Quatorze anos foram tempo suficiente para “Supernatural”, uma das séries ainda em atividade mais longevas da TV, construir uma relação de camaradagem com os fãs – a ponto de eles perdoarem tropeços que poderiam ser fatais em outras tramas.
“Nós sempre brincamos que houve episódios que poderiam ter matado o programa. Mas, então, de repente, esses viraram os preferidos dos fãs”, divertiu-se Jensen Ackles, o Dean Winchester, em uma entrevista em seu set de gravação, em Vancouver, no Canadá.
“Quando li o roteiro de ‘O erro francês’, por exemplo, fiquei tipo: ‘Foi bom enquanto durou, pessoal‘.”
Leia mais:Numa autorreferência maluca, o episódio da sexta temporada, exibido em 2011, mostra os protagonistas em um “universo alternativo”, no qual descobrem ser atores de uma série chamada “Supernatural”.
Nem isso foi capaz de acabar com a história dos irmãos caçadores de criaturas sobrenaturais, que só teve seu fim anunciado em março deste ano, após muita especulação. A 15ª temporada, que estreia no segundo semestre de 2019, será a última. O último episódio da 14ª vai ao ar nesta quinta-feira (25).
Na conversa com jornalistas latino-americanos, que aconteceu meses antes do anúncio sobre o encerramento da trama, Jared Padalecki, o outro irmão Winchester, Sam, tentou refletir:
“Eu não sei como minha vida teria sido se não tivesse existido ‘Supernatural’.”
“Foram 14 anos de nossas vidas e o convívio com mais de 100 pessoas diariamente. Houve casamentos e divórcios, nascimentos e mortes… E é legal ver como a vida imita a arte e vice-versa. Isso foi parte importante da série.”
Ackles ensaiou uma previsão: “Tenho certeza de que, no futuro, vamos nos olhar e falar: ‘Nossa, isso foi incrível e duradouro. E olhe para nós agora’. O que isso vai significar ainda deve ser determinado. Mas com certeza nós crescemos.”
Dos 35 mm ao streaming
Desde a estreia em 2005, “Supernatural” acompanhou a evolução das tecnologias do audiovisual, elemento fundamental em uma história cheia de monstrengos feitos em computador.
Ackles lembra que a primeira temporada foi gravada em 35 milímetros, formato analógico que exigia vários procedimentos de checagem e alongava o tempo no set. “Nós somos bem mais velhos do que parecemos”, brincou Padalecki – eles têm, respectivamente, 41 e 36 anos.
Com o tempo, passaram à filmagem digital e também abandonaram os muitos objetos verdes das cenas que recebiam efeitos especiais, na técnica conhecida como chroma key. “Hoje dá para fazer qualquer coisa em tempo real”, celebrou Ackles.
Padalecki exemplificou: “Isso dá aos roteiristas um espaço mais aberto para fazerem o que quiserem. No passado, não dava para simplesmente decapitar um vampiro porque podia levar duas horas só para criar uma cabeça que parecesse real.”
A dupla também viu mudarem os métodos de consumo do público, que passou da TV aos downloads e, mais recentemente, às plataformas de streaming – essas, acreditam eles, foram as principais responsáveis pela renovação da audiência. Ackles explicou:
“Esse novo jeito de assistir aos episódios, em maratonas, trouxe um público totalmente novo, algumas pessoas que nem estavam vivas quando a série começou.”
“Conhecemos uma adolescente outro dia que disse ter visto a série inteira duas vezes em menos de um ano. Ela precisa urgentemente de um hobby”, continuou, rindo.
Mas os irmãos Winchester abrem seus sorrisos mais largos para os fãs antigos. “Há programas que eu cresci assistindo e ouvir algo assim, ‘eu cresci assistindo à série’, é incrível”, acrescentou Ackles.
Para Padalecki, é um bom jeito de crescer, por mais que seus filhos “achem estranho ver o papai e o tio Jensen morrerem e voltarem à vida na TV”. “Estamos fazendo uma série sobre sacrifício, lealdade, disciplina, dedicação e pessoas tentando fazer a coisa certa.” (Fonte:G1)