Jovem fotógrafo expõe em Conferência de Turismo em Serra Pelada

Serra Pelada, distrito de Curionópolis, vive um momento de transformação. O lugar que ganhou fama mundial na década de 1980 por causa do garimpo, hoje escreve uma nova história, tendo o turismo, a cultura e a valorização de seus talentos como protagonistas. E um desses talentos é o jovem fotógrafo Alerrano Marinho de Souza, de 24 anos, que estreia no domingo (31), a primeira exposição fotográfica, durante a Conferência de Turismo em Serra Pelada.

O filho de garimpeiro contou ao Correio de Carajás que nasceu e cresceu na vila e carrega na memória uma infância simples, mas repleta de boas lembranças. “Minha infância e juventude foram ótimas, sempre conhecendo novos lugares com meu pai e minha família, jogando bola com os amigos e recebendo uma boa educação, mesmo com algumas limitações”, recorda. Para ele, ser morador de Serra Pelada “significa tudo”, porque todas as suas raízes estão ali.

A descoberta da fotografia

A paixão pelas imagens começou cedo. Aos 10 anos, quando conheceu o celular Nokia N8 do professor Sóstenes, Alerrano ficou encantado com a qualidade das fotos. Pouco tempo depois ganhou o primeiro celular, também da marca Nokia, e passou a fotografar os cenários da natureza durante passeios em família.

O interesse foi crescendo até se transformar em amor verdadeiro pela arte. Nesse caminho, uma referência se destacou: o fotógrafo Anderson Souza, também de Serra Pelada, que conquistou o mundo com exposições de paisagens naturais. “Muitas pessoas já me disseram que meu estilo lembra o dele. Isso me deixa muito feliz, porque ele é uma grande inspiração para mim”, diz.

Hoje, ele se dedica a registrar a essência da vila: a natureza exuberante, mas principalmente as pessoas. Gosta de fotografar de forma espontânea, captando a autenticidade do momento. “Quero registrar cada rosto, principalmente dos pioneiros”, afirma.

Uma de suas imagens mais marcantes foi a de um vizinho, fotografado em um dia chuvoso. “Ele caminhava de cabeça baixa, sozinho. Foi uma cena muito forte, e eu registrei. Meses depois ele faleceu, e aquela foto se tornou ainda mais significativa. Ali eu percebi a importância de eternizar histórias.”

O olhar da nova Serra Pelada

Alerrano acredita que o trabalho desenvolvido por ele é também uma ferramenta de valorização comunitária. “Sempre pensei que precisava mostrar para o mundo o que temos de bom aqui. Serra Pelada tem dificuldades, mas também tem pessoas unidas, inteligentes, alegres. Mostrar isso é a minha forma de chamar atenção para que venham melhorias”, garante.

Ele rejeita a visão estereotipada que muitas pessoas fazem do lugar, como se vivessem na precariedade. “Nosso maior tesouro são as pessoas e os lugares turísticos que temos. Quero que Serra Pelada seja reconhecida por isso”, reforça.

Da comunidade para o mundo

A estreia de Alejandro no universo das exposições acontece em um momento simbólico para Serra Pelada. A Conferência de Turismo, que será realizada no domingo (31), marca um passo importante para a comunidade, que agora se organiza para contar a própria história, desta vez sob o olhar do turismo sustentável, da cultura e da memória coletiva.

Protagonismo

A assessora de comunicação de Curionópolis, Camila Ferreira, detalha ao Correio de Carajás que a ideia de incluir a exposição no evento nasceu do desejo de dar protagonismo aos moradores. “Queríamos que a conferência fosse não apenas um marco do turismo, mas também um momento de representatividade. O Alerrano é um talento da comunidade, um jovem que já desponta como líder e que tem a cara dessa nova Serra Pelada: alguém que valoriza a herança do garimpo, mas que olha para o futuro com gratidão e esperança”, afirma.

As fotos dele estarão expostas em totens digitais, acessíveis ao público durante toda a programação. Além disso, o evento contará com a mostra História em Cores — fotografias antigas colorizadas com tintura a óleo por moradores da comunidade —, feira de artesanato e feira gastronômica.

Mais do que uma exposição, a estreia de Alejandro simboliza um novo capítulo na trajetória de Serra Pelada: o de uma comunidade que se reconhece, se orgulha da própria história e agora projeta o futuro pelas lentes dos próprios filhos.