A conferência global do clima chegou ao quinto dia com avanços celebrados por pesquisadores e diplomatas: mais quatro países entregaram suas metas climáticas e o Fundo de Perdas e Danos começou a primeira rodada de financiamento, por exemplo. Além disso, a pesquisadora do Imazon, Brenda Brito, informou em transmissão ao vivo no canal do Amazônia Vox, que cerca de 60% dos temas em discussão já têm textos de decisões em andamento.
Paraense, Brenda acompanha as COPs desde 2008, na Polônia. Em Belém, ela espera que esta edição deixe um legado e consiga progredir em temas como os indicadores de adaptação climática. “Foi montado um grupo de especialistas que, ao longo dos últimos dois anos, trabalhou a partir de uma extensa lista inicial de 5 mil indicadores, que conseguiram reduzir para cem. É um trabalho muito grande que já foi feito”, explica Brenda.
A partir desses indicadores, que envolvem áreas como saúde, educação e patrimônio histórico, será possível medir se há, de fato, progresso global em adaptação. No entanto, Brenda observa que países africanos e árabes estão pedindo mais dois anos para discutir melhor o tema. Outros países defendem que a decisão seja tomada agora, com possibilidade de ajustes como a redução no número de indicadores. Também há dúvidas sobre o futuro desse processo: “Depois de criados, os indicadores continuarão como um item permanente nas próximas COPs?”, questiona.
Leia mais:Brenda ressalta ainda que a agenda de mitigação, voltada à redução das emissões de gases de efeito estufa, possui métricas mais consolidadas, enquanto a adaptação continua sendo subfinanciada. Por isso, uma das principais demandas da sociedade civil nesta COP é triplicar os recursos destinados à adaptação, hoje em torno de 20 bilhões de dólares – mas ainda não há consenso sobre isso.
Outro ponto forte é a transição justa, tema mandatado para o próximo ano, mas que a sociedade civil exige que avance já em Belém. A proposta que se busca é que haja a aprovação do Mecanismo de Ação de Belém (BAM), que seria vinculado à UNFCCC, para coordenar as estratégias dos países na transição justa para um mundo sem emissões. “Para isso, você tem que saber o que vai acontecer com as pessoas que ainda estão vinculadas aos combustíveis fósseis, trabalhadores que vão perder empregos e questões ligadas à educação e gênero”, salienta a pesquisadora.
Brenda elogia a diplomacia brasileira e enxerga a capacidade da presidência da COP30 de contornar tensões, como o que aconteceu com os quatro itens sugeridos de última hora que não entraram oficialmente na agenda, mas seguirão sendo discutidos em paralelo, evitando atrasos nas negociações formais.
Ela destaca ainda que esta COP traz um componente novo: uma pressão popular muito maior vindo das ruas de Belém. “É um choque de realidade para os negociadores. Estamos em uma década crítica para as ações climáticas. Vamos ver se isso acende o calor das negociações.”
O que acontece hoje a partir de agora
A embaixadora Liliam Chagas reforça que, para os negociadores, “o final de semana não é final de semana”. Hoje (15), grande parte dos 145 itens em discussão será repassada pelos órgãos subsidiários para a presidência da COP, entrando na fase técnica final antes das decisões políticas da semana que vem.
Ainda haverá consultas nesta manhã, e os países farão seus relatos formais à plenária da tarde, depois das 16h. Além disso, há a expectativa de uma sessão especial para abordar o mapa do caminho Baku-Belém, um roteiro proposto pelo Governo brasileiro para guiar como o planeta vai alcançar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático anual até 2035.
“Na próxima semana, muitos ministros de nossos países, responsáveis por Clima e Meio Ambiente, estarão aqui. Segunda e terça [17 e 18] estarão discursando nas plenárias no segmento de Alto Nível”, complementa a embaixadora. Alguns temas serão retomados apenas em junho de 2026, em Bonn.

Perdas e Danos começa a operar
A primeira semana da COP30 também trouxe desdobramentos para o Fundo de Perdas e Danos, criado na COP28, em Dubai. O fundo foi oficialmente colocado em operação na COP29, e agora os países negociam suas primeiras diretrizes formais, instruções que a COP enviará ao comitê gestor.
Segundo a embaixadora Liliam Chagas, a intenção é que esse seja um fundo “diferente dos demais, mais acessível às comunidades impactadas por eventos climáticos extremos”.
Ainda na segunda-feira (10), o fundo lançou seu primeiro pedido de propostas de financiamento, um marco considerado histórico pela velocidade do processo – menos de três anos, quando outros demoraram quatro anos no mínimo. Para essa fase inicial, existem regras especiais válidas pelos próximos dois anos, que devem facilitar o acesso rápido ao dinheiro.

Fonte: Amazônia Vox / texto de Alice Martins Morais
