Correio de Carajás

Vídeo de mulher na Geórgia circula como se fosse empresária a caminho de hospedagem em Belém

Política
Publicação na rede social X diz que pessoa estaria mostrando o percurso que teria de fazer até sua acomodação para a COP 30, com preço de R$ 300 mil. Na realidade, o vídeo foi feito na Europa
Diferentemente do que sugere uma publicação no X, o vídeo que mostra uma mulher vestida com blazer preto e sapato de salto alto caminhando por uma área de moradias simples, ruas de terra e vegetação rasteira a caminho de uma hospedagem de R$ 300 mil por semana não foi gravado em Belém, no Pará, cidade que sediará a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em 2025 (COP30).

O Comprova verificou que, na verdade, a gravação foi feita em Tbilisi, capital da Geórgia, na Europa. O conteúdo circula de forma enganosa, ao ser vinculado a críticas sobre os altos preços de hospedagem durante o evento internacional.

Com base em uma das notas da comunidade vinculadas à postagem no X, o Comprova identificou que o vídeo parece ter sido gravado nas proximidades da Fortaleza Narikala, em Tbilisi. No final da peça audiovisual, a construção é avistada ao fundo. Uma pesquisa reversa no Google Lens e buscas no Google Maps resultaram em fotos da construção, indicando que o vídeo seria da cidade europeia, e não de Belém. A assessoria de imprensa da Prefeitura de

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Belém também respondeu ao Comprova que, pela área montanhosa e pela geografia da região exibida, o vídeo não é da capital paraense.

Veja, abaixo, a comparação entre as imagens do vídeo investigado (à direita), e imagens da fortaleza em Tbilisi.

 

O vídeo original foi postado por uma influenciadora no TikTok e já teve mais de 8 milhões de visualizações. A conta dela possui mais de 6 mil seguidores e ultrapassa 1 milhão de curtidas. As imagens foram republicadas também em outras páginas de entretenimento. A legenda da publicação não menciona a localização, mas a Geórgia é citada como possível local do vídeo por usuários do TikTok em comentários. Em um deles, a própria autora do vídeo confirma que as imagens foram feitas na Geórgia.

No X, tuíte que acompanha o vídeo sugere que a mulher seria uma empresária que percorre um caminho em uma região de aparente pobreza para chegar à sua hospedagem de valor exorbitante. O autor da postagem não cita fonte da informação e o conteúdo publicado não possui recursos textuais que identifiquem o local.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

No X, a publicação foi repostada por um perfil com 282 mil seguidores, que se apresenta como uma página de entretenimento. O canal costuma veicular conteúdos de tom humorístico, como sátiras e memes sobre temas variados, incluindo política nacional e internacional.

Nos últimos dias, o perfil tem publicado postagens críticas à realização da COP30 em Belém, especialmente aquelas que questionam a infraestrutura da cidade para sediar o evento. Embora a página publique materiais de humor, não há nenhum indicativo na publicação de que o vídeo da suposta empresária que viria a Belém para a COP 30 seria algum tipo de sátira. O Comprova tentou contato, mas não obteve retorno, já que o perfil bloqueia o recebimento de mensagens.

A peça investigada já acumula 2,5 milhões de visualizações no X, além de 3 mil republicações e 20 mil curtidas. O vídeo, no entanto, foi originalmente publicado no TikTok, na conta pessoal de uma influenciadora.

Uma análise do perfil no TikTok confirma que a mulher exibida é a mesma que aparece no vídeo verificado pelo Comprova. Tanto na descrição da conta quanto na publicação original ela não informa o local da gravação. O Comprova tentou contato com a influenciadora para questionar o contexto em que o vídeo original foi gravado, mas não obteve retorno.

Por que as pessoas podem ter acreditado

 

A publicação exagera e utiliza contraste visual como estratégias principais para persuadir o internauta. Ao mostrar uma mulher caminhando por uma área simples, com ruas de terra e moradias precárias, ela associa essa imagem a um suposto valor de R$ 300 mil por semana para hospedagem durante a COP30. Dessa forma, a postagem causa espanto e revolta ao dar a sensação de disparidade imobiliária ao demonstrar uma contradição entre a precariedade da infraestrutura e os preços praticados no mercado.

A postagem também explora polêmica atual, ao se ancorar nas discussões recentes sobre preços abusivos de hospedagens em Belém, reforçando um cenário negativo já sensível à opinião pública. Essas táticas ampliam o engajamento da publicação, espalhando uma informação que não é verdadeira.

Fontes que consultamos: A partir das informações divulgadas nas notas da comunidade, o Comprova buscou a publicação original no TikTok e comparou as imagens da Fortaleza Narikala que constam no vídeo com as que aparecem no Google Maps por meio de busca reversa. Também houve tentativa de contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Belém.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que os filhos do ministro Luís Roberto Barroso não foram deportados dos Estados Unidos nem estão foragidos em consulado e que o Pix é alvo de investigação comercial do governo norte-americano, mas não pode ser taxado por Donald Trump

Notas da comunidade: Usuários do X adicionaram contexto à publicação, afirmando que o vídeo foi filmado em Tbilisi e que a torre no final da gravação seria a Fortaleza Narikala.

 

Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.