Em caso de suspeita de negligência ou erro médico o procedimento natural é que o corpo do paciente seja submetido ao exame de necropsia junto ao Instituto Médico Legal (IML). Ainda na sexta-feira, dia em que Simone Nascimento morreu, em nota, a Prefeitura Municipal de Marabá informou que os familiares haviam optado por não encaminhar o corpo para perícia.
Nesta segunda-feira, dia 7, no entanto, questionados pelo Jornal Correio, os familiares afirmaram terem deixado clara a suspeita desde o primeiro minuto em que foram informados sobre o ocorrido e negaram terem sido orientados acerca da possibilidade de haver o procedimento junto ao IML, tendo, inclusive, sido desencorajados.
“Eu que recebi a primeira notícia e fiquei lá para resolver essas coisas. Um médico me chamou e disse ‘olha, não esquenta com isso aí’ porque iriam mandar um pessoal da assistência social que daria todo suporte, apoio, resolveriam por mim. Aceitei porque estava sem cabeça para fazer”, informou Edvaldo Sanches Furtado.
Leia mais:A assistente, afirma, questionou apenas se a família possuía plano funerário. “Única coisa que eu ouvi comentarem – e não me perguntaram nada – era que não adiantava nem levar o corpo para o IML porque lá estava em recesso e não teria médico legista lá. Que o laudo sairia prontinho de lá (HMI). Eu nunca tinha passado por esse momento, aceitei”.
O médico Fábio Oliveira Costa, diretor-técnico do HMI, foi questionado acerca deste assunto pela Reportagem do CORREIO durante coletiva de imprensa realizada na tarde desta segunda. “É nosso interesse que vá para o IML porque é uma forma da gente se resguardar e mostrar que a equipe fez o correto, mostrar que aconteceu isso que estamos falando, mas tem que partir da família ou de autoridade competente, Ministério Público ou delegado de Polícia Civil. Não temos este poder de mandar ao IML”.
Questionado se o próprio hospital não poderia ter solicitado o ofício de remoção ao delegado plantonista, o diretor respondeu que “geralmente é a família que faz isso”. Em seguida, disse que durante a sindicância será solicitada a necropsia da paciente caso a família aceite, o que demandaria determinação judicial para que haja exumação do corpo da mulher.
Ex-secretário de Saúde acusa erro médico
Em vídeo divulgado no final de semana na página pessoal do apresentador de TV Jorge Belich, o médico e ex-secretário de Saúde de Marabá, Nagib Mutran Neto, afirmou que a morte de Simone Nascimento “foi o maior dos absurdos, erro médico que não tem precedentes”.
Ele sustentou haver uma máxima em obstetrícia defendendo que paciente que teve a primeira cesárea, nos partos subsequentes, tem que ser submetida a cesárea e no máximo a três. “O que tem acontecido no HMI aconteceu também no meu tempo de secretário de Saúde, mas peguei pesado com eles e acabaram com essa onda”, revela.
O ex-secretário acusou parte dos médicos plantonistas de ter preguiça de levar paciente para a sala de cirurgia e fazer uma cesariana. “Aí dão remédio para induzir o parto para que a paciente tenha parto normal, mas sabem que quem fez uma cirurgia de cesárea tem que ser todas cesárea. Estou falando isso como médico especialista em cirurgia geral (…). Foi um erro médico, infelizmente uma mãe de família perdeu a vida”, declarou.
Durante a coletiva de imprensa, o diretor técnico do HMI afirmou que “algumas pessoas dizem que após cesárea, sempre cesárea”, mas que essa questão já foi ultrapassada pela medicina. “Existiu em 1819, mas hoje em dia é consenso na Sociedade Brasileira de Obstetrícia, na Americana de Obstetrícia, que após o parto cesáreo pode, sim, voltar a ter parto normal já que o risco de ruptura é apenas meio por cento, similar ao risco em uma paciente sem nenhuma cesariana”, declarou.
De Goiânia, irmã da vítima também pede providências
Em vídeo publicado pela página Marabá Notícia, a irmã de Simone Nascimento, Lúcia Alves, também cobrou que o caso seja apurado e que a família receba respostas claras sobre o ocorrido. Ao lado dela, a filha mais velha de Simone, de 15 anos, que vive com a tia na capital de Goiás.
“Nem pude ver o corpo da minha irmã porque moro em Goiânia, cuido da filha mais velha dela, de 15 anos, que mora comigo. Eu que cuido e agora está órfã, sem mãe, por conta de irresponsabilidade médica. Queremos Justiça neste caso e não vai ficar parado, vamos querer Justiça”.
Ela concorda com a família do companheiro de Simone que possa ter havido negligência no atendimento prestado no Hospital Materno Infantil. “Estamos muito revoltados com o que aconteceu, todos os familiares estão, porque ela entrou na maternidade com vida e saiu sem vida, infelizmente”.
Ela diz não sei o que houve enquanto a mulher permaneceu só na casa de saúde, mas acredita que a versão oficial não é a verdadeira. “Pra mim foi negligência médica porque minha irmã era sadia. Queremos saber o que aconteceu com ela para poder ter ocorrido isso. Estamos todos revoltados e o que aconteceu com a minha irmã não queremos que aconteça com outras pessoas. Não vai trazer a vida dela de volta, mas estamos todos revoltados e queremos esclarecimentos”.
Comissão Permanente de Saúde solicita Reunião de Emergência
O presidente da Câmara Municipal de Marabá, vereador Pedro Corrêa Lima, convocou Reunião de Emergência para tratar do assunto na manhã desta terça-feira, dia 8, a partir das 9 horas, após deliberação da Comissão Permanente de Saúde.
O encontro acontece na Sala de Comissões para tratar de assuntos relacionados aos últimos acontecimentos no Hospital Materno-Infantil. Familiares de Simone Nascimento informaram ao Jornal CORREIO terem procurado apoio da Casa de Leis.
Segundo eles, foram recebidos por quatro edis na manhã desta segunda-feira, dia 7, na própria Câmara Municipal, onde pediram apoio para que os representantes cobrem esclarecimentos acerca do caso junto à administração municipal. (Luciana Marschall)