📅 Publicado em 03/12/2025 17h30
Ao longo dos meses de dezembro e janeiro, a Galeria de Artes Vitória Barros exibe a mostra “Legado Vivo” para o público marabaense. Localizado na Avenida Itacaiunas, núcleo Cidade Nova, o espaço abriga a iniciativa que reúne trabalhos de diversos artistas brasileiros e tem curadoria de Adriana Scartaris e mentoria de Chris Acyoli. A exposição busca provocar reflexões profundas sobre questões de raça, identidade e o legado deixado por pessoas pretas no Brasil.
Em entrevista ao Correio de Carajás, Vitória explica que o nome da mostra não foi escolhido por acaso. Ele é um convite à educação e ao reconhecimento da contribuição de pessoas e grupos marginalizados ao longo do tempo. Nomes como Conceição Evaristo, Glória Maria e Ruth de Souza ocupam lugar de gala na exibição.
“É um momento de debate mundial sobre a questão étnica, sobre o racismo e sobre uma série de coisas. Isso traz também certas ideias de violência e de antagonismo, por isso o Clube de Artistas propõe um debate de legado vivo, com essa pegada educativa”, ela afirma. A proposta é usar a arte como ferramenta de visibilização daqueles que muitas vezes foram apagados da história brasileira.
Leia mais:A artista também destaca que o formato da exposição, com trabalhos impressos em papel, foi pensado para garantir acessibilidade e reduzir os custos, ampliando o alcance e democratizando o acesso.

“É uma proposta muito interessante, educativa e reflexiva, e eu fico muito orgulhosa de trazer essas posições para a minha galeria. Já levamos (a exposição) ao Museu Francisco Coelho, ao instituto da Lara e para as faculdades. Temos recebido muitas visitas”, celebra.
Entre as obras exibidas, chama a atenção o retrato de Nilo Pestana, criado pela própria Vitória. Ele foi um homem negro que, ainda em um Brasil recentemente libertado da escravidão, conquistou diploma de direito, tornou-se advogado e assumiu a presidência do país em 1909 após a morte do presidente Afonso Peña e serviu até 1910.
A obra de Vitória resgata essa memória e reforça que o respeito a indivíduos é fundamental e que muitos são ignorados pela história oficial. Ela admite ter se sentido honrada pela oportunidade de retratar Pestana e resgatar sua identidade.
“Então, a gente tem que ter esse respeito por esse homem que estava esquecido. E eu vou te falar, para mim, foi um grande prazer puxar essa memória dele. É engraçado que, depois da pesquisa do Clube de Artistas, muitas pessoas negras foram, vamos dizer assim, trazidas de volta. Pessoas que nem estão aqui nessa exposição”.
A mostra agrega trabalhos de vários artistas com temáticas que vão da ancestralidade ao protagonismo negro, da identidade étnica à cultura indígena, e reflexões sobre classe social, desigualdade e história. A curadoria ressalta a diversidade de olhares, fortalecendo a narrativa proposta pela organização.
A exibição ficará aberta ao público até o fim de janeiro. Para Vitória, “Legado Vivo” é uma oportunidade de resgatar histórias e valorizar identidades das pessoas pretas.
“Essa exposição maravilhosa, serve pra gente abordar a questão: ninguém tem o privilégio exclusivo de ser inteligente, de criar coisas, de deixar legado. Todos nós temos essa capacidade, né? Claro, está provado aqui”, reflete.

