Um senhor de óculos tentando adivinhar o que você procura e vendedores chatos que surgem do nada com propostas duvidosas são alguns dos elementos da internet “materializada” de “WiFi Ralph”.
A sequência da animação, que estreia nesta quinta-feira (3), apresenta o mundo on-line a seus protagonistas nascidos nos video games. Na gênese desse universo, há um nome brasileiro: o do paulistano Renato dos Anjos, chefe de animação do filme.
“A internet é algo que as pessoas vêem todos os dias. Então, quando criamos esse mundo, queríamos que elas pudessem se relacionar com ele”, conta o animador. Ele acrescenta:
Leia mais:“Um grande desafio foi criar um universo que parecesse crível.”
Para chegar ao resultado, roteiristas e animadores precisaram transformar aspectos da internet em coisas palpáveis.
Assim, uma plataforma de vídeos similar ao YouTube, por exemplo, vira um galpão cheio de telas, onde youtubers disputam com vídeos de gatinhos a atenção de uma multidão.
Os pop-ups com spam são funcionários esquisitões de empresas suspeitas. E sites de compra e venda, enormes casas de leilões dos produtos mais aleatórios.
Marcas por todos os lados
Em um cenário que parece uma megalópole como Tóquio, Nova York ou São Paulo, tudo isso divide espaço com internautas circulando frenéticos e arranha-céus com logos de empresas como Amazon, eBay, Google e Facebook.
Phil Johnston, que assina a direção com Rich Moore, não revela se as empresas são parceiras comerciais. Ele explica que, pela lei de direitos autorais americana, não é preciso pedir permissão para usar as marcas em casos como esse. Ele explica:
“A filosofia foi parecida com a do primeiro filme [‘Detona Ralph’, de 2012], em que tínhamos jogos que inventamos, como ‘Conserta Félix Jr.’ e ‘Sugar rush’, e coexistiam com ‘Pac-Man’, ‘Street Fighter’ e outros. A mesma ideia serviu para a internet.”
“Uma das maiores vitórias do filme foi justamente conseguir criar um equilíbrio entre sites e empresas reais e outros que nós criamos para a história”, avalia Renato.
Princesas problematizadoras
Na nova história, Ralph e Vanellope entram na internet em busca de um novo volante para o jogo quebrado da garotinha. Um único exemplar do objeto – praticamente um artigo de antiquário – está à venda no eBay, mas eles precisam conseguir o dinheiro.
No decorrer da saga, a dupla cruza com um jogo alucinante de corrida em uma terra inóspita, os corredores escuros da deep web e o mundo de arco-íris da Disney.
Esse último rende algumas das cenas mais comentadas da trama: uma homenagem a Stan Lee (1922-2018) e uma reunião de princesas problematizadoras, que finalmente parecem conscientes sobre o quão sinistras podem ser suas histórias.
“Como Vanellope é tenicamente uma princesa, pensamos que seria engraçado se ela encontrasse as outras. Mas, quando nos aprofundamos, percebemos que essas mulheres passaram por muita coisa. Suas histórias são malucas”, lembra Johnston.
“Então, o que começou como uma brincadeira virou um momento engraçado e também triste, que é realmente instrumental na saga de Vanellope. E uma cena empoderadora.”
Detonando nas bilheterias
Como diz o próprio diretor, tudo pode acontecer na internet. E essa ideia, que ele afirma ter guiado o filme, tem conseguido conectar o público.
Nos Estados Unidos, onde estreou em 21 de novembro, “WiFi Ralph” passou três semanas seguidas no topo das bilheterias. A arrecadação na América do Norte já chega a US$ 175 milhões.
Renato diz que tenta fazer um trabalho que gosta, sem se preocupar tanto com o jogo de números dos lançamentos. Mas assume ficar “super estressado” quando um filme chega aos cinemas.
Já Johnston não parece muito preocupado. Para ele, o segredo de sua franquia está nos personagens:
“É fácil se identificar com eles porque não são perfeitos. São cheios de falhas, mas com corações enormes. Eu os amo porque eles parecem humanos pra mim, parecem reais.”
(Fonte:G1)