Correio de Carajás

Conheça a tradição das erveiras que presentearam o príncipe William

Banhos de cheiro unem saberes indígenas, africanos e caboclos em tradição que atravessa séculos.

Jovens dá presente inusitado dado ao príncipe William na COP 30 — Foto: Arquivo pessoal

Frascos coloridos com nomes curiosos como “abre caminho”, “chama dinheiro” ou “passa no concurso”. O produto pode ser encontrado no mercado Ver-o-Peso, em Belém, no Pará. É o tradicional banho de cheiro paraense.

A mistura de óleo e ervas em pequenos vidrinhos é apenas um dos aspectos curiosos de uma tradição ancestral, que é considerada patrimônio cultural e imaterial do estado. As donas do título são as erveiras do Ver-o-Peso.

São mulheres que trabalham em família e que preservam saberes tradicionais sobre plantas típicas da Amazônia que são transformadas em óleos, pomadas, banhos e garrafadas voltadas para saúde física e espiritua.

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Presente para o príncipe

 

O príncipe William recebeu um desses frascos durante visita ao Museu Paraense Emílio Goeldi, na quinta-feira (6). O presente foi dado por representantes do Instituto Cojovem, organização paraense que atua com juventudes e clima na Amazônia.

O momento descontraído viralizou nas redes sociais, e muita gente achou que o item entregue ao príncipe seria o famoso “Óleo da Bôta”, um “perfume amazônico” considerado afrodisíaco, associado a rituais de sedução e lendas.

Segundo Carla e Pedro Mota, coordenador de pesquisa do Instituto Cojovem, o que eles entregaram foi o ‘cheirinho Atrai Políticas Públicas para a Juventude’, um produto criado por eles.

“É um símbolo do nosso desejo de afastar a crise climática e atrair direitos e orçamento para a juventude amazônica”, explicou Carla.

A tradição das erveiras do Ver-o-Peso

 

No Ver-o-Peso, as erveiras — mulheres que dominam o saber das plantas medicinais e aromáticas — mantêm viva uma prática que mistura espiritualidade, natureza e herança cultural.

O banho de cheiro é preparado com ervas como arruda, manjericão, alecrim, jasmim, alfazema e a raiz amazônica priprioca, conhecida pelo perfume terroso e intenso. Cada combinação tem um propósito específico: atrair amor, abrir caminhos, afastar o azar ou trazer prosperidade.

A tradição carrega influências indígenas, caboclas e africanas, transmitidas de geração em geração. Mais que um produto típico, o banho é um ritual de fé e proteção, preparado com rezas e intenções, em que cada planta tem um significado simbólico.

Além das festas juninas, o banho de cheiro é usado em momentos de renovação pessoal e celebrações religiosas, como o Círio de Nazaré e a virada do ano. O costume representa o modo amazônico de se relacionar com a floresta — não como cenário, mas como fonte de cura e sabedoria popular.

(Fonte:G1)