Correio de Carajás

Educação, saúde e justiça climática avançam como pilares na COP30

Adaptação deixou de ser um objetivo abstrato e passou a ser tratada como imperativo humano/Foto: Rafa Neddermeyer - COP30 Brasil Amazônia
Por: Luciana Araújo
✏️ Atualizado em 14/11/2025 14h55

O quarto dia da COP30, quinta-feira (14), em Belém, trouxe novamente o bem-estar humano para o centro das negociações climáticas. As discussões reforçaram que a adaptação a um planeta em aquecimento passa pela proteção da vida, por sistemas de saúde preparados para novos riscos, por educação capaz de formar gerações resilientes e por uma agenda de justiça que garanta equidade na resposta global à crise.

O momento mais significativo do dia foi a adoção do Plano de Ação de Belém para a Saúde, o BHAP, considerado um ponto de virada na agenda que conecta saúde pública e mudança climática. Elaborado pelo Brasil em parceria com a Organização Mundial da Saúde, o plano cria um roteiro para que países estruturem sistemas de saúde resilientes, baseados em vigilância mais robusta, capacitação técnica, inovação e decisões sustentadas por evidências científicas.

O BHAP já recebeu 80 endossos, incluindo 30 países e 50 organizações da sociedade civil e intergovernamentais. Para apoiar sua implementação, a Coalizão de Financiadores de Clima e Saúde anunciou um aporte inicial de 300 milhões de dólares, reunindo fundações como Rockefeller, Wellcome Trust e IKEA Foundation.

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Ao defender o BHAP, Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC, afirmou que proteger a saúde em um clima em mudança exige uma resposta integrada da sociedade. Já Alexandre Padilha, ministro da Saúde, destacou que não há alternativa além de adaptar políticas públicas à nova realidade climática.

MOTOR DE TRANSFORMAÇÃO CLIMÁTICA

A pauta da adaptação avançou também no campo educacional. A Reunião Ministerial sobre Educação para a Sustentabilidade, organizada pelo Brasil e pela UNESCO, reafirmou a educação como motor de transformação climática. O encontro apresentou experiências de currículos e avaliações que incorporam alfabetização climática desde a escola básica, além do novo framework PISA para medir competências ligadas ao clima. Para o ministro Camilo Santana, é necessário preparar estudantes para transformar o mundo, não apenas compreendê-lo.

Justiça e direitos humanos tiveram espaço próprio na programação. No “Dia da Justiça”, representantes de sistemas jurídicos de vários países discutiram caminhos comuns para enfrentar a crise climática sob uma perspectiva legal.

Edson Fachin, ministro e presidente do Superior Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), reforçou o papel do Judiciário como agente de indução de comportamentos e de promoção da justiça climática. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, reiterou que ética e justiça são pilares inescapáveis da ação climática e que punir infratores ambientais é um ato de proteção à humanidade.

A presidência da COP30, representada pelo embaixador André Corrêa do Lago, lembrou que esta precisa ser a COP da implementação, e que o Judiciário ocupa posição central para acelerar esse processo.

OUTROS EIXOS

Outra frente que ganhou impulso foi o financiamento. A iniciativa FINI, lançada por organizações internacionais, mira 1 trilhão de dólares em carteiras de projetos de adaptação até 2028. O objetivo é transformar Planos Nacionais de Adaptação em projetos viáveis para atrair investimentos públicos e privados. O dia marcou ainda o lançamento da Iniciativa Conjunta de Troca de Dívidas por Resiliência, proposta por BID, CAF e CDB, que busca aliviar a pressão da dívida e ampliar a capacidade de resposta a desastres no Caribe.

O fortalecimento de sistemas de alerta antecipado também esteve em foco. Um novo relatório mostrou que mais de 60% dos países já têm mecanismos de monitoramento multirrisco. Para ampliar essa cobertura, a iniciativa CREWS lançou sua Estratégia 2030, apoiada por contribuições de países como Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Bélgica, Irlanda e Espanha. Os recursos visam melhorar observações meteorológicas, especialmente em nações vulneráveis.

A agenda do dia incluiu ainda o lançamento da Árvore de Compromissos Sumaúma, prática que reúne compromissos de ação climática baseados em direitos humanos. A iniciativa estabelece um roteiro entre a COP30 e a COP31 para incentivar governos a promover ações concretas em defesa de direitos no contexto climático.

Outro tema estruturante foi a harmonização de padrões globais para contabilidade de carbono. A ISO e o GHG Protocol anunciaram prioridades para aumentar a interoperabilidade entre sistemas de medição, permitindo maior comparabilidade entre países e setores. Segundo Dan Ioschpe, campeão climático da COP30, a contabilidade de carbono é estratégica para transformar promessas em resultados concretos.

A integridade da informação também entrou em pauta. O Brasil apresentou avanços na criação do capítulo nacional da Iniciativa Global para Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas, liderado pelo MMA, MRE e Secom. A rede RPIIC mostrou ferramentas desenvolvidas para fortalecer o acesso a dados confiáveis e combater a desinformação ambiental. Para a secretária-adjunta de Políticas Digitais, Nina Santos, a construção de uma base sólida de informação é essencial para orientar decisões diante da crise climática.

Na programação paralela, a juventude marcou presença. Na Zona Verde, a Youth Climate Champion da Presidência, Marcele Oliveira, participou de uma ação ao lado dos mascotes Zé Gotinha e Curupira. No Pavilhão do Pará, ela ressaltou a importância da vacinação para a proteção de populações vulneráveis e do papel do SUS como elemento estruturante na redução de desigualdades.

Ao final do dia, saúde, educação, justiça e financiamento formaram um eixo comum: adaptação deixou de ser um objetivo abstrato e passou a ser tratada como imperativo humano. Em Belém, governos, instituições financeiras, organizações internacionais e sociedade civil reforçaram que cada investimento em adaptação é, antes de tudo, um investimento nas pessoas. (Com informações da equipe de comunicação da COP30)