A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre os riscos do uso recreativo de medicamentos para disfunção erétil, como sildenafila, tadalafila e vardenafila.
Segundo a agência, esses remédios, aprovados apenas sob prescrição médica, vêm sendo consumidos de forma indiscriminada, muitas vezes em suplementos, gomas e até em academias. O uso fora das indicações pode provocar efeitos graves, como infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC), perda de visão e dependência psicológica.
Jovens na linha de frente do consumo
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Para o urologista Mark Neumaier, membro da Sociedade Brasileira de Urologia, o fenômeno do “uso recreativo” tem crescido justamente entre os mais novos.
“Muitos jovens começam a usar por curiosidade ou insegurança. Há também a influência da pornografia, que cria expectativas irreais de desempenho. O problema é que, em pouco tempo, eles passam a acreditar que só funcionam com o comprimido, e isso gera dependência psicológica precoce”, afirma.
Urologista da Rede Total Care e membro da Associação Europeia de Urologia, Mauro Gasparoni reforça que esse comportamento pode ter consequências duradouras.
“Estamos vendo homens saudáveis, sem disfunção erétil, transformando o remédio em um ritual. Isso pode prejudicar a autoconfiança e, no futuro, levar até à disfunção erétil psicogênica — quando a dificuldade de ereção é causada pelo próprio medo de falhar sem a pílula”, explica.
Riscos imediatos e mascaramento de doenças
Os efeitos colaterais mais comuns do uso de medicamentos para disfunção erétil sem prescrição incluem dor de cabeça, vermelhidão no rosto, congestão nasal, palpitações e queda de pressão arterial. Mas os especialistas alertam para complicações mais graves: priapismo (ereção prolongada e dolorosa), arritmias e até eventos cardiovasculares.
Segundo Gasparoni, mesmo em pessoas jovens e aparentemente saudáveis, há riscos:
“Em doses altas ou quando combinados com álcool, esses medicamentos podem provocar queda brusca da pressão arterial, desmaio e até complicações cardíacas. É um erro achar que por ser jovem o corpo vai aguentar sem consequências.”
Cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Bruno Sthefan destaca que a associação com álcool e drogas recreativas torna o quadro ainda mais perigoso.
“O esforço físico da relação, somado ao efeito vasodilatador, pode precipitar um infarto ou um AVC. E quando há consumo de cocaína, êxtase ou até energéticos, a chance de arritmia e morte súbita aumenta muito”, alerta.
Outro ponto crítico é o mascaramento de doenças graves. A disfunção erétil pode ser o primeiro sinal de problemas como diabetes, hipertensão ou aterosclerose.
“Quando o paciente se automedica, perde a chance de investigar a verdadeira causa. Corrige apenas o sintoma e atrasa o diagnóstico de doenças que podem ser fatais”, afirma Sthefan.
Diferenças entre os principais medicamentos para disfunção erétil
Todos os fármacos listados pela Anvisa pertencem à mesma classe: inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5). Eles atuam promovendo vasodilatação e aumentando o fluxo sanguíneo no pênis, o que facilita a ereção após estímulo sexual.
Apesar da ação semelhante, cada um tem particularidades:
Sildenafila (Viagra e genéricos)
- Início de ação: 30 a 60 minutos.
- Duração: até 4 horas.
- Pode ter a absorção prejudicada por alimentos gordurosos.
Tadalafila (Cialis e genéricos)
- Início de ação: em torno de 30 minutos.
- Duração: até 36 horas.
- Pode ser usada em dose diária baixa, inclusive para pacientes com sintomas de próstata aumentada.
Vardenafila (Levitra e genéricos)
- Início de ação: cerca de 30 minutos.
- Duração: até 5 horas.
- Boa tolerância, mas também afetada pela ingestão de alimentos.
Udenafila
- Menos disponível no Brasil.
- Perfil parecido com a tadalafila, podendo ser usada em dose contínua.
Lodenafila
- Desenvolvida no Brasil.
- Início rápido de ação (cerca de 20 minutos).
- Duração média de até 6 horas.
Importante: todos são medicamentos de uso controlado, vendidos apenas com prescrição médica. Nenhum deles tem indicação aprovada para aumento de desempenho físico, ganho de massa muscular ou uso recreativo.
Mercado paralelo aumenta risco
Outro ponto levantado pelos médicos é a diferença entre comprar em farmácia, com prescrição, e recorrer a canais paralelos, como internet ou academias.
“O remédio vendido em farmácia é fiscalizado, tem dose garantida e procedência. Já no mercado paralelo pode estar adulterado, conter substâncias tóxicas ou doses irregulares. O risco é muito maior”, afirma Gasparoni.
Neumaier acrescenta que, além de perigoso, esse tipo de comércio é ilegal. “O paciente nunca sabe o que está tomando de fato. Pode ser uma dose maior que a indicada ou até outro composto disfarçado. É uma roleta-russa para a saúde”.
“Não é atalho para prazer”
A Anvisa reforça que esses remédios só devem ser usados com acompanhamento médico. Entre as recomendações estão: não consumir produtos não regularizados, não manipular fórmulas sem prescrição e denunciar comercializações ilegais.
Para Neumaier, a mensagem é clara: “A saúde sexual precisa ser tratada com seriedade. O uso recreativo não é um atalho para o prazer, mas sim um risco que pode custar caro à saúde”.
Gasparoni resume: “Não é um comprimido inofensivo. Ele pode trazer riscos sérios até para quem se acha saudável”.
E Sthefan conclui: “Esses medicamentos são seguros quando bem indicados. Mas usados sem avaliação clínica, podem custar uma vida”.
(Fonte:G1)