Correio de Carajás

Pará: Atlas da CPT aponta conflitos registrados no ano passado

Mais de 20 mil famílias foram vítimas em pelo menos 142 conflitos registrados pela Comissão Pastoral da Terra, no Pará, no ano passado. Os dados estão compilados no Atlas de Conflitos na Amazônia, de iniciativa da Articulação das CPT’s da Amazônia – projeto que reúne nove regionais da Amazônia Legal – e divulgado ontem, terça-feira (23).

Dentre os municípios paraenses que apresentaram maiores índices de violência, Anapu é a primeira colocada, com 20 casos envolvendo 2188 família. Em seguida estão Conceição do Araguaia, com 12 situações envolvendo 518 famílias; Chaves, com 10 conflitos envolvendo 280 famílias; e Oriximina, onde foram registrados 10 casos envolvendo 388 famílias.

Em Marabá, foram registrados três casos envolvendo 800 famílias. A região ainda apresenta conflitos em Tucuruí (2), Rondon do Pará (2), Curionópolis (2), Eldorado do Carajás (1), Bom Jesus do Tocantins (1), Abel Figueiredo (1) e Breu Branco (1).

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Com o título “O avanço truculento do capital no Pará”, a seção sobre o cenário estadual, assinada por Gilson Fernando de Jesus Rego e José Batista Gonsalves Afonso, aponta o avanço do agronegócio e as mineradoras como os principais fatores que intensificam estes conflitos.

“Ainda hoje as populações no Pará são violentadas pela gana desenfreada do mercado. Pois, a cada momento novos espaços que são ocupados por diversos grupos sociais também são os alvos de novas explorações. Só no sudeste do Pará, aproximadamente 80% das áreas pesquisadas para a mineração estão dentro das terras ocupadas por assentados, quilombolas, indígenas e em áreas de preservação ambiental”, destaca o texto.

Cita, ainda, o sistema integrado para o escoamento de bens naturais e monocultivos da região, destacando as grandes obras em processo de implantação no Sudeste do Pará, dentre elas: a UHE Marabá, a Hidrovia Araguaia-Tocantins, portos no rio Tocantins, a siderúrgica da Vale, a ALPA (Aços Laminados do Pará); e, em fase de construção, a duplicação da ferrovia que liga a Serra dos Carajás a São Luís no Maranhão, assim como a expansão da ferrovia de Carajás para o município de Canaã dos Carajás, cuja extensão será de 102 quilômetros.

#ANUNCIO

Investimentos no setor de infraestrutura e concessões de florestas públicas em outras regiões do estado também são destacados. Para a CPT, a benevolência dos administradores paraenses, somada à ganância voraz dos capitalistas, deixam um rastro de violência para as comunidades por todos os municípios. “A violência acontece de diversas formas, intimidações, ameaças, atentados, assassinatos e chacinas”. Conforme o levantamento, até a data em que o atlas estava sendo confeccionado, o número de assassinatos de trabalhadores no Pará havia chegado a 20, em 2017.

O aumento nas estatísticas a cada ano, defende a comissão, também é reflexo da suspensão do programa de assentamentos rurais e da extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Ouvidoria Agrária Nacional. “Sem qualquer apoio do poder público, as famílias estão à mercê da ação violenta dos latifundiários através de pistoleiros”.

Diante desta realidade, defende a entidade, no Pará, “a situação é ainda mais alarmante devido ao caos fundiário que predomina no estado, o alto índice de impunidade dos crimes contra os trabalhadores e a relação promíscua de agentes públicos com o crime organizado no campo”, diz, usando o massacre ocorrido em Pau D’Arco, em maio do ano passado, como exemplo. Na ocasião, uma ação policial resultou na morte de 10 pessoas e o caso ganhou ampla repercussão. Atualmente, um grupo de policiais – entre militares e civis – está preso pelo ocorrido. (Luciana Marschall)

 

Foto: Lunae Parracho/CPT

Mais de 20 mil famílias foram vítimas em pelo menos 142 conflitos registrados pela Comissão Pastoral da Terra, no Pará, no ano passado. Os dados estão compilados no Atlas de Conflitos na Amazônia, de iniciativa da Articulação das CPT’s da Amazônia – projeto que reúne nove regionais da Amazônia Legal – e divulgado ontem, terça-feira (23).

