O dólar teve dia de alta nesta sexta-feira (17), chegando a alcançar R$ 4,11. O movimento acontece conforme investidores veem mais riscos diante da piora das expectativas para a economia e com preocupações sobre a perspectiva para a agenda de reformas. Além disso, pesam as renovadas tensões na disputa comercial entre Estados Unidos e China.
A moeda norte-americana subiu 1,58%, a R$ 4,0991, no maior valor desde setembro de 2018. Na máxima do dia, o dólar chegou a R$ 4,1122. No ano, o dólar acumula alta de 5,81%. Veja mais cotações.
Já o dólar turismo era vendido perto de R$ 4,26, sem considerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Mas, nas casas de câmbio, a compra de dólar no cartão pré-pago chegou ao redor de R$ 4,50.
Leia mais:O real tem o pior desempenho entre as principais moedas globais nesta sessão, com o mercado testando a disposição do Banco Central para intervir no câmbio, destaca a Reuters.
O Banco Central vendeu nesta sexta-feira todos os 5,05 mil swaps cambiais tradicionais ofertados em leilão para rolagem do vencimento julho. Em 12 operações, o BC já rolou US$ 3,030 bilhões, de um total de US$ 10,089 bilhões a expirar em julho. O estoque de swaps do BC no mercado é de US$ 68,863 bilhões.
No dia anterior, a moeda norte-americana subiu 0,97%, vendida a R$ 4,0352 – maior patamar de fechamento desde 28 de setembro do ano passado (R$ 4,0378). No ano, considerando a alta nesta sexta, o dólar já acumula alta de cerca de 6%.
“O cenário parece cada dia mais desafiador, com a falta de articulação do governo colocando em xeque a aprovação das reformas. Bolsonaro voltou a enfatizar questões ideológicas, dificultando uma aproximação com o Congresso e deixando Guedes isolado na luta pela Previdência”, destacou a corretora em relatório a clientes.
Nesta tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que “se a bolsa cai ou o dólar sobe um pouco, isso é barulho. Ninguém tem de ficar preocupado”. “Tem uma dinâmica mais forte, construtiva e positiva (sendo construída na economia brasileira)”, afirmou em evento no Rio de Janeiro.
No cenário externo, a China afirmou nesta sexta-feira que os Estados Unidos precisam mostrar sinceridade para manter negociações comerciais substanciais, reagindo às sanções à gigante chinesa Huawei anunciadas pelo governo norte-americano na véspera.
Pequim ainda não disse se vai retaliar contra a última medida dos EUA na tensão comercial, embora a mídia estatal tenha adotado um tom cada vez mais estridente, com o Diário do Povo do Partido Comunista publicando comentários de primeira página que evocam o espírito patriótico de guerras passadas.
Novo patamar
A confiança do mercado após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em outubro do ano passado, levou o dólar a uma mínima em torno de R$ 3,65 no dia 31 de janeiro. Desde então, no entanto, o Executivo tem acumulado derrotas no Congresso, com ameaças de diluição da proposta da reforma da Previdência.
Como resultado, o dólar anulou toda a queda vista após a eleição de Bolsonaro. E, desde a mínima deste ano, já subiu 10,31% até quinta-feira.
Além disso, ao romper a barreira psicológica dos R$ 4, analistas avaliam que esse nível se aproxima cada vez mais do novo patamar de fundamento para a taxa de câmbio, conforme se acentuam os riscos à agenda de reformas, segundo a Reuters.
Até pouco tempo atrás, a ideia desse novo patamar não era cogitado, mas o cenário contemplava menos reveses na reforma da Previdência e estabilidade ou alta dos juros, tendo como pano de fundo uma economia mais fortalecida e um ambiente externo menos conturbado.
A demora na aprovação da reforma previdenciária na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ,) etapa mais simples do processo, e os ruídos subsequentes expuseram a falta de articulação política do governo, o que explica boa parte dessa valorização do dólar. Isso porque o mercado teme uma reforma menos potente e, por tabela, um quadro mais conturbado para as contas públicas.
De acordo com a Reuters, nesta semana, o Morgan Stanley passou a estimar dólar em R$ 4,10 ao fim de junho, contra projeção anterior de R$ 3,85, citando a perspectiva de mais ruídos políticos.
Já o Bank of America Merrill Lynch aumentou na quinta a estimativa para o dólar ao fim do ano a R$ 3,80, ante prognóstico anterior de R$ 3,60, devido ao “crescimento menor, juros mais baixos, real mais fraco”.
A despeito da expectativa de que alguma reforma da Previdência seja aprovada, a percepção é que os níveis de risco subiram de forma estrutural. E mesmo um alívio não seria suficiente para baixar de forma substancial o dólar, destaca a Reuters. (Fonte:G1)