📅 Publicado em 22/11/2025 07h26
A ponte sobre o rio Araguaia na BR-153, ligando Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA), foi inaugurada esta semana, no dia 18 de novembro, com grande solenidade e participação de autoridades políticas. Desde então, ela está plenamente liberara para o tráfego de veículos, mas alguns pontos sobre a obra sofreram questionamentos e o ministro dos Transportes, Renan Filho, em respostas aos jornalistas, entre eles a equipe do Correio de Carajás, respondeu sobre cada um deles.
A comunidade de São Geraldo estranhou a falta de iluminação sobre a ponte, um item que tem a ver com a segurança de quem transita por ali à noite e que foi amplamente divulgado como parte do projeto inicial da obra. Sem prometer uma data, Renan afirmou que a ponte receberá iluminação, sim.
De outro lado, sobre o traçado original da cabeceira (aterro de aceso) da ponte do lado do Tocantins, onde houve uma adaptação, com a construção do mesmo com duas curvas seguidas em “S”, o ministro revelou que havia uma questão fundiária e jurídica impedindo a pista em linha reta, e que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). optou por essa adaptação para que a inauguração da ponte não fosse protelada novamente.
Leia mais:Renan Filho disse que esse ajuste para o traçado original será feito e ainda prometeu que será construído ali, em Xambioá, um anel viário, facilitando de vez a conexão entre o tráfego da ponte a BR-153 e demais saídas da cidade.
“Nós faremos um anel viário na cidade de Xambioá para dar uma possibilidade de quem não precisa passar dentro da cidade possa seguir viagem tranquilamente”, afirmou Renan Filho.
A obra do anel viário, que não estava no contrato original da ponte, foi selecionada pelo governo federal como um novo investimento para a região, com início previsto para o primeiro semestre de 2026.
O ministro destacou a importância da obra para os governadores Wanderlei Barbosa (TO) e Helder Barbalho (PA), como solução de curto prazo.
Desapropriações
Renan Filho também foi questionado sobre algumas famílias de São Geraldo do Araguaia, afetadas pela construção do aterro da cabeceira da ponte, e que relatam não terem recebido, ainda, o dinheiro das indenizações
O ministro afirmou que todas as desapropriações necessárias para a construção da ponte já foram 100% pagas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), mas estão em juízo. Ele ressaltou que a liberação dos valores para os proprietários depende agora de trâmites judiciais.
“Está faltando apenas a justiça liberar para cada um dos interessados baseado em processo. Isso já está externo à decisão do governo federal, mas eu mesmo estou falando com a justiça para que liberem o quanto antes a desapropriação das pessoas”, declarou.

Impacto Econômico
O ministro celebrou a entrega da que era, até então, a maior ponte em construção no Brasil. Segundo ele, a estrutura irá beneficiar significativamente os dois estados, promovendo a integração e o desenvolvimento da região Norte do país. Ele destacou o potencial da obra para impulsionar oportunidades de trabalho e fortalecer os setores produtivos locais, especialmente o agronegócio e o turismo, que têm forte presença na região.
A ponte
Considerada um marco para o desenvolvimento regional, a estrutura possui 1.727,36 metros de extensão. A plataforma conta com 12 metros de largura de pista e acostamento, além de calçadas de 1,50 metro de largura em cada lado. Os acessos à ponte totalizam 2.010 metros, sendo 310 metros no lado paraense e 1.700 metros no lado tocantinense, mantendo as mesmas especificações de largura da plataforma e calçadas.
PARÁ
O governador Helder Barbalho participou da entrega da nova ponte ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e destacou a enorme importância da obra para o Estado do Pará.
A estrutura representa um avanço histórico para a mobilidade da região ao garantir mais segurança para a população e ao fortalecer o corredor de transporte da BR-153. A expectativa é de que o fluxo de mercadorias ganhe maior agilidade, ampliando o escoamento da produção agropecuária, industrial e mineral, consolidando a competitividade do Pará, do Tocantins e de toda a Região Norte no cenário nacional e internacional.
“Que felicidade vivenciar este capítulo da história do Norte do Brasil, com a integração do Pará ao Tocantins e de toda a região ao restante do país. Hoje passa um filme na minha cabeça. Em 2012, atravessei esse trecho do Araguaia de barquinho com a Daniela porque era a única alternativa, e isso simbolizava o atraso e as dificuldades enfrentadas pela população”, afirmou o governador.
Helder Barbalho também fez questão de recordar o caminho percorrido até a conclusão da ponte, reforçando o compromisso do Estado e da União com o progresso regional.
Ponte aposenta a balsa e é vista como fator de desenvolvimento por populares
A entrega da ponte encerra um ciclo marcado por mais de quatro décadas de espera, especialmente para quem dependia diariamente da travessia por balsa, que podia chegar a custar mais de trezentos reais e enfrentava limitações operacionais. A equipe do Correio de Carajás conversou com pessoas da comunidade em São Geraldo do Araguaia, no território paraense, e a expectativa é grande de que a ponte seja um indutor de desenvolvimento para a cidade. Os moradores se mostram felizes com a novidade.
Um deles é o professor Gilson Arruda, 62 anos, natural do município. Ele descreveu o momento como uma “independência” e uma “vitória” para toda a região, fortalecendo a integração que sempre existiu entre as populações de São Geraldo e Xambioá.

