Correio de Carajás

ICMBio garante que APA do Paleocanal não impede hidrovia do Tocantins

Área do Pedral do Lourenção não está dentro do projeto da APA do Paleocanal do Rio Tocantins, mas sim da APA do Lago de Tucuruí, sob a gestão do governo do Estado/Fotos: Duo Produtora
Por: Luciana Araújo e Ulisses Pompeu
✏️ Atualizado em 18/08/2025 13h29

Em nota publicada na manhã desta segunda-feira (18), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ressalta que a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Paleocanal do Rio Tocantins “não inviabiliza a implementação da Hidrovia Araguaia-Tocantins. Pelo contrário, a APA representa uma oportunidade de demonstrar que é possível conciliar desenvolvimento econômico e conservação da biodiversidade”.

A manifestação reforça o levantamento feito por este CORREIO: caso a proposta seja aceita, não haverá nenhum impacto para o projeto do derrocamento do Pedral do Lourenção. Também é importante frisar que o Pedral não está dentro do projeto da APA do Paleocanal do Rio Tocantins, mas sim da APA do Lago de Tucuruí, sob a gestão do governo do Estado.

A discussão sobre o assunto surgiu após o prefeito de Marabá, Toni Cunha (PL), e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), se manifestarem nas redes sociais no domingo (17), contra a criação da APA do Paleocanal. Em sua postagem, Toni Cunha, usando tom agressivo, ameaçou seus secretários municipais de exoneração, caso apoiem a proposta.

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Por sua vez, a nota do ICMBio também garante que esta APA objetiva restaurar e ordenar atividades de pesca, que estão sob pressão devido à pesca predatória externa que ameaça as comunidades.

“A escolha dessa categoria de unidade de conservação é estratégica: as APAs permitem a manutenção de propriedades privadas, a continuidade da agropecuária e a instalação de empreendimentos de grande porte. Assim, esclarecemos de forma inequívoca que a criação da APA do Paleocanal do Rio Tocantins não inviabiliza a implementação da Hidrovia Araguaia-Tocantins. Pelo contrário, a APA representa uma oportunidade de demonstrar que é possível conciliar desenvolvimento econômico e conservação da biodiversidade.

Os paleocanais do Tocantins foram descritos por Aziz Ab Saber, que sugeriu na década de 70 sua proteção. Possuem cerca de 600 lagos que garantem a conservação de espécies ameaçadas e endêmicas e sustento para mais de 50 comunidades de vazanteiros, quilombolas, pescadores, quebradeiras de coco e agricultores. 300 desses lagos já secaram”, diz um trecho da nota.

Caso a proposta seja aceita, não haverá nenhum impacto para o projeto do derrocamento do Pedral do Lourenção

Além disso, o ICMBio também explica que em 2023, a Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM) e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) protocolaram junto ao órgão o pedido de estudos técnicos para criação de Unidades de Conservação na região do Paleocanal do Rio Tocantins. “Os levantamentos realizados comprovaram a relevância natural e cultural da área, que reúne paisagens únicas, biodiversidade, comunidades locais, festas tradicionais e grande potencial para o turismo sustentável. A região também concentra atividades econômicas importantes, como a agropecuária, além de demandas por infraestrutura logística, incluindo a Hidrovia Araguaia-Tocantins”, detalha.

Naquele ano, a presidência da FCCM estava sob o comando de Vanda Américo (UNIÃO), vereadora que se opõe publicamente a Toni Cunha, e vice-versa. Desde 2023, o Correio de Carajás acompanha o andamento do projeto e noticiou o momento em que Vanda pediu, pessoalmente, ao ICMBio, a criação das duas APAs.

Em 2024, uma extensa reportagem especial destrinchou o projeto, abordando a luta para transformar o Paleocanal do Tocantins em APA. Ainda em 2024, técnicos do ICMBio vieram de Brasília para conhecer o Paleocanal do Rio Tocantins. Já em 2025, uma expedição fez o reconhecimento técnico da área que poderá se tornar a nova Unidade de Conservação.