Correio de Carajás

Projeto da Unifesspa promove inclusão digital de idosas e é finalista de prêmio nacional

Iniciativa ‘Tece Mulher’ combate analfabetismo digital em Marabá, devolvendo cidadania e autonomia de mulheres amazônidas 60+

Projeto leva segurança e cidadania para as mulheres ao ensiná-las a usar aplicativos de celular/Foto: Divulgação
Por: Luciana Araújo

Um projeto de extensão da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) tem transformado a vida de mulheres idosas na região ao oferecer letramento e inclusão digital. A iniciativa, batizada como ‘TecerMulher’ está em seu segundo ano e é coordenada por Léia Sousa, professora do curso de Sistemas de Informação. Recentemente a iniciativa ganhou visibilidade nacional ao se tornar finalista do ‘Prêmio LED – Luz na Educação’, realizado pela Rede Globo.

Focado em mulheres amazônidas, muitas delas sem formação escolar, o projeto atua de forma itinerante, levando conhecimento digital para dentro de ONGs, associações de bairro e CRAS. Segundo Léia, o projeto leva segurança e cidadania para as mulheres ao ensiná-las a usar aplicativos de celular.

LETRAMENTO DIGITAL

Leia mais:

A motivação para o projeto surgiu de um dado alarmante. Em Marabá, cerca de 86% das participantes relataram já ter caído em golpes digitais ou sofrido tentativas. Em Nova Ipixuna, município que também recebeu oficinas, esse índice chegou a 90%.

“A inclusão digital é o uso prático de aplicativos, como banco e delivery. Já o letramento é a parte crítica, entender a política da tecnologia e não ser convencido por informações falsas”, explica Léia.

A falta de letramento faz com que a pessoa dê informações para bandidos, alerta a professora. Muitas vezes, ao tentarem o golpe do sequestro, a própria vítima acaba fornecendo o nome do familiar sem perceber, diz ela para exemplificar.

Indo além de educar digitalmente pessoas de uma geração anterior à popularização da tecnologia, o ‘TecerMulher’ é sensível ao sentimento de ‘não pertencimento’ que recai sobre esse público.

“Descobrimos que, embora muitas sonham em entrar na universidade, elas não se sentem seguras ou ‘dignas’ de ocupar esse espaço. Por isso, atuamos em locais onde elas já se sentem acolhidas”, afirma Léia.

Léia revela que cerca de 86% das participantes marabaenses já caíram em golpes digitais/Foto: Evangelista Rocha

Nessas oficinas, os instrutores voluntários usam uma metodologia que inclui um diagnóstico inicial feito através de um teste, que é adaptado para a linguagem regional e identifica o nível de proficiência das alunas. A partir daí é definido o foco do curso, seja indo pelo lado da segurança, uso de Whatsapp ou de aplicativos bancários.

As aulas são adaptadas e utilizam material visual e linguagem simples para atender participantes não alfabetizados. Há, ainda, uma troca de saberes uma vez que alunos da graduação atuam como voluntários, criando uma interação entre jovens e idosos.

Em Marabá, as ações já passaram por locais como o Instituto Esperança e Vida, Clube de Mães, Instituto Vida Bela, e CRAS do bairro Amapá.

IMPACTO EM NOVA IPIXUNA

A realização de oficinas no município de Nova Ipixuna aconteceu após um pedido de socorro, após o diagnóstico do alto índice de golpes na cidade. Eliúde Mendes, coordenadora do CRAS local, descreve o projeto como um “divisor de águas”.

“Nossos idosos são carentes e muitos vivem sozinhos. O projeto ‘pegou na mão’ deles. Hoje, eles mandam localização, fazem chamadas de vídeo e ligam para os filhos com segurança. Os olhos deles brilham”, relata Eliúde.

Segundo ela, a demanda foi tão alta que o número de interessados dobrou após a primeira turma, realizada em novembro, impulsionada pela propaganda boca a boca dos próprios participantes. Mas, para que continue alcançando o público de municípios vizinhos, o ‘TecerMulher’ carece de financiamento.

Eliúde compartilha que o projeto mudou a vida de idosos de Nova Ipixuna/Foto: Evangelista Rocha

BUSCA POR RECURSOS

Apesar do sucesso, o projeto enfrenta dificuldades financeiras. Em 2025 a equipe de voluntários caiu de 12 para 7 pessoas devido à falta de verba para transporte e materiais. Foi essa necessidade que motivou a inscrição no Prêmio LED.

No processo de inscrição, após passar por uma rigorosa curadoria, entrevistas e auditoria externa, o projeto chegou à fase final. No próximo dia 10, a equipe apresentará um pitch de 3 minutos para um júri composto por especialistas e personalidades da mídia.

Para 2026, a premiação é de R$ 1,2 milhão, e será distribuída entre seis iniciativas visionárias que promovem transformações na educação brasileira.

Criado pela Globo e pela Fundação Roberto Marinho, o prêmio reconhece projetos inovadores na área da educação. A premiação milionária será dividida entre seis vencedores, nas categorias: Estudantes, Educadores e Empreendedores ou Organizações.

Para Léia, o ‘TecerMulher’ é um forte candidato ao prêmio final: “A grande vantagem do nosso projeto é que não trouxemos algo de fora. Criamos algo da nossa região para as pessoas da nossa região. É uma forma de combater a nova violência estrutural que é a exclusão digital”.