Você dorme o suficiente? Sabemos que uma boa noite de sono é essencial para a saúde, mas muitas pessoas não conseguem dormir adequadamente de forma consistente. Cerca de um em cada três adultos americanos não obtém regularmente a quantidade recomendada de sono ininterrupto necessária para uma saúde ideal, e milhões recorrem a suplementos, medicamentos ou aplicativos de monitoramento em busca de um descanso melhor.
Em vez de rotular as pessoas simplesmente como “bons” ou “maus” dormidores, um novo estudo identificou cinco tipos distintos de sono que podem estar ligados a diferentes padrões de humor, saúde e atividade cerebral. As descobertas, publicadas em 7 de outubro na revista PLOS Biology, podem ajudar a explicar por que os problemas de sono são tão variados e por que melhorá-los pode exigir abordagens mais personalizadas.
Para nos orientar sobre as descobertas do estudo, a CNN conversou com a especialista em bem-estar, Leana Wen. Wen é médica de emergência e professora associada adjunta da Universidade George Washington. Anteriormente, ela atuou como comissária de saúde de Baltimore.
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O que este novo estudo sobre sono revela sobre as diferentes formas como as pessoas dormem?
Dra. Leana Wen: Os pesquisadores se propuseram a entender o sono de uma maneira mais holística — não apenas quanto tempo as pessoas dormem, mas como o sono se conecta à saúde mental, desempenho cognitivo e aspectos da vida diária. Usando dados de mais de 700 adultos saudáveis entre 22 e 36 anos, a equipe do estudo analisou uma ampla gama de informações, incluindo hábitos de sono autorrelatados, humor e personalidade, saúde física, pontuações de testes cognitivos e dados de imageamento cerebral.
O resultado é um mapa multidimensional sugerindo que as pessoas diferem não apenas em quão bem ou quanto tempo dormem, mas em como o sono se entrelaça com humor, estresse, estilo de vida e atividade cerebral. Em outras palavras, “sono bom” ou “sono ruim” pode significar coisas muito diferentes para diferentes pessoas. As descobertas ressaltam que a saúde do sono pode ser melhor compreendida através desses padrões mais amplos e complexos, em vez de qualquer medida única.
Quais são os cinco tipos de sono que os pesquisadores descobriram e por que eles são importantes?
Wen: O estudo descobriu que os perfis de sono das pessoas se enquadravam em cinco categorias amplas.
O primeiro grupo, que os pesquisadores chamam de LC1, combinou sono geralmente ruim e sofrimento psicológico. Esses indivíduos apresentavam dificuldade para adormecer ou permanecer dormindo, acordavam sem se sentir descansados e frequentemente se sentiam cansados durante o dia. Eles também pontuaram mais alto em medidas de ansiedade e depressão.
O segundo grupo, LC2, apresentava sintomas psicológicos, mas relatava sono relativamente normal. Esses participantes mostravam sinais de estresse ou humor baixo, mas não descreviam seu sono como ruim. Os pesquisadores interpretaram isso como uma forma de “resiliência do sono”, significando que algumas pessoas podem enfrentar desafios emocionais sem que isso interfira no sono.
O terceiro perfil, LC3, centrava-se no uso frequente de medicamentos para dormir. Esses participantes tendiam a relatar boa saúde física e relacionamentos sociais sólidos, mas os testes revelaram pequenos declínios na memória e na consciência emocional.
A curta duração do sono, tipicamente menos de seis ou sete horas por noite, definiu o quarto grupo, LC4. Mesmo que nem sempre sentissem as consequências do sono reduzido, eles apresentavam pior desempenho em tarefas de atenção e memória. Essa descoberta está alinhada com pesquisas anteriores que mostram que o sono consistentemente curto está associado a pior função cognitiva tanto a curto quanto a longo prazo.
