Após uma série de eventos preparatórios, a COP30 começa oficialmente nesta segunda-feira (10) e se estende até o dia 21 novembro.
Apesar de saldos positivos classificados pelo governo como as sinalizações de interesse por parte de mais de 50 países pelo fundo das florestas, o TFFF na sigla em inglês, a COP segue com desafios latentes que permeiam as três décadas de conferências climáticas e as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, em 2015.
Passados todos estes anos desde o primeiro encontro – Berlim, 1995 -, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram em um terço; o consumo de combustível fóssil continua a aumentar; e as temperaturas globais estão a caminho de ultrapassar os limites que têm sido alertados pelo cientistas, com efeitos significativos ao planeta.
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Na última terça-feira (4), um relatório divulgado pela ONU alertou que as emissões globais de carbono permanecem muito altas para impedir o aquecimento global.
De acordo com o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o mundo caminha para um aquecimento extremo de 2,3 a 2,5°C, número distante do que foi estabelecido como meta pelo Acordo de Paris, em 2015, de impedir que o aquecimento ultrapasse 1,5 grau Celsius.
O World Resources Institute, um grupo de pesquisa e defesa do clima, afirmou em um relatório de outubro que as metas governamentais de redução das emissões de gases de efeito estufa para 2035 continuam insuficientes para evitar que as temperaturas globais subam mais de 1,5°C acima da era pré-industrial.
As temperaturas globais ultrapassaram a marca de 1,5°C em alguns anos, sendo que 2023 e 2024 estão entre os mais quentes já registrados, embora a média móvel de 30 anos — a referência usada pelo acordo de Paris — ainda esteja abaixo desse nível.
Mesmo com os alertas, um dos pontos de atenção para os especialistas é o uso de combustíveis fósseis.
A Agência Internacional de Energia projeta que a demanda por carvão — um dos combustíveis mais poluentes quando queimado — se manterá em níveis recordes até 2027, uma vez que o aumento da demanda na China, na Índia e em outros países em desenvolvimento compensa as quedas em outros lugares.
Alguns passos adiante
Apesar das dificuldades, em alguns segmentos, os dados apontam que a preocupação com o meio ambiente vem ganhando espaço. Segundo dados da AIE (Agência Internacional de Energia), a adoção de energia solar e eólica acelerou, as vendas de veículos elétricos dispararam globalmente e a eficiência energética em geral melhorou.
O investimento global em energia limpa atingiu US$ 2,2 trilhões no ano passado, superando o US$ 1 trilhão investido em combustíveis fósseis, segundo dados da AIE.
“Há dez anos, jamais poderíamos ter imaginado que esses avanços tecnológicos e a queda nos preços de veículos elétricos e energias renováveis ocorreriam”, disse Jennifer Morgan, ex-enviada especial da Alemanha para o clima e veterana de todas as cúpulas da COP.
Ainda assim, o crescimento das energias renováveis e dos veículos elétricos compensou em grande parte a crescente demanda por energia, em vez de substituir os combustíveis fósseis.
A cúpula de líderes
Entre a última quinta (6) e a sexta-feira (7), ocorreu em Belém a Cúpula de Líderes, um dos eventos pré-COP mais importantes e que trouxe sinalizações sobre o tom que será adotado ao longo da conferência.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trouxe a questão do multilateralismo como elemento de um de seus discursos. Segundo ele, não existe solução para o planeta fora do âmbito das ações conjuntas entre os países. “A Terra é única. A humanidade é uma só. A resposta tem de vir de todos, para todos.”
O presidente também abordou a questão do financiamento para ações climáticas e defendeu que grandes multinacionais e os chamados super-ricos tenham uma tributação mínima para contribuir com a agenda de redução da emissão de gases.
Quem também cobrou grandes empresas foi o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Muitas empresas estão obtendo lucros recordes com a devastação climática, com bilhões gastos em lobby, enganando o público e obstruindo o progresso, e muitos líderes permanecem cativos a esses interesses arraigados”, disse.
Já Gabriel Boric, presidente do Chile, criticou as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o aquecimento do planeta. “O presidente dos Estados Unidos, na última Assembleia da ONU, disse que a crise climática não existe, e isso é uma mentira.”
Desde que assumiu, o governo Trump tem sido criticado pela postura frente a questão climática. Logo após assumir, Trump anunciou a retirada dos EUA do Acordo de Paris. Além disso, o republicano é uma das principais ausências da COP30.
COP30 e as metas brasileiras
As Contribuições Nacionalmente Determinadas são compromissos nacionais de redução de emissões e adaptação climática assumidos por cada país que integra o Acordo de Paris. A atualização e o cumprimento dessas metas são avaliados periodicamente pela ONU.
No caso do Brasil, a atual NDC estabelece uma meta de redução entre 59% e 67% das emissões de GEE (gases de efeito estufa) até 2035, tomando como referência os índices de 2005.
Em números absolutos, isso significa que o país busca limitar suas emissões em 2035 a um intervalo entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO2. O objetivo é zerar as emissões líquidas no Brasil até 2050.
Para alcançar a redução nas emissões, o país também adota como medida principal a proposta de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e zerar o desmatamento de maneira geral até 2035.
O documento que detalha as NDCs brasileiras também reúne um resumo de políticas públicas para viabilizar as propostas, como o Plano de Transformação Ecológica, que envolve a participação dos Três Poderes na mitigação das mudanças climáticas.
Especialistas ouvidos pela CNN Brasil consideram as metas brasileiras para o clima realistas, porém pouco ambiciosas em relação ao potencial do país.
(Fonte: CNN Brasil)
