Um laudo de vistoria feito em 2018 sobre a barragem I da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, detectou problemas no sistema de drenagem da estrutura.
A barragem, que estava sem receber rejeitos desde 2015, rompeu em 25 de janeiro despejando um tsunami de água, terra e rejeitos sobre funcionários da Vale e moradores da região. Até segunda-feira (4), 134 mortes haviam sido confirmadas e 199 pessoas seguiam desaparecidas.
O laudo foi feito pela empresa alemã Tüv Süd, a pedido da Vale, e conclui pela estabilidade da estrutura. Mas registra que, em determinada área da barragem que estava parcialmente saturada de água, havia um dreno seco. Outros continham trincas de onde vertia água.
Leia mais:Além disso, o documento recomendou a instalação de novos piezômetros, equipamentos que medem a pressão e o nível da água no solo, e de um mecanismo de registro sismológico no entorno da barragem.
Por fim, o estudo recomenda que, para aumentar a segurança da barragem e evitar a liquefação – uma das possíveis causas da tragédia–, a Vale deveria tomar atitudes que diminuíssem a probabilidade de gatilhos, como proibir detonações nas redondezas, evitar o tráfego de equipamentos pesados, e impedir a elevação do nível da água na estrutura.
A Vale afirmou que todas as recomendações foram atendidas ainda no ano de 2018. “Cabe reforçar que se tratavam de recomendações rotineiras em laudos deste gênero”. A mineradora não diz na nota se comprovou à Justiça que as recomendações foram cumpridas.
A nota diz ainda que a barragem era monitorada por 94 piezômetros, equipamentos especiais, e 41 indicadores de nível da água. As informações dos instrumentos eram coletadas periodicamente e todos os dados analisados pelos geotécnicos responsáveis pela barragem.
Para professor, acúmulo de água pode ter levado à ruptura
Os engenheiros da Tüv Süd elaboraram dois relatórios sobre as condições de segurança da barragem de Brumadinho.
O primeiro, de agosto de 2017, conclui que “o desempenho da barragem se encontrava adequado, atendendo às exigências das normas brasileiras de segurança para barragens”. O segundo, de julho de 2018, reafirma a conclusão.
O Jornal da Globo mostrou os dois relatórios para o professor Edilson Pizzato, do Instituto de Geociência da USP. Para ele, os critérios técnicos usados na avaliação de risco da barragem de Brumadinho estavam corretos.
“A metodologia utilizada é conhecida, utilizada no mundo inteiro. As análises indicam, pela própria conclusão deles, que a barragem tinha condição de segurança”, diz Pizzato.
Mas algumas fotos chamaram a atenção. Elas mostram problemas no sistema de drenagem interna da barragem. São tubos danificados, entupidos pela vegetação, e a formação de coloide, uma espécie de entupimento provocado pelo acúmulo de minério.
“No próprio relatório foram indicados alguns problemas em relação à drenagem interna. São drenos horizontais profundos. São drenos que vão tirar a água de dentro do maciço. E é aquela água que satura o material, a água que é interna. E é justamente um dos fatores que pode levar à liquefação do material. O material está saturado. Então, se nesse tempo de três meses, praticamente entre o relatório até o rompimento, ocorreu problema na drenagem e acumulou água dentro do maciço, isso poderia ter levado a ruptura. Por que? O estado de saturação estaria diferente do que ele apontou no relatório”, diz o professor.
Os laudos são assinados por profissionais da Vale e Tüv Süd. Entre os responsáveis por parte da companhia alemã estão os engenheiros Makoto Namba e André Yassuda. Eles foram presos na semana passada, suspeitos de crimes ambientais, falsidade ideológica e homicídio.
O advogado dos dois engenheiros anexou os relatórios no pedido de liberdade feito à Justiça mineira, para tentar mostrar que Namba e Yassuda cumpriram com suas responsabilidades profissionais e apontaram a situação da barragem. O Tribunal de Justiça de Minas (TJ-MG) negou o pedido liminar de habeas corpus. A defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
(Fonte:G1)