Na encruzilhada entre tradição, minério e empreendedorismo, Ana Suzy Silva Rego conduz uma revolução silenciosa — e altamente tecnológica — no coração do sudeste do Pará. Comunicadora de formação, advogada por vocação e estrategista por natureza, ela é a gerente regional do Sebrae Carajás II, responsável por Parauapebas, Canaã dos Carajás, Curionópolis e Eldorado do Carajás, onde existem mais de 25 mil pequenos negócios.
A missão dela? Fazer a inteligência artificial chegar aonde o Wi-Fi às vezes nem pega direito.
Da roça digital ao algoritmo empreendedor
Leia mais:“Por muito tempo, falar de IA era algo que parecia restrito a grandes empresas. Hoje, nosso desafio é mostrar que ela pode ser simples, acessível e transformadora para o pequeno negócio da Amazônia”, resume Ana Suzi.
E ela fala com propriedade. Sob sua liderança, o Sebrae local impulsionou projetos como o Smart City Canaã, desenvolvido em parceria com a UFPA e a Prefeitura de Canaã dos Carajás. O programa já acelerou mais de 30 startups locais, algumas com soluções inovadoras em mineração, logística, educação e turismo — muitas delas usando IA como motor de criação.
Serra Pelada: do garimpo à realidade aumentada
Se o passado de Serra Pelada é feito de suor, lama e ouro, o futuro que se desenha agora envolve jovens aprendendo automação digital, engenharia de prompt e ferramentas de marketing com IA.
Por meio do programa Futuro Digital, apoiado por fundos internacionais como o “Al Invest Verde”, Ana Suzi e sua equipe estão capacitando adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade para atuarem como agentes de transformação tecnológica. “Já temos jovens auxiliando negócios de idosos da comunidade que não dominam ferramentas digitais. É um ciclo bonito de aprendizado e impacto”, celebra ela.
IA também mora no artesanato
Sim, até o mel de abelha e o artesanato em pedra têm espaço na era dos algoritmos. Através do projeto Origens Carajás, o Sebrae organizou um coletivo com 20 empreendimentos criativos da região — produtores de biojoias, biocosméticos, chocolate artesanal, mel, arte em argila e pedras semipreciosas —, conectando tradição com inovação.
O diferencial? Um catálogo digital bilíngue com acesso por QR Code e WhatsApp, que permite a comercialização direta entre turista e produtor. O material já circula em feiras regionais e ações em shoppings e espaços públicos.
Carajás Summit: o palco da inovação com sotaque do Pará
Para consolidar toda essa transformação, o Sebrae criou o Carajás Summit, que já está na segunda edição. O evento é uma vitrine de experiências com IA, robótica, 3D, realidade aumentada, turismo digital e pitches de startups locais. A edição de 2025, realizada no dia 30 de maio último, em Parauapebas, recebeu mais de 200 participantes entre empreendedores, estudantes e investidores.
“Mostramos que a Amazônia pensa e cria tecnologia com a sua cara. E que o pequeno negócio não só pode, como deve estar nesse jogo”, afirma Ana Suzy.
Uma missão com identidade
O desafio, segundo ela, ainda é cultural: muitos empreendedores não enxergam que já estão usando IA sem saber — seja no catálogo digital criado por uma agência local, seja no uso do ChatGPT para gerar descrições de produtos.
“Nosso papel é mostrar que a IA não vai substituir ninguém. Ela vai otimizar o tempo, ajudar a vender melhor, melhorar o atendimento. É uma ferramenta, não um inimigo.”
E se depender do entusiasmo e da visão de Ana Suzy, a IA vai continuar chegando aos pequenos negócios da Região de Carajás com simplicidade e propósito. É assim que ela sintetiza a importância da ferramenta digital por pequenos produtores: “Tecnologia boa é aquela que cabe na palma da mão e no coração do território.”