É inevitável: o cheiro de peixes mortos exala das margens do Rio Tauari, no ponto em que caminhões coletam água para a incorporadora Buriti. Do alto de uma árvore, ali próximo, dezenas de urubus farejam e descem para se alimentar da carne que se transformou num banquete, tendo como mesa os pedrais da margem esquerda do rio.

Nesta terça-feira (11), alertados pela reportagem do CORREIO DE CARAJÁS sobre a mortandade misteriosa de peixes, fiscais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) foram ao local, nos fundos do Bairro Cidade Jardim, em Marabá. Confirmada a cena preocupante, eles agora tentam descobrir o que está matando os peixes e a origem de possíveis produtos químicos.
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Espécies como surubis, caris, pintados, piaus e até arraias foram encontrados inicialmente por moradores da redondeza, que filmaram e enviaram para a Reportagem do CORREIO. As filmagens são do último domingo (9) e segunda-feira (10).
Quem gravou o vídeo alerta sobre o cheiro forte de diesel descendo o rio, possivelmente derramado em algum ponto a jusante (acima) de onde os peixes foram encontrados mortos. Carlos Daniel França, que mora no Cidade Jardim, explica que vai ao Tauari tomar banho com os filhos frequentemente, mas no último final de semana isso foi impossível. “O nível do rio está baixo, os peixes ficam mais vulneráveis e eu nunca tinha visto uma cena daquela, de dar dó, pois havia muitos mortos sobre as pedras”, disse França.
Procurada pela reportagem do CORREIO, a professora doutora Andrea Hentz, uma estudiosa sobre a qualidade da água dos rios Tocantins e Tauari, que fica próximo à Unidade 3 da Unifesspa, informou que teve contato com os vídeos, mas infelizmente não pode atuar neste momento porque se encontra em Belém, participando da COP 30.

Disse, também, que o Rio Tauari tem sido castigado nos últimos anos em função de vários fatores, como resíduos de indústrias e assoreamento. “Quando eu retornar a Marabá vou fazer análise da água nesse ponto específico para tentar entender o que está acontecendo”, antecipou a professora, que é uma das principais referências do curso de Agronomia, da Unifesspa.
A promotora Josélia Leontina de Barros, da Promotoria de Meio Ambiente de Marabá, disse que vai acompanhar o caso, inclusive vai solicitar um relatório detalhado à Secretaria de Meio Ambiente.
O professor Mateus Chaves, também da Unifesspa, disse que para ter segurança sobre o que acontece seria necessário realizar coleta de água em vários trechos do Rio Tauari, analisando parâmetros físico-químicos como PH, temperatura, oxigênio, entre outros. “Para morrer várias espécies de peixes como arraia, bagres e outros, certamente algo de grave aconteceu, porque todos os indivíduos que estavam naquele ecossistema foram afetados por isso. Pode ter sido descarte de alguma substância tóxica naquela região, mas também pode ser a falta de oxigênio no rio devido ao processo de poluição. Um terceiro fator seria a quantidade de algas presentes no rio, que consomem boa parte do oxigênio na água. Mas como o rio tem uma boa corredeira, descarto essa possibilidade”, explica.
Os técnicos da Semma disseram que só vão se manifestar publicamente sobre o assunto depois que fizerem uma varredura para investigar a causa e origem da morte dos peixes.
