A V Feira de Troca de Sementes Tradicionais do Sul e Sudeste do Pará foi realizada nesta quinta-feira, 27 de novembro, na Unidade III da Unifesspa, em Marabá, consolidando-se como um dos eventos mais significativos da universidade para a preservação de sementes crioulas, o fortalecimento da agricultura familiar e a valorização dos saberes tradicionais do campo.
Neste ano, a feira ganhou um novo marco: pela primeira vez, foi realizada em parceria com o Instituto Federal do Pará (IFPA), integrando-se ao evento do instituto, a I Feira Agroecológica do IFPA. A colaboração amplia o alcance e o impacto da iniciativa, conectando agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e representantes de instituições públicas em um espaço de trocas, formação e partilha de experiências.
A temática desta edição destacou a interligação entre sementes crioulas, a produção do cacau e os impactos das mudanças climáticas, abordando desafios e práticas que atravessam o cotidiano dos agricultores familiares da região.
Leia mais:Durante a programação, ocorreu uma mesa de conversa com participação de convidados, incluindo uma representante da CPT do Ceará, que compartilhou experiências em organização comunitária de sementes, preservação de variedades tradicionais e os impactos do uso de agrotóxicos no território cearense.
As atividades tiveram início na quarta-feira, no IFPA, com programação ao longo de todo o dia. À noite, participantes se reuniram para um momento de confraternização na Cabanagem, espaço mantido pela CPT e utilizado como alojamento para agricultores de assentamentos distantes de Marabá. Nesta quinta-feira (27), a feira seguiu até o meio-dia no campus da Unifesspa, com rodas de diálogo, visitação e a tradicional troca de sementes.
Gesto simbólico de partilha

A tradicional troca de sementes ocorre por volta de 11 horas e representa o ponto alto da programação. Agricultores foram convidados a trazer sementes, mudas e variedades tradicionais de suas comunidades. Ao mesmo tempo, a feira recebeu sementes e mudas enviadas pelo ICMBio e pela Embrapa, reforçando a parceria entre universidade e instituições de pesquisa.
Diferente de uma troca rígida, a proposta da feira é baseada na partilha: “quem quiser pegar, pode pegar; quem quiser deixar, pode deixar. A ideia é que todas as sementes e mudas circulem e cheguem a quem mais precisa”, explica Barbara Ranke, uma das responsáveis pela organização da feira.
Essa lógica comunitária ajuda a manter vivas variedades tradicionais, muitas vezes ameaçadas pela homogeneização das sementes comerciais, além de fortalecer redes de solidariedade entre famílias agricultoras.
A feira integra ações desenvolvidas pela Feira dos Povos do Campo, iniciativa realizada quinzenalmente na Unidade III da Unifesspa. O espaço funciona como ponto de encontro entre agricultores familiares da região, permitindo a comercialização de produtos, o compartilhamento de saberes e a apresentação de projetos ligados à agricultura sustentável.
Muitas das agricultoras presentes mantêm vínculos constantes com a universidade por meio de projetos de extensão, pesquisa e atividades formativas, reforçando o diálogo entre universidade e território.
Chegando à sua quinta edição, a Feira de Troca de Sementes Tradicionais reafirma sua importância como espaço de preservação da agrobiodiversidade, de valorização dos saberes camponeses e de fortalecimento da agricultura familiar na Amazônia.
Mais do que uma atividade acadêmica, a feira representa um gesto político e cultural: cultivar, proteger e disseminar sementes crioulas é também cultivar histórias, identidades e resistências.
