Correio de Carajás

Pará avança com programa pioneiro de rastreabilidade animal

Com uso de tecnologia e práticas sustentáveis, iniciativa fortalece a cadeia da carne bovina e projeta novos mercados para produtores

“Brincos” de identificação individual animal/Foto: Divulgação

Após o reconhecimento internacional de área livre de febre aftosa sem vacinação em maio deste ano, na França, o estado do Pará deu mais um passo importante para a cadeia produtiva da carne. Promovendo o cadastro sanitário de bovinos e bubalinos desde 2024, o Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA) alcançou um marco histórico com o primeiro abate de animais identificados pelo Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA), em agosto. O lote composto por 20 machos devidamente registrados, oriundos de uma fazenda em Marabá, foi destinado ao frigorífico JBS/Friboi sob inspeção federal. Todo o procedimento foi acompanhado pela plataforma, da saída da propriedade até o abate, consolidando a rastreabilidade como parte efetiva da cadeia produtiva da carne no estado.

Com esse marco, o Pará avança na implementação do Programa de Pecuária Sustentável e Rastreabilidade Individual de Bovinos, lançado em 2023 durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), em Dubai. Conduzido pelo Governo do Estado, por meio da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Seaf), em parceria com o setor produtivo e instituições parceiras, o programa introduziu o SRBIPA, com a meta de identificar individualmente todos os bovinos e bubalinos em trânsito a partir de janeiro de 2026 e alcançar a totalidade do rebanho estadual a partir de janeiro de 2027.

Rastreabilidade Individual Animal

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Identificar cada indivíduo do rebanho é o primeiro passo para uma pecuária mais moderna, segura e valorizada. O Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA) concentra e administra as informações geradas nesse processo. A política pública, pioneira no país, permite que o produtor acompanhe o histórico detalhado dos animais, prevenindo doenças e garantindo rastreabilidade completa do nascimento ao abate.

O processo de identificação, conhecido como “brincagem”, aplica dois brincos em cada bovino ou bubalino: um visual, de cor amarela, e outro eletrônico, de cor azul, com tecnologia de radiofrequência (RFID). Esse recurso, já consolidado em países que adotaram rastreabilidade, funciona sem internet e garante precisão no acompanhamento, utilizando ondas de rádio para identificar diferentes tipos de alvos, incluindo objetos, vegetais, animais, entre outros.

Os brincos são fornecidos gratuitamente pelo Governo do Pará a produtores com até 100 animais, que podem procurar a Adepará em seu município para aderir ao sistema. Em Altamira, Xinguara, Eldorado dos Carajás, São Geraldo do Araguaia e Tucuruí, onde a atividade pecuária é preponderante, a agência conta com três empresas contratadas em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) para auxiliar na identificação dos animais.

Segundo Barbra Lopes, gerente de cadastro e rastreabilidade da Adepará, “com a implantação da rastreabilidade, os animais deixam de ser registrados em lotes e passam a ser acompanhados individualmente, com um número único que funciona como um ‘CPF’. Esse controle trará mais agilidade e precisão no enfrentamento de doenças, fortalecendo a defesa pecuária e contribuindo para uma gestão mais eficiente dos rebanhos do estado.”

No trânsito, a rastreabilidade para as propriedades que aderiram ao SRBIPA ocorre com a confirmação de saída do local de origem: o produtor informa, no Sistema de Gestão Agropecuária (SIGEAGRO 2.0), o número individual de cada cabeça registrada na Guia de Trânsito Animal (GTA), enquanto o frigorífico confirma a chegada do lote. Já dentro da planta industrial, os abates são registrados por leitores eletrônicos, assegurando precisão dos dados também no destino final e garantindo transparência e confiabilidade em todas as etapas da cadeia produtiva da carne.

Sustentabilidade e tecnologia

No arquipélago do Marajó, o produtor Joélcio Fernandes, de Salvaterra, já incorporou a tecnologia ao manejo de búfalos. Em sua propriedade de 138 hectares, mantém 53 animais e dedica 50 hectares à preservação ambiental, exemplo de equilíbrio entre produção e conservação. “A chegada do sistema aqui na região é muito importante para nós que já utilizamos os brincos para sinalizar os nossos animais. O sistema informa peso, vacinas e todo o controle sanitário do animal. É um benefício para identificar a qualidade, a origem e o destino de cada animal”, avalia.

Foto: Divulgação

A gestão das informações é feita pela Adepará, que assegura a proteção dos dados conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Para o diretor-geral da Agência, Jamir Macedo, “o programa de rastreabilidade do Pará coloca a produção do estado em outro nível de organização e qualidade. O status de zona livre de febre aftosa sem vacinação precisa ser mantido, e a rastreabilidade é decisiva para isso.”

 Acesso a mercados

Além da segurança sanitária e da identificação dos animais, o Programa de Pecuária Sustentável e Rastreabilidade Individual de Bovinos garante acesso de produtores rurais paraenses a mercados formais, promovendo geração de emprego, renda e sustento das famílias no meio rural, por meio da Requalificação Comercial, prevista no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne. A política, firmada pelo Governo do Pará com várias instituições, incluindo o Ministério Público Federal, viabiliza o retorno de produtores com áreas embargadas mediante compromisso de recuperação ambiental.

“Nós temos clareza de que é necessário garantir acesso de produtores a mercados sem deixar ninguém para trás. Continuamos atendendo à determinação do governador Helder Barbalho de avançar em uma agenda de desenvolvimento sustentável com inclusão social. A rastreabilidade é um passo decisivo para que a pecuária paraense alcance mercados mais exigentes e fortaleça a inclusão produtiva”, destaca o secretário de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade do Pará, Raul Protázio Romão.

(Agência Pará)