O quinto grupo, LC5, envolvia sono perturbado ou fragmentado. São pessoas que acordavam frequentemente durante a noite ou tinham dificuldade para respirar confortavelmente durante o sono. Elas eram mais propensas a experimentar ansiedade, problemas com uso de substâncias e menor desempenho cognitivo. Novamente, isso não é surpreendente com base em pesquisas anteriores que documentam a ligação entre sono e saúde física e mental.
Os resultados gerais estão alinhados com pesquisas anteriores que mostram que sono e saúde mental estão intimamente interligados. A perda crônica de sono e os distúrbios noturnos estão relacionados não apenas à menor atenção e memória, mas também a maiores riscos de problemas de saúde mental e física.
Como alguém pode descobrir qual é seu tipo?
Wen: Pode ser difícil para as pessoas usarem este estudo para identificar seu perfil exato de sono. As cinco categorias identificadas neste relatório vieram de análises detalhadas de mais de 100 medidas psicológicas, físicas e cognitivas que as pessoas ainda não podem replicar por conta própria. Além disso, os pesquisadores usaram esses dados para examinar padrões em todo o grupo, então o objetivo não era rotular indivíduos.
Além disso, o estudo mostra apenas associações, não causalidade, e as experiências dos participantes podem não se generalizar necessariamente para uma população maior e mais diversa.
Ainda assim, os perfis oferecem detalhes com os quais as pessoas podem se identificar. Alguém que se sente ansioso e tem dificuldade para dormir pode se encaixar no padrão LC1. Uma pessoa que dorme a noite toda, mas ainda se sente mentalmente estressada, pode se assemelhar ao LC2. Aqueles que dependem de medicação para dormir podem se ver no LC3, enquanto pessoas que rotineiramente se viram com cinco ou seis horas podem se encaixar no LC4. E aqueles que acordam frequentemente durante a noite, roncam ou se sentem exaustos apesar de passarem tempo suficiente na cama podem se enquadrar no LC5.
Essas descobertas poderiam potencialmente mudar a forma como as pessoas abordam problemas de sono?
Wen: Esta pesquisa sugere que os problemas de sono se apresentam de várias formas e, portanto, melhorá-los provavelmente não terá uma solução única que sirva para todos. Um sono melhor pode exigir abordagens mais personalizadas, levando em conta não apenas quanto tempo você dorme, mas como seu estado emocional, rotinas diárias e saúde física se afetam mutuamente.
Para mim, a conclusão é estar atento a quais aspectos do sono você mais lida – como adormecer, permanecer dormindo ou se sentir sem disposição pela manhã – e como esses padrões se conectam com seu humor, energia e concentração. Alguém que fica ansiosamente acordado à noite pode precisar de estratégias de gerenciamento do estresse. Alguém que não dorme o suficiente pode se beneficiar do ajuste de horários. E aqueles que acordam frequentemente podem discutir possíveis causas médicas, como apneia do sono, com um profissional de saúde.
Existem coisas que as pessoas podem fazer agora para dormir melhor?
Wen: Uma das razões mais comuns pelas quais as pessoas têm problemas com o sono é simplesmente não passar tempo suficiente na cama. Se o objetivo é dormir pelo menos sete horas por noite, é útil reservar oito horas na cama para dar ao seu corpo a chance de atingir essa meta. A regularidade também é importante, então tente ir para a cama e acordar aproximadamente no mesmo horário todos os dias.
Também é importante prestar atenção ao seu ambiente de sono. Um quarto fresco, silencioso e escuro favorece um descanso mais profundo.
Evitar o uso de telas antes de dormir pode fazer uma diferença significativa, já que a luz emitida por celulares, tablets e TVs pode atrasar a liberação natural de melatonina pelo corpo. Evitar cochilos longos durante o dia também pode ajudar você a pegar no sono mais facilmente à noite.
Além dessas práticas básicas, a prática regular de atividade física, mindfulness e yoga também podem ajudar. E sempre vale a pena discutir dificuldades persistentes com seu médico de confiança. Ele pode ajudar a descartar condições médicas subjacentes e orientá-lo com melhores práticas para dormir.
(Fonte: CNN Brasil/Faye Chiu)