Correio de Carajás

Cabelo Seco perde a última benzedeira do bairro

Dona Zefinha faleceu aos 77 anos de idade, mas deixou legado de confiança na cura pelas plantas
Por: lUisses Pompeu

Aos 77 anos de idade, Josefa Marques, a Dona Zefinha, faleceu na manhã desta terça-feira (29). Ela era a mais famosa benzedeira do Bairro Francisco Coelho, mas também a última.

Zefinha herdou da mãe, dona Maria Marques de Sousa, o conhecimento sobre o poder da cura através das ervas amazônicas e o dom de “benzer”. Segundo Mestre Zequinha, seu sobrinho e também morador do Cabelo Seco, mesmo idosa e com a saúde debilitada, ela continuava atendendo pessoas que a procuravam para rezas e benzeções.

Segundo apurou a Reportagem do CORREIO, dona Zefinha sentiu-se mal na noite desta segunda-feira (2) e foi levada para o Hospital Municipal de Marabá, onde faleceu nas primeiras horas de hoje.

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Ela leva consigo um importante capítulo da história cultural marabaense, pois dedicou grande parte da sua vida a benzer, sem cobrar nenhum real por isso, crianças e doentes. Por isso, era por muitas vezes chamada em hospitais para acolher doentes através da sua fé. Era uma verdadeira mestra da cultura popular paraense.

Dona Zefinha defendia que as casas do bairro não fossem vendidas para pessoas de outras partes da cidade, o que começou a acontecer depois da construção da orla no encontro dos rios Tocantins e Itacaiunas.

“Muitos aparecem perguntando se não quero vender, dizem que vão dar um bom dinheiro. Botam muito dinheiro na gente para querer comprar nosso pedaço de terra. Mas, não tem dinheiro que pague a minha casa. Ganhei do meu pai e da minha mãe. Vender aqui, nem pensar”, disse ela em entrevista ao CORREIO em 2023.

Com muitos netos e bisnetos, ela disse que já reuniu a família e avisou que não quer que eles vendam a casa quando ela falecer. Com um terreno enorme, ela pede que cada um construa sua casa por lá, mas que não venda.

“Já avisei: ‘não vendam a minha casa, senão vocês vão ver o que vou fazer lá do túmulo. Vou levantar de lá e puxar a orelha de vocês’”, ameaça entre gargalhadas, mas também de forma firme.

O velório está acontecendo em sua residência, em frente à Praça Francisco Coelho, lá mesmo no bairro Cabelo Seco. O enterro está agendado para amanhã, às 9 horas, no Cemitério São Miguel.

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