais pé no chão. Eles vão fazer uma laminação a quente em Marabá. Esperamos que dê certo. Não temos ainda a dimensão de quantos empregos essa usina vai gerar. Os investimentos estão na faixa de U$ 400 milhões, o que daria cerca de R$ 1,5 bilhão. As coisas vão começar a andar. Hoje foi só o primeiro passo, com a assinatura do protocolo. Vamos esperar e torcer para que esse projeto saia do papel”.
O deputado estadual Chamonzinho, presidente da Comissão de Mineração da Assembleia Legislativa do Pará, é outro que se mostrou otimista ao final do evento e acredita que a usina vai alavancar ainda mais a economia de Marabá, mas terá efeito para toda a região e Estado. “O governador foi muito enfático quando disse que não aceitará e não deixará que este ato fique apenas no papel, que isto precisa ser implantado em Marabá para que o desenvolvimento do estado ocorra. Portanto, está de parabéns o governo do Estado, o governador Helder, que vem, nesses poucos meses de mandato, mostrando que fará as mudanças que o povo do Pará esperava, promovendo o desenvolvimento, a geração de emprego e de renda, para o nosso povo”.
SAIBA MAIS
Uma nota publicada pela Vale e informações da Concremat sobre o investimento causaram repercussão no segmento no Brasil e fora dele. Em comunicado divulgado ao mercado, horas antes de o evento acontecer, em Belém, a Vale informou que vai apoiar a estruturação financeira do projeto a ser desenvolvido pela Concremat/CCCC. O apoio será feito por meio da emissão de garantias que viabilizem o financiamento a ser contratado pelo grupo chinês e sua controlada brasileira.
“Essa forma de apoio é eficiente por minimizar o compromisso financeiro da Vale, em linha, portanto, com nosso pilar estratégico de alocação de capital eficiente”, destacou a companhia no comunicado.
Com capacidade de 300 mil toneladas ao ano de aços laminados, a siderúrgica será instalada no distrito industrial de Marabá. O projeto executivo e o licenciamento serão concluídos até 2020, abrindo caminho para o início das obras. “A ideia é que entre em operação em 2023. A produção será destinada ao mercado interno e será o primeiro passo para a nova agenda de agregação de valor ao minério de ferro no estado, em que poderemos estimular a ida de outros investidores”, disse o governador Helder.
Uma fonte afirmou que a Concremat dará à Vale a segurança de entrega do projeto no prazo e no custo que originalmente venham a ser acordados, uma vez concluídos os estudos.
A partir da assinatura do protocolo, a Concremat vai desenvolver os estudos de viabilidade e buscará um parceiro para ser o operador da laminadora. A usina vai comprar placas de aço a partir das quais fará bobinas a serem vendidas no mercado doméstico.
A Vale terá a opção de transformar a sua garantia financeira em equity (participação acionária na empresa dona da usina) caso essa opção se mostre necessária no futuro. A primeira etapa, porém, consiste em que o projeto se mostre factível do ponto de vista econômico.
O investimento na usina deve ser quase todo financiado em bancos. Não está claro, porém, se a CCCC e o operador poderão aportar uma parcela de recursos próprios no empreendimento. Não ficou claro no evento, mas segundo técnicos especializados no assunto, a Vale entrará oferecendo somente garantias financeiras. Não haverá contrato de fornecimento firme de minério de ferro, pois a laminadora será suprida com placas de aço compradas no mercado interno.
A CCCC está no Brasil desde 2016, quando adquiriu 80% do capital da Concremat por R$ 350 milhões. No ano seguinte, assumiu 51% do projeto de construção de um terminal portuário no Maranhão junto com a WTorre. O grupo, com faturamento global na casa de US$ 70 bilhões, tem interesse em investir em projetos de infraestrutura, como ferrovias e portos. (Ulisses Pompeu – enviado especial, com informações da Agência Pará e Revista Portos e Navios)