Correio de Carajás

Vassoura-de-bruxa: MPPA promove ações de combate à praga no Pará

Doença é causada por um fungo de ocorrência inédita no País e já há registros no Amapá e no Pará

Mandioca é produto essencial na culinária paraense e pode sofrer com doença da vassoura de bruxa/ Fotos: Reprodução
Por: Kauã Fhillipe com informações do MPPA, g1 e Embrapa

O avanço da praga conhecida como vassoura-de-bruxa da mandioca segue no radar do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), que mantém acompanhamento contínuo e fiscalização das medidas adotadas pelo poder público para conter a doença. A atuação é conduzida pela 12ª Promotoria de Justiça Agrária de Marabá, que desde o começo de agosto vem instaurando procedimentos, expedindo recomendações e participando de articulações técnicas e institucionais sobre o tema.

A praga, causada pelo fungo Ceratobasidium theobromae, já foi confirmada no Amapá, onde alcança ao menos 10 municípios, e no Pará teve registros positivos em áreas do Parque Nacional do Tumucumaque, envolvendo os municípios de Almeirim e Oriximiná. Até o momento, segundo dados do monitoramento, foram realizadas 1.856 inspeções e coletadas cerca de 40 amostras. Especialistas alertam que a doença compromete seriamente a produtividade da mandioca, base alimentar e econômica de milhares de agricultores familiares e povos tradicionais.

Desde o início das atividades de monitoramento, o MPPA acompanha reuniões técnicas com órgãos federais, estaduais, universidades e secretarias municipais de agricultura da 3ª Região Agrária. Nessas discussões, a promotora de Justiça Agrária Alexssandra Muniz Mardegan tem dado destaque sobre a necessidade de ações permanentes, ressaltando que, no Amapá, a praga já provocou redução de até 25% na produção em algumas áreas, o que acende um alerta para o Pará.

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Entre as frentes defendidas pelo Ministério Público estão o fortalecimento das pesquisas da Embrapa, campanhas de conscientização em linguagem acessível, sobretudo sobre os riscos da troca de manivas, e a ampliação de barreiras sanitárias para controle do trânsito de material vegetal. Também foi proposta a criação de um fundo estadual da mandioca, nos moldes do que já existe para o cacau, além de um canal direto de comunicação com produtores via aplicativos de mensagens.

A Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará) informou que em agosto, os focos confirmados no Pará permaneceram restritos, possivelmente relacionados à troca de sementes com comunidades do Amapá. Já o Ministério da Agricultura e Pecuária solicitou crédito extraordinário para ampliar pesquisas e reforçar medidas emergenciais. Paralelamente, ações educativas vêm sendo executadas em várias regiões: somente em 2025, foram registradas 415 ações, alcançando mais de 5,7 mil pessoas, com palestras, entrevistas, cursos e distribuição de material informativo.

MPPA abriu várias medidas de prevenção da praga no estado, que ameaça se espalhar por todas as regiões

Em setembro, o MPPA participou de reunião emergencial na Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), em Belém, e integrou a I Caravana de Educação Sanitária sobre a vassoura-de-bruxa da mandioca, realizada em Cametá. Já em outubro, a Promotoria Agrária de Marabá expediu recomendação formal aos municípios da 3ª Região Agrária para adoção de medidas preventivas, incluindo a aquisição emergencial de mudas sadias e a previsão orçamentária específica.

Apesar dos avanços, o MP aponta dificuldades na adesão de alguns gestores municipais. “Há resistência e desconhecimento, especialmente por se tratar de uma cultura historicamente ligada aos agricultores mais pobres e povos tradicionais”, avalia a promotora Alexssandra Mardegan. Ainda assim, ela destaca conquistas recentes, como a primeira doação de mudas sadias destinada a comunidades indígenas no Pará.

O Ministério Público conclui que continuará monitorando a execução das políticas públicas e cobrando providências para evitar a disseminação da praga. A vassoura-de-bruxa provoca deformações severas na planta, como brotações excessivas, nanismo, murcha e morte progressiva, podendo se espalhar por ferramentas, solo, água e material vegetal contaminado, o que torna a vigilância permanente essencial para proteger a segurança alimentar no estado.