Correio de Carajás

Produções cinematográficas estão cada vez mais aceleradas nos dias de hoje

Com a vida cada vez mais rápida, séries e filmes adaptam-se ao ritmo frenético da sociedade, comprometendo a capacidade de concentração e apreciação de conteúdos mais lentos

Na era da urgência, até mesmo os momentos de lazer parecem exigir velocidade. Esta tendência é observada inclusive em séries e filmes que, para acompanhar o ritmo frenético da vida contemporânea, estão sendo produzidos de forma cada vez mais dinâmica e acelerada.

A polêmica ressurgiu nas redes sociais após o lançamento da série “Pluribus”, criada pelo mesmo responsável por “Breaking Bad”. Diversos espectadores relataram dificuldade em acompanhar o ritmo mais lento da produção, com comentários frequentes sobre a série ser “lenta”, “tediosa” e que “não leva a lugar nenhum”.

O influenciador digital Pedro Pacífico, mais conhecido como Bookster, analisa que essa dificuldade em apreciar conteúdos mais lentos revela uma contradição: “É muito comum as pessoas falarem que a vida está acelerada, que não conseguem dar conta. Mas quando vem uma série que tem uma proposta deliberadamente mais devagar, a gente reclama, não consegue acompanhar”.

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A aceleração das produções audiovisuais

 

Estudos revelam que, em Hollywood, as cenas duram hoje, menos que 5 segundos, enquanto antigamente, por volta dos anos 1930, passavam de 10 segundos. Esta redução do tempo de duração das cenas demonstra como a indústria tem respondido à demanda por conteúdos mais dinâmicos.

Além disso, o fenômeno do “speedwatching” (assistir a vídeos com a velocidade acelerada) também se tornou comum. Inicialmente aplicado a áudios de WhatsApp e vídeos curtos, agora atinge filmes, séries e até aulas online, com estudantes que escutam conteúdos educacionais em velocidade 2,5 vezes maior que a normal.

Consequências para a saúde mental e o aprendizado

 

Esta aceleração constante traz sérias consequências. Estudos mostram comprometimento da capacidade de concentração e paciência, aumento da ansiedade devido ao constante senso de urgência, e redução significativa na capacidade de absorção e memória.

“Quando você está assistindo a uma aula em 2,5 vezes a velocidade normal, é muito difícil conseguir absorver aquela informação da mesma forma. Isso impacta diretamente a memória”, explica Pacífico, citando pesquisas que comprovam a redução da capacidade mnemônica em estudantes que consomem conteúdo acelerado.

A aceleração também afeta a apreciação artística. Quando uma série é concebida em ritmo mais tranquilo, com cenas contemplativas onde aparentemente “não acontece muita coisa”, acelerar esse conteúdo significa contrariar a proposta estética original do diretor ou criador.

O mesmo fenômeno é observado na literatura, com editoras optando por livros mais curtos e enxutos para atender a demanda por consumo rápido.

Para Pacífico, a recomendação é resistir a essa tendência: “Qual é a minha recomendação? É que exista realmente um esforço de tentar seguir nesse ritmo mais lento. É difícil? É desconfortável? Mas insista naquilo, porque é como se fosse um treino, uma academia para a nossa paciência, para o nosso tédio”.

(Fonte:CNN Brasil)