Correio de Carajás

Sobrevivente da Ponte JK critica reinauguração e aponta falta de apoio às famílias das vítimas

Jairo perdeu a esposa e a filha no desabamento da ponte JK em 22 de dezembro de 2024
Por: Luciana Araújo

Um ano após o desabamento da Ponte JK, ocorrido em 22 de dezembro de 2024 na região de Estreito e que ligava os estados do Tocantins e Maranhão, a estrutura foi reaberta para o tráfego. A coincidência entre a data da reinauguração e o aniversário do acidente gerou críticas de Jairo Rodrigues, de 37 anos, único sobrevivente da tragédia.

Procurado por veículos de comunicação, Jairo, que mora em Tucuruí, optou por não conceder entrevista formal, explicando que a data deixou sua saúde emocional fragilizada. No acidente, ele perdeu a esposa, Cássia de Sousa Tavares, de 34 anos, e a filha, Cecília Tavares Rodrigues, de 3 anos. O veículo da família caiu no rio com o colapso da estrutura.

Mas, ainda que tenha evitado a imprensa, Jairo utilizou suas redes sociais, onde é acompanhado por mais de 34 mil pessoas, para se pronunciar. Em vídeo publicado no dia 20 (sábado), ele questiona a decisão das autoridades de reinaugurar a ponte na data exata do desastre e critica a priorização da obra física em detrimento da assistência humana.

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“É muito fácil trabalhar o ano inteiro para botar a ponte para funcionar justamente no mesmo dia que aconteceu essa tragédia. Pelas famílias que perderam seus entes, nada foi feito”, afirma Jairo. Ele argumenta que houve falta de manutenção preventiva na estrutura antiga e classifica o ocorrido como evitável.

LUTO E RECUPERAÇÃO

Emocionado, Jairo relata que desde o acidente não conseguiu retornar para o lar em que vivia com a familia e atualmente mora com a mãe. Ele cita a pratica de atividade física e a fé como os principais meios para lidar com o luto.

“A corrida (de rua) tem me ajudado. Saio para correr, ou melhor, chorar. Penso nelas o tempo todo”, escreveu em uma publicação no dia 21 de dezembro.

No vídeo, o sobrevivente também menciona que evita buscar detalhes profundos sobre o número total de vítimas, que ele estima serem mais de 15 pessoas, para preservar sua saúde mental. Segundo ele, a dor da perda não diminuiu com o tempo, contrariando o que costuma ouvir das pessoas. “Minha vida e a de todos que perderam alguém nunca vai voltar ao normal”, lamenta.

A tragédia da Ponte JK marcou o final de 2024 pela ausência de aviso prévio no colapso e pelo número de vítimas fatais. Um ano depois, o foco das autoridades locais manteve-se na reconstrução da via de ligação.

EMPATIA

Comentários de internautas em uma publicação da Gazeta Carajás, no Instagram, exalam empatia e compaixão pela dor de Jairo.

“Só Deus para te dar muita força amigo”, diz Camila Sanches em solidariedade.

Adrivy Caldas expressa seu sentimento com um pedido: “Que Deus dê conforto para esse coração machucado”.

Por sua vez, Nêssa Gonçalves é empática com o sentimento de Jairo: “Também tinha esse pensamento, que a dor diminui com o tempo, até acontecer comigo e eu ver que, de certas tragédias, somos punidos por não termos morrido também”.

Há ainda quem desabafe sobre o desabamento, afirmando que a ponte “deu sinais” e que órgãos governamentais foram omissos com a situação precária da construção.

“Onde estavam os políticos do Tocantins e Maranhão que não viram os sinais de desgastes da estrutura da Ponte? Será que ninguém viu que a ponte precisava de manutenção ou seria interditada? Precisou morrer 17 inocentes pra construírem outra ponte em tempo recorde, mas não fizeram nada pra evitar o desabamento da outra. É um crime contra a população que usava a ponte, um crime ambiental pelos escombros da ponte além dos veículos e produtos químicos que caíram nas águas do rio Tocantins”, questiona Evangelina Sousa.

Sua opinião é reverberada pela usuária @lucynarapersonalizados: “A ponte deu muitos avisos de falta de manutenção. Não desabou ‘sem aviso prévio’. Foi muita omissão das autoridades competentes. Infelizmente teve que acontecer uma tragédia para poder refazer outra ponte. Muito triste”. (Com informações da Gazeta Carajás)