Quem nasceu ou vive há muito tempo em Marabá certamente já ouviu uma lenda local, conhecida como “Porca de Bobes”, que retrata a história de uma jovem que desrespeitou a própria mãe e acabou amaldiçoada. Desde então, reza a história, em todas as noites de sexta-feira ela se transforma em uma porca que assombra as vias da cidade.
Pois esta foi a preferida encenação assistida por Isis Santis Gomes, de 9 anos, e de Maria Luiza Pereira dos Santos, de 8 anos, que participaram nesta quarta-feira (20) do Festival Pororoca de História, organizado pelo Movimento dos Contadores de Histórias da Amazônia (Mocoham) e realizado durante todo o dia na Biblioteca Municipal Orlando Lobo, na Marabá Pioneira. “Eu gostei muito da Porca de Bobes e aprendi que quem briga com a mãe fica amaldiçoada”, comentou Maria Luiza.
A contadora de histórias Gisele Ribeiro, que é professora da Universidade Federal do Pará em Belém, faz parte do Mocoham e esteve em Marabá participando da primeira edição do festival na cidade. Na capital paraense o evento já acontece há seis anos nesta mesma data, Dia do Contador de História. “O movimento promove o festival que acontece anualmente. Em Belém estamos festejando ao mesmo tempo que aqui”, informou.
Leia mais:Conforme ela, quando se conta histórias para crianças elas são acolhidas e é este o compromisso do movimento com o afeto. Questionada sobre como a tradição lida com os avanços tecnológicos, a professora destaca a importância de se utilizar as ferramentas combinadas. “A tecnologia contribui, é verdade, para a difusão do conhecimento, mas também tem distanciado as pessoas e tudo depende de como a gente utiliza essas ferramentas e, neste sentido, entra o contador de histórias para reatar os laços afetivos”.
Sobre as histórias que mais costumam hipnotizar os pequenos, ela destaca “Aquele Grão de Areia”, de Francisco Gregório. “Ele me ensinou a contar sobre um grão de areia que se apaixona por uma estrela. É a que eu mais gosto de contar e a que eles mais gostam de ouvir”, diz.
Evilangela da Silva Lima, coordenadora da Biblioteca Orlando Lima Lobo, diz que o festival foi organizado em comemoração à data e para que as crianças pudessem ouvir um dia inteiro de contação de história, com rodízios de contadores do município e da região. A convite, escolas do município participaram do evento.
“Estamos valorizando a leitura, tanto na forma física como na forma digital, queremos que a leitura seja presente na vida deles. Não temos como fugir da tecnologia que faz parte do mundo deles, mas é importante que tenham acesso à leitura de qualidade e que vá transformar a vida deles. A intenção é que eles leiam bastante até o ponto de terem os próprios pensamentos críticos, naturalmente”.
A professora Carla Barbosa Santis acompanhou três turmas de alunos até a Praça São Félix de Valois, em frente à biblioteca. “São 50 alunos de três turmas, do primeiro ao terceiro ano. A gente traz para despertar o interesse pelas histórias, pela leitura, pela contação de história em si que é muito necessária de Marabá”, diz, acrescentando crer ser importante despertar o interesse nas crianças em frequentar o local. “Deixar um pouco a internet de lado. As pessoas não compram mais livros e são momentos raros que vemos eles com livros. Queremos incentivar esse amor à leitura por livros e despertar a curiosidade deles por meio desse processo”, diz. (Luciana Marschall – com informações de Josseli Carvalho)