📅 Publicado em 17/11/2025 18h24
Há mais de cinco anos, a marabaense Heidiany Moreno, presidente do coletivo Instrelas, é um dos nomes mais firmes na defesa do parto digno e no enfrentamento da violência obstétrica, em Marabá. Nos dias 14 e 15, ela representou o município em dois dos mais relevantes espaços de formulação política paralelos à COP, fortalecendo a conexão entre justiça climática e justiça reprodutiva, uma pauta que, como ela frisa, não corre em paralelo, se sustenta mutuamente.
Heidiany foi uma das protagonistas do único painel da Cúpula dos Povos dedicado a discutir gestação, parto e nascimento articulados à agenda climática. Na Cúpula dos Povos a mesa reuniu 86 mulheres e diversas instituições, como a Clínica de Direitos Humanos da Sesupa, representantes da OAB-Marabá, movimentos indígenas e quilombolas. “Fomos o único painel a falar sobre gestação, parto, nascimento intercalado com justiça climática na Cúpula dos Povos e na Blue Zone”, destaca Heidiany.
Entre as presenças, estavam a advogada Regiane Guajajara (povos indígenas), Vanusa (quilombo Abacatal), a doutora Natália, da Clínica de Direitos Humanos, além de representantes da Rede Feminista Nacional e integrantes da Associação de Doulas do Pará.
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O debate, que durou três horas, resultou em encaminhamentos que foram incluídos na carta final da Cúpula dos Povos, reafirmando que a justiça climática só se concretiza com um nascimento humanizado e digno. O documento reforça que não é possível falar em justiça climática sem abordar nascimento e dignidade no parto.
Segundo Heidiany, a justiça reprodutiva se conecta de forma direta à justiça climática porque ambas tratam, no fundo, do mesmo princípio: o direito das mulheres, especialmente negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas e periféricas, de viver, gestar e criar suas crianças em ambientes saudáveis, seguros e livres de violência.
A roda de conversa reafirmou que não existe justiça climática quando mulheres continuam morrendo por violência obstétrica e quando seus territórios são contaminados; quando o desmatamento e os grandes empreendimentos destroem rios, alimentos, plantas medicinais e redes comunitárias que sustentam a vida.
Para ela, a justiça reprodutiva amplia a justiça climática ao reconhecer que o corpo das mulheres também é território, e que políticas ambientais não podem ignorar os impactos diretos sobre a saúde materna, a autonomia reprodutiva, a mortalidade materna e neonatal, e o direito de criar crianças em territórios íntegros.
BLUE ZONE
No sábado (15), a marabaense voltou a representar o município, desta vez dentro da Blue Zone, espaço oficial e restrito da conferência. Novamente, ela participou do único painel que tratou de maternidade e clima. “Foi bem interessante porque foi o único painel que falou sobre esse tema dentro da área, que intercalou maternidade, gestação com meio ambiente e justiça climática”, explica.

A apresentação alertou para os impactos dos agrotóxicos sobre corpos gestantes, uma pauta urgente diante do aumento de abortos espontâneos e problemas na gestação.
A mesa contou com representantes da Rede Crioula Nacional e militantes feministas do Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar da limitação de acesso ao evento, o debate foi considerado extremamente válido, sobretudo pela presença majoritária de brasileiras, o que permitiu aprofundar desigualdades vividas por mulheres da Amazônia.
Ao CORREIO, Heydiany destacou que o trabalho foi amplamente elogiado, justamente por evidenciar um debate que ainda não recebe a devida visibilidade dentro da agenda de justiça climática. O painel também contou com deputadas coautoras do projeto de lei das doulas e atuantes na pauta de enfrentamento à violência obstétrica no país.

A participação da ativista marabaense nos dois dias de debates reafirma uma tese central, em que não existe justiça climática quando mulheres seguem morrendo no parto, quando seus corpos são violados e quando seus territórios são destruídos. Heidiany escreveu o nome de Marabá em um debate internacional e reforçou o protagonismo amazônico na defesa da vida, do território e do nascer digno.
