📅 Publicado em 28/10/2025 08h28
Dois anos se passaram desde o assassinato dos irmãos Gabrielle Souza Mota, de 25 anos, e Andrey Pereira Mota, de 31, ocorrido na madrugada de 28 de outubro de 2023, no estacionamento da Feira Agropecuária de Canaã dos Carajás (ExpoCanaã). O crime, que chocou a cidade, permanece sem solução.
O inquérito policial instaurado pela Polícia Civil para apurar o caso ainda não foi concluído. A última movimentação processual registrada nos autos ocorreu em julho deste ano, e até o momento ninguém foi preso nem indiciado.
O Correio de Carajás teve acesso ao processo, que já soma 163 páginas, mas que, passados dois anos, ainda não traz respostas sobre quem matou Gabrielle e Andrey. Celma Mota, mãe de Gabrielle e madrasta de Andrey, diz viver uma rotina de dor e indignação.
Leia mais:“O que eu quero é justiça. Já se passaram dois anos e eu continuo sem resposta. Eu temo que o caso seja esquecido e arquivado”, desabafa Celma.

Ameaça antes do crime
Quinze dias antes do duplo assassinato, um fato marcante ocorreu. Em 15 de outubro de 2023, Celma recebeu uma mensagem anônima por WhatsApp com ameaças direcionadas à filha:
“Dá uns conselhos para sua filha, parar de se envolver com homem casado, esse p***. Porque se ela continuar nessa situação ela vai achar o que ela não quer! O recado está dado (sic).”
A ameaça consta no processo e foi confirmada por Celma à reportagem. Ela contou que tentou ligar diversas vezes para o número, mas nunca descobriu o autor.
Durante as investigações, a Polícia Civil localizou o aparelho de onde a mensagem foi enviada. O número pertence a um celular usado comercialmente em uma loja de assistência técnica, acessado por diferentes pessoas e chips. Seis pessoas foram ouvidas como testemunhas, mas nenhum responsável pela ameaça foi identificado.
A madrugada do crime
Na madrugada de 28 de outubro, após o encerramento de um show na ExpoCanaã, Gabrielle, Andrey e uma amiga seguiram para o estacionamento. Gabrielle assumiu o volante de um Volkswagen Polo branco, Andrey ocupou o banco do passageiro e a amiga ficou atrás.
Segundo o relato da testemunha, um homem se aproximou e anunciou um assalto, exigindo a chave do carro e os celulares. Gabrielle chegou a ligar a luz interna do veículo para procurar o próprio telefone, momento em que o criminoso gritou:
“Desliga a p*** da luz, tá pensando que essa arma é de brincadeira?”
Ela obedeceu, entregou o celular e, logo depois, foi baleada na cabeça. O criminoso então atirou contra Andrey, a cerca de cinquenta centímetros de distância, também atingindo a cabeça da vítima.
Após os disparos, o homem fugiu na garupa de uma motocicleta escura e alta, levando os celulares e a chave do carro.
A perícia confirmou que os tiros foram disparados com um revólver calibre 38 e que os pneus do lado do motorista estavam esvaziados, o que demonstra premeditação.

Crime premeditado, acredita a família
Para Celma Mota, não há dúvidas de que o crime foi planejado. Ela rejeita a versão de latrocínio (roubo seguido de morte).
“Se fosse assalto, eles teriam levado o carro, o dinheiro, as joias. Mas nada disso foi levado. Só os celulares. Isso foi uma execução”, afirma.

Nos autos, consta que o local do crime não tinha câmeras de segurança, mas que a Polícia Civil solicitou imagens à Secretaria Municipal de Segurança Pública Viária (SEMSPUV). Três motocicletas de cor escura foram registradas circulando nas imediações entre 4h25 e 5h31, porém os donos não foram ouvidos.
Inquérito sem conclusão
O caso é atualmente conduzido pelo delegado Luca França da Costa Soares, que assumiu o inquérito em abril de 2024, após a transferência da delegada Isabella de Luca Martines para Parauapebas.
Ao assumir, Luca solicitou prorrogação de prazo para concluir as investigações, alegando ter sido recentemente designado para a unidade. Desde então, novos pedidos de prorrogação foram feitos, mas o inquérito segue sem conclusão.
O Correio de Carajás questionou a Polícia Civil para saber o prazo previsto para a conclusão do inquérito, as providências adotadas até agora e qual a justificativa para a demora na finalização do inquérito, que já se estende por quase dois anos. Por meio da assessoria de comunicação, limitaram-se a responder que a “Polícia Civil informa que as investigações seguem em andamento para a conclusão do inquérito. Informações que auxiliem na apuração podem ser repassadas pelo Disque-Denúncia”.
O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), por sua vez, não retornou as tentativas de contato até a publicação da matéria.
A dor que o tempo não apaga
Andrey morava em Xinguara, onde trabalhava como entregador. Havia viajado para Canaã para comemorar o aniversário do pai, Antônio Rodrigues Mota, no dia 27 de outubro. A confraternização seria no dia seguinte, mas foi interrompida pela tragédia.
“Naquela noite eu não dormi, fiquei esperando por ela”, recorda Celma. “De manhã, um amigo da minha filha apareceu no portão. Pensei que ela tivesse se acidentado. Mas ele disse que o Andrey tinha morrido na hora.”
Gabrielle ainda chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Os irmãos foram enterrados juntos em Xinguara, cidade natal da família.
Sem respostas, sem justiça
Dois anos depois, a mãe segue sem respostas. Nenhum suspeito foi identificado, ninguém foi preso e o inquérito continua em aberto, sem previsão de conclusão.
Gabrielle deixou dois filhos, um de cinco anos e outro de apenas um ano e quatro meses. O mais velho vive com Celma; o mais novo mora com o pai.
“Eles tiraram a vida de dois jovens cheios de sonhos. E até hoje, nada foi feito. Eu só quero justiça”, conclui a mãe.
