O primeiro lançamento de um foguete comercial no Brasil, marcado para esta quarta-feira (17), foi adiado novamente. A informação foi divulgada pela empresa Innospace, sul-coreana responsável pela produção do veículo e confirmada pela Força Aérea Brasileira (FAB).
O novo lançamento está previsto para esta sexta-feira (19), na Base de Alcântara (MA).
Em nota, a Innospace afirmou que o adiamento ocorreu para “garantir tempo para a substituição de componentes” após uma anomalia ser detectada no dispositivo de resfriamento do sistema de fornecimento de oxidante do primeiro estágio durante o procedimento de inspeção final para o lançamento.
Leia mais:Ainda segundo a Innospace, cuja sede é em São José dos Campos (SP), “a medida envolve apenas a substituição de alguns componentes do sistema de refrigeração e que o foguete não apresenta defeitos estruturais”.
“Embora normalmente sejam necessários três dias para novas operações de lançamento, como a substituição das peças pode ser feita com o foguete já posicionado na plataforma, o lançamento poderá ocorrer dois dias depois”, diz a nota.
Já a FAB afirmou que “mantém suas infraestruturas, sistemas e equipes técnicas plenamente operacionais, garantindo todo o suporte necessário para a realização do lançamento, em coordenação com os demais órgãos envolvidos”.
O g1 solicitou um posicionamento à Agência Espacial Brasileira (AEB) sobre o adiamento, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Essa é a 2ª vez que o lançamento do foguete HANBIT-Nano, que levará cinco satélites à órbita da Terra, é reprogramado. Em novembro, também na véspera do lançamento – que seria no dia 22 – a Innospace e a FAB anunciaram que precisavam de mais tempo para fazer ajustes adicionais no veículo para avaliar seu desempenho durante o voo.
HANBIT-Nano
O HANBIT-Nano é capaz de atingir a atmosfera e chegar ao espaço em até três minutos, tem 21,9 metros de altura, pesa 20 toneladas e possui 1,4 metro de diâmetro (veja mais detalhes abaixo). Em sua trajetória até a órbita da Terra, ele pode chegar a 30 mil km/h.
Em números simplificados, ele equivale à altura de um prédio de sete andares, pode voar até 30 vezes mais rápido que um avião comercial e tem peso semelhante ao de quatro elefantes africanos.
Batizada de Spaceward, a missão envolve um trabalho coordenado pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB). O objetivo é levar ao espaço cinco satélites e três dispositivos que auxiliarão pesquisas em mais de cinco áreas, desenvolvidas por instituições do Brasil e da Índia.
🌌🔭 O lançamento do foguete HANBIT-Nano ocorrerá em dois estágios e poderá ser visto a olho nu dos céus de Alcântara (MA) e em parte do litoral de São Luís (MA).
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Se bem-sucedido, o lançamento pode representar um avanço do Brasil rumo ao mercado global de lançamentos espaciais. A compensação monetária paga pela Innospace ao governo brasileiro para a missão não foi informada.
A Agência Espacial Brasileira (AEB) informou que a Innospace firmou um acordo de prestação de serviços pelo valor mínimo de retribuição ao Estado com o Governo Brasileiro. Essa modalidade não prevê lucro.
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Localização ‘privilegiada’
Construído na década de 1980, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no litoral do Maranhão, conta com atrativos geográficos que fazem a área ser bastante cobiçada para o lançamento de dispositivos espaciais.
📌 Dentre os motivos, está a localização próxima à linha do Equador, que faz com que os foguetes gastem menos combustível e, com isso, o custo da operação seja menor. Além disso, a área fica próxima a uma ampla extensão do litoral, tem baixa densidade do tráfico aéreo e um amplo leque de inclinações orbitais para os lançamentos.
💨Quanto menor a latitude — sendo zero na Linha do Equador —, melhor é considerado o local para a realização de lançamento de foguetes. A velocidade de rotação de superfície, necessária para colocar o foguete em órbita, é maior quanto mais próximo do meridiano que divide os hemisférios Norte e Sul. Isso exige menor consumo de combustível da aeronave e menor tempo de viagem à órbita.
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Apesar destas qualidades, a base se tornou por décadas subutilizada. Entre os motivos, estão o grave acidente há mais de 20 anos no local e questões fundiárias. A tragédia interferiu na consolidação do Brasil no mercado espacial, com redução da atividade em Alcântara a partir de 2003.
➡️ O acidente aconteceu três dias antes do lançamento do foguete VLS-1, protótipo que colocaria em órbita dois satélites nacionais de observação terrestre. A estrutura estava montada e o dispositivo passava por ajustes finais, quando um dos motores teve uma ignição prematura e o protótipo foi acionado antes do tempo. A torre acabou explodindo e 21 civis que trabalhavam no local morreram.
Já a questão fundiária levou Alcântara até a Cortes internacionais. Os conflitos pela terra com as comunidades quilombolas que viviam na região antes da instalação da base viraram processos judiciais que se arrastaram por décadas.
Nova fase
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A Operação Spaceward, que vai lançar o HANBIT-Nano, marca o início de uma nova era do Programa Espacial Brasileiro. O foguete pode inserir o Brasil no mercado global espacial, contribuir na melhora da tecnologia dos dispositivos espaciais e atrair novos investimentos estrangeiros, alavancando o Programa Espacial Brasileiro.
A abertura da base ao mercado de lançamento de foguetes comerciais em Alcântara começou a se tornar possível devido a um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) assinado pelos governos brasileiro e dos EUA, em 2019.
Pelo acordo, dispositivos desenvolvidos com tecnologia norte-americana e por empresas privadas autorizadas por ele poderiam ser lançados de Alcântara, e o Brasil ficaria habilitado a receber uma compensação monetária.
Isso porque são os EUA que produzem grande parte dos componentes presentes em foguetes lançados no mundo. Porém, os norte-americanos não autorizam esses dispositivos a serem lançados por países nos quais eles não possuem acordos na área espacial. Com a assinatura, em 2019, o processo foi simplificado.
“Antigamente não era proibido, mas para cada lançamento que você fizesse, precisava de uma autorização especial. Agora, é muito mais fácil”, explicou Marco Antonio Chamon, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB).
(Fonte:G1)
