📅 Publicado em 30/10/2025 11h23
As lendas que atravessam gerações, guardadas na memória popular e que encantam a cada nova contação, agora ganham novos versos nas mãos de Lusa Silva, professora e escritora apaixonada pela cultura regional. Amanhã, dia 31 de outubro, data em que se celebra o Dia do Saci, o Museu Municipal Francisco Coelho, na Marabá Pioneira, recebe o lançamento da coleção “Os Cordéis de Lusinete”, uma homenagem poética ao imaginário popular do Brasil.
A coleção reúne seis obras que revisitam personagens clássicos do folclore, como o Saci, Curupira, Matinta Pereira, Porca de Bobes e o Boto, todos sob o olhar criativo de Lusa. Inspirada pelas histórias que ouvia do pai na infância e aquelas que conheceu aqui em Marabá, a autora une tradição e poesia, transformando as narrativas em versos rimados cheios de humor, encantamento e conscientização.
Mais do que recontar mitos, Lusa recria essas figuras. Em suas mãos, o Saci ganha novos sentidos, o Boto celebra uma festa mística com outras entidades e até a temida Porca de Bobes ensina sobre respeito e obediência. “O cordel chama a atenção, é lúdico, é atrativo e eu sempre coloco um pouco de mim nele. É isso que o poeta faz”, diz a autora.
Leia mais:A Matinta Perera, que é sempre lembrada como uma bruxa velha, sinônimo de mau agouro durante a noite, ganha uma nova versão como uma entidade pronta para farrear. “Na minha história, ela é a mais animada que tem. Ela gosta da cachaça, do fumo e leva para as festas”, comenta.
Até a aparência dos livros conta uma história especial. As ilustrações são feitas por artistas autistas da cidade, incluindo a filha de uma professora, que ilustrou o livro da Porca de Bobes e da Matinta. Lusa disponibiliza uma folha para cada material que criou, dedicada a contar a história de cada pessoa que contribuiu com o projeto, reforçando que um trabalho nunca é feito por uma única pessoa.
A ideia da coleção nasceu de um pedido de professores de Marabá, que viam na escrita de Lusa uma ferramenta de educação e valorização cultural. Hoje, os cordéis circulam nas escolas, despertando o gosto pela leitura e pela cultura regional. O projeto foi contemplado pelo edital da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, oferecido pela Secretaria Municipal de Cultura, e agora chega ao público em um evento que promete celebrar a encantaria amazônica.
Natural da Paraíba e marabaense de coração, Lusa Silva é professora de língua portuguesa, membro da Academia Paraense de Literatura de Cordel e socio-fundadora da Associação de Escritores do Sul e Sudeste do Pará (Aessp). Unindo em sua escrita a oralidade nordestina e o imaginário amazônico, ela acredita que o cordel é a ponte entre o passado e o futuro. No Dia do Saci, o convite está feito: ir ao museu é entrar num mundo onde o folclore vive, canta e encanta. “Eu quero que muitas crianças compareçam no dia do lançamento. É importante que elas estejam lá para serem incentivadas a gostar de ler. Além disso, o evento vai ajudar as crianças a conhecerem um pouco mais desse mundo mágico e encantado”.
O DIA DO SACI NO MUSEU MUNICIPAL
Durante o lançamento, o Museu Francisco Coelho se tornará palco de uma grande festa cultural, com desfile de lendas, música e sessão de autógrafos na Sala das Lendas. Personagens do folclore sairão das páginas e ganharão vida, convidando o público a mergulhar nesse universo de fantasia.
Lara Luz, diretora do Museu, destaca que promover uma festa das lendas no dia que é comemorado o halloween mundo afora, é valorizar a identidade local através das histórias tão presentes no cotidiano marabaense. “Nós da equipe do Museu, formada por historiadores, pensamos então uma forma para utilizar esse dia para refletir, para além do aspecto folclórico, sobre a valorização das lendas como forma de resistência cultural e promoção de saberes populares, de diferentes visões de mundo, das relações sobre a natureza e os aspectos sociais que são historicamente contados através das histórias das lendas locais.
A ideia da programação é atrair todos os públicos no dia 31 à noite, a partir das 18h com teatro, karaokê, sarau de poesias e lançamento da coleção da professora Lusa. “A ideia é que seja uma noite para todos, um momento de retomada com potencial cultural e educativo capaz de transpassar barreiras geracionais e educar a população de que as narrativas das lendas dialogam com passado e presente, inclusive da realidade da Velha Marabá em que muitos relatam ter visto lendas nas proximidades”, destaca a diretora.