Dentre os municípios paraenses que apresentaram maiores índices de violência, Anapu é a primeira colocada, com 20 casos envolvendo 2188 família. Em seguida estão Conceição do Araguaia, com 12 situações envolvendo 518 famílias; Chaves, com 10 conflitos envolvendo 280 famílias; e Oriximina, onde foram registrados 10 casos envolvendo 388 famílias.

Em Marabá, foram registrados três casos envolvendo 800 famílias. A região ainda apresenta conflitos em Tucuruí (2), Rondon do Pará (2), Curionópolis (2), Eldorado do Carajás (1), Bom Jesus do Tocantins (1), Abel Figueiredo (1) e Breu Branco (1).

Com o título “O avanço truculento do capital no Pará”, a seção sobre o cenário estadual, assinada por Gilson Fernando de Jesus Rego e José Batista Gonsalves Afonso, aponta o avanço do agronegócio e as mineradoras como os principais fatores que intensificam estes conflitos.

“Ainda hoje as populações no Pará são violentadas pela gana desenfreada do mercado. Pois, a cada momento novos espaços que são ocupados por diversos grupos sociais também são os alvos de novas explorações. Só no sudeste do Pará, aproximadamente 80% das áreas pesquisadas para a mineração estão dentro das terras ocupadas por assentados, quilombolas, indígenas e em áreas de preservação ambiental”, destaca o texto.

Cita, ainda, o sistema integrado para o escoamento de bens naturais e monocultivos da região, destacando as grandes obras em processo de implantação no Sudeste do Pará, dentre elas: a UHE Marabá, a Hidrovia Araguaia-Tocantins, portos no rio Tocantins, a siderúrgica da Vale, a ALPA (Aços Laminados do Pará); e, em fase de construção, a duplicação da ferrovia que liga a Serra dos Carajás a São Luís no Maranhão, assim como a expansão da ferrovia de Carajás para o município de Canaã dos Carajás, cuja extensão será de 102 quilômetros.

#ANUNCIO

Investimentos no setor de infraestrutura e concessões de florestas públicas em outras regiões do estado também são destacados. Para a CPT, a benevolência dos administradores paraenses, somada à ganância voraz dos capitalistas, deixam um rastro de violência para as comunidades por todos os municípios. “A violência acontece de diversas formas, intimidações, ameaças, atentados, assassinatos e chacinas”. Conforme o levantamento, até a data em que o atlas estava sendo confeccionado, o número de assassinatos de trabalhadores no Pará havia chegado a 20, em 2017.

O aumento nas estatísticas a cada ano, defende a comissão, também é reflexo da suspensão do programa de assentamentos rurais e da extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Ouvidoria Agrária Nacional. “Sem qualquer apoio do poder público, as famílias estão à mercê da ação violenta dos latifundiários através de pistoleiros”.

Diante desta realidade, defende a entidade, no Pará, “a situação é ainda mais alarmante devido ao caos fundiário que predomina no estado, o alto índice de impunidade dos crimes contra os trabalhadores e a relação promíscua de agentes públicos com o crime organizado no campo”, diz, usando o massacre ocorrido em Pau D’Arco, em maio do ano passado, como exemplo. Na ocasião, uma ação policial resultou na morte de 10 pessoas e o caso ganhou ampla repercussão. Atualmente, um grupo de policiais – entre militares e civis – está preso pelo ocorrido. (Luciana Marschall)

 

Foto: Lunae Parracho/CPT