“É um sonho realizado”, afirmou, visivelmente emocionado. A inauguração teve um significado ainda mais profundo para ele. “O meu pai (in memoriam) esperou por tanto tempo por esse sucesso e não conseguiu. E para mim é um fato histórico participar disso hoje”, compartilhou. O pai dele faleceu há três anos, sem ver o sonho se tornar realidade.
Despedida da balsa
A reportagem também encontrou grupo de funcionários da empresa Pipes, operadora das balsas, e que agora perderam os empregos naquela localidade. A companhia promete absorver os colaboradores que aceitarem mudar para outras cidades, mas não é oque deve acontecer com os que têm raízes em São Geraldo e em Xambioá.
Cerca de 80 pessoas estavam envolvidas na operação das quatro balsas, além da parte mecânica, escritório, departamento financeiro, entre outros.
Irlano Souza Gama, gerente da empresa Pipes, disse que a balsa operou pela última vez nas primeiras horas da manhã do dia 18, antes da solenidade de inauguração, até que emissários do Dnit enviaram pedido de que fossem encerradas as travessias.
Irlano, que será transferido para outra operação da empresa em Filadélfia (MA), se mostrou resignado. “A gente não pode nem dizer que fica triste. Por um lado, é o desenvolvimento chegando”, ponderou.

Ele lembrou que a balsa foi fundamental para o escoamento da produção de soja e carne da região e que, agora, levará essa “bonança” para outras localidades que ainda carecem de infraestrutura.
Outra colaboradora, Fran Rodrigues, que trabalhou na empresa por cinco meses, descreveu a experiência como “incrível”, lamentou a perda dessas vagas de trabalho, mas mostrou esperança de se recolocar em outras atividades.

“Foi uma demissão em massa, né? Muitas famílias vão ficar desempregadas. Era de onde a gente tirava o sustento”, disse ela. Filha de São Geraldo, mas tendo morado muitos anos em Goiânia, Fran encara o futuro com otimismo. “A nossa vida é feita de ciclos. E ciclos se abrem e se encerram. Creio que quando Deus fecha uma porta, ele escancara várias. Deus proverá”.
Essa visão é compartilhada por Raimundo Rufino da Silva, mototaxista há 18 anos. Para ele, a ponte representa uma melhoria direta no seu trabalho e na vida da população. “Para nós é melhor, né? Porque quando você ia passar para o outro lado era um sacrifício”.
Os mototaxistas ainda não criaram uma “taxa interestadual” como valor base para uma corrida até o outro lado da ponte. Uma viagem dentro de São Geraldo, de moto, custa R$ 10, em média. (Patrick Carvalho